Assinala-se esta quinta-feira o Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo. Em Moçambique, os albinos continuam a sentir-se discriminados pela sociedade, são alvos de perseguição e vítimas de rapto.
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Emem diz que, todos os dias, é discriminada por colegas na escola: "Alguns nos olham como se fôssemos um obstáculo na vida deles", afirma a jovem de 14 anos.
A discriminação de que crianças e jovens albinos são alvo deixa marcas para a vida, alertam ativistas dos direitos humanos. A Human Rights Watch (HRW) divulgou esta quinta-feira (13.06) um relatório em que denuncia que, na província central de Tete, por exemplo, "as crianças que vivem com o albinismo […] são amplamente discriminadas, estigmatizadas e frequentemente rejeitadas na escola, na comunidade e, por vezes, pelas suas próprias famílias".
Segundo a organização Amnistia Internacional, mais de 30 mil albinos foram discriminados e marginalizados em Moçambique, em 2018.
Emem diz, no entanto, que há colegas que a apoiam: "quando eu estou com eles, esqueço que sou albina… Esqueço esses problemas e brinco".
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Discriminação e necessidades especiais
As escolas são palco habitual de discriminação contra as pessoas com albinismo. A vendedora Isabel José conta que, quando era mais nova, também enfrentou este problema e chegou a pensar em abandonar as aulas. Mas os irmãos "disseram não, vai para a escola…", convencendo-a a ficar.
Além do problema da discriminação, muitas escolas também não têm material adequado para as crianças e jovens albinos com problemas de visão, segundo a HRW.
"Os estudantes com albinismo que também têm baixa visão não têm acesso a materiais de aprendizagem apropriados, como livros escolares grandes, tempo extra para exames ou lugares junto ao quadro", refere a organização.
Raptos
Outra questão que preocupa os ativistas e as autoridades são os raptos frequentes de albinos. Os responsáveis por esses crimes acreditam que os órgãos das pessoas com albinismo têm poderes mágicos. Em 2015, ano em que houve um maior número de casos, foram registados pelo menos 100 ataques, de acordo com a HRW.
Moçambique: Albinos continuam a ser perseguidos e discriminados
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A organização refere no relatório divulgado esta quinta-feira que "ao tomar medidas para garantir que as crianças com albinismo possam receber educação enquanto continuam investigando e processando os responsáveis pelos ataques, Moçambique tem a oportunidade de demonstrar ainda mais o seu compromisso em garantir a segurança, a inclusão e a dignidade das pessoas com albinismo".
A Associação dos Albinos de Moçambique tem sido uma das organizações a promover campanhas e palestras contra o estigma, os estereótipos e a discriminação.
"Como temos visto na nossa sociedade, os albinos são discriminados na rua, no emprego - quando nasce um albino numa família é visto como se fosse um castigo. São discriminados na rua e no emprego", diz Alda José, membro da associação.
O Governo tem dado ajuda às pessoas com albinismo - por exemplo, para fornecer protetores solares, segundo a Associação dos Albinos de Moçambique.
É um cuidado muito necessário, afirma outro membro da associação, Idina Mussagy: "Há mães que, por necessidade, levam os seus filhos a fazer certos trabalhos, como controlar uma banca. Então, é necessário apelar a essas mães para terem cuidado com a pele."
Feitiço e preconceito: albinos em Moçambique
Em vários países africanos, os albinos sofrem preconceito, são perseguidos por curandeiros, rejeitados pelas famílias e têm dificuldade em encontrar trabalho. Há no entanto ativistas que lutam contra a discriminação.
Foto: Carlos Litulo
Sem preconceitos
Por causa de um distúrbio genético, a pele, os olhos e os cabelos de pessoas com albinismo têm falta de melanina, substância responsável pela pigmentação e pela proteção de raios solares ultravioletas. Na foto, Hilário Jorge Agostinho, o único skatista albino de Moçambique. Agostinho incentiva a integração da população albina para combater os preconceitos e a exclusão social dos albinos no país.
Foto: Carlos Litulo
Pele branca, magia negra
Hilário Jorge Agostinho nas proximidades da Rua da Sé, em Maputo. Em vários países africanos, albinos são perseguidos por curandeiros para realizar rituais com eles. Existem muitas crenças ligadas ao albinismo: por exemplo, a de que manter relações sexuais com albinos cura a SIDA, a de que tomar "poção de albino" traz riqueza, ou a de que o toque de mão de um albino traz má sorte.
Foto: Carlos Litulo
O preço da pele
Na Tanzânia, considerado o país com o maior número de albinos do continente africano, albinos são mortos e desmembrados devido a uma crença de que poções feitas com partes dos corpos dos albinos trazem sorte, fortuna e prosperidade. As partes dos corpos de albinos chegam a valer milhares de dólares. Na foto, o skatista albino Hilário Agostinho faz manobra diante da Catedral de Maputo.
Foto: Carlos Litulo
Luta solidária
A luta dos albinos por reconhecimento e inclusão não é solitária, embora na maior parte das vezes não encontre ouvidos atentos. Em 2008, as Nações Unidas declararam oficialmente os albinos como "pessoas com deficiência", depois de assassinatos massivos de pessoas com albinismo na Tanzânia, vizinha de Moçambique, no Burundi e em outros países do leste africano.
Foto: Carlos Litulo
Estigma
Em Moçambique, entre outros países, crianças ou até mesmo bebés chegariam a ser usados em rituais de magia, especialmente no norte do país, na fronteira com a Tanzânia. Os albinos sofrem preconceito em vários países africanos, têm dificuldade em encontrar trabalho e muitas vezes são rejeitados pelas famílias. Na foto, o músico albino Ali Faque ensaia em seu estúdio em Maputo, em janeiro de 2010.
Foto: Carlos Litulo
Proteção da pele e dos olhos
O músico Ali Faque tem sido o embaixador na luta contra a discriminação da população que sofre de albinismo em Moçambique. Na foto, Ali Faque lê partitura em seu estúdio. Por causa da falta de proteção da pele contra os raios solares, os albinos são mais vulneráveis a problemas nos olhos e ao cancro. Precisam de roupa protetora, óculos escuros e acesso aos raros cremes de proteção solar.
Foto: Carlos Litulo
Sem direitos
Artigo do jornal sul-africano "Mail & Guardian", publicado em setembro de 2012, diz que, apesar de o país ser signatário da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, não haveria reconhecimento dos direitos de albinos neste país da Africa Austral. Em Moçambique, o músico Ali Faque também se empenha pelos direitos dos albinos.
Foto: Carlos Litulo
Mais albinos em África
O albinismo é uma condição que afeta etnias no mundo todo. Mundialmente há um albino em aproximadamente cada 20 mil pessoas. No continente africano, o número dispara para um em cada 4 mil, por ser uma condição hereditária e por mais albinos se relacionarem entre si.
Foto: Carlos Litulo
Vulneráveis
A ONU declarou os albinos "pessoas com deficiência", porque são vulneráveis ao cancro por causa da falta de proteção da pele contra os raios solares. Na Tanzânia, mais de 80 albinos terão morrido em rituais nos últimos anos, várias das pessoas com albinismo terão sido estupradas. O Governo da Tanzânia reconhece os albinos como "minoria ameaçada". Fotos: Carlos Litulo.