Moçambique alarga penas para abate de espécies protegidas
Lusa | ar
23 de novembro de 2016
A Assembleia da República de Moçambique (AR) aprovou, esta quarta-feira (23.11.) na generalidade uma proposta de lei que pune com 12 a 16 anos de prisão o abate de espécies proibidas da fauna e flora.
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A lei, apresentada pelo ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, considera ainda crime a caça com recurso a armas proibidas e armadilhas mecânicas.
Falando no Parlamento, Celso Correia, disse que a lei corrige uma lacuna da Lei de Proteção, Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Biológica de 2014, que deixava de lado pessoas que financiam a caça furtiva e as que são encontradas na posse de peças de espécies da fauna e flora protegidas.
O ministro referiu que, frequentemente, têm sido registados casos de cidadãos moçambicanos envolvidos no abate de espécies protegidas nas áreas de conservação e de estrangeiros que são encontrados em flagrante delito na posse de cornos de rinoceronte, pontas de marfim, dentes e garras de leão, resultantes da caça furtiva.
"A omissão da punição, com pena de prisão aos possuidores ou detentores das espécies protegidas, em parte ou em seu todo, cria condições de favorecimento aos criminosos e perpetuação de abate de espécies protegidas, tornando extremamente difícil a adequada defesa da biodiversidade contra as formas mais perigosas dos crimes ambientais", afirmou Celso Correia.
O instrumento legal hoje aprovado na generalidade inclui a punição de abate de espécies protegidas ao abrigo dos Anexos I e II da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção).
Moçambique é um país assolado pela delapidação de recursos faunísticos e florestais e várias espécies estão em risco de extinção devido à ação dos caçadores furtivos.
Proibida exportação de madeira em bruto de Moçambique
A Assembleia da República (AR) de Moçambique aprovou também esta quarta-feiraho, na generalidade e por unanimidade, uma proposta de lei que proíbe a exportação de madeira em toros de todas as espécies.
Segundo o ministro da Terra, do Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, que apresentou a proposta em nome do Governo, o objetivo da lei é desencorajar a exportação de madeira em bruto e incentivar o surgimento de indústrias que possam transformar a madeira nacional em mobiliário e outros bens acabados.
Celso Correia acrescentou que a proposta de lei altera uma outra de 2010 que instituiu uma sobretaxa para todas as exportações de madeira não processada ou semiprocessada.
"Com esta lei alterada, o Governo pode agora, com o simples recurso a uma caneta, alterar o Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia de 2002, que também permitia a exportação da madeira em toros de espécies preciosas, de segunda, terceira e quarta classes, obtida em regime de licença simples ou de concessão florestal", afirmou o ministro da Terra, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural.
Celso Correia assinalou que nos últimos anos o país tem assistido a um incremento na exportação de madeira em toros, principalmente para a China.
A exportação legal de madeira em toros passou de 22.846 metros cúbicos em 2010, para 148.093 metros cúbicos em 2015.
Governo moçambicano anunciou há um ano uma reforma no setor florestal para conter o desmatamento galopante e que implicava a suspensão de novas licenças, fiscalização de todos os operadores do setor e também a proibição da exportação da madeira em toros.
Na altura, o país mantinha uma taxa de desflorestação de 0,58%, o equivalente a 219 mil hectares anualmente, e era objetivo da reforma uma descida da taxa para 0,2% por ano.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.