Alice Mabota, ex-presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH) de Moçambique, submeteu a candidatura às eleições presidenciais pela Coligação Aliança Democrática (CAD).
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Alice Mabota, que submeteu esta segunda-feira (15.07.) a sua candidatura às eleições presidenciais de 15 e outubro em Moçambique, é a ativista mais conhecida na luta pela promoção dos direitos humanos no país, tendo sido fundadora e primeira presidente da Liga dos Direitos Humanos, por mais de duas décadas. Trata-se da primeira candidatura de uma mulher ao cargo de Presidente da República na história de Moçambique.
As eleições presidenciais contam a partir de agora com cinco candidatos. O atual Presidente da República, Filipe Nyusi, pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, Ossufo Momade, o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido do país, Daviz Simango, e Hélder Mendonça, pelo novo partido extraparlamentar PODEMOS.
Entrevista exclusiva de Alice Mabota à DW África após a entrega da sua candidatura ao Conselho Constitucional (CC).
DW África: Submeteu hoje a sua candidatura à Presidência da República de Moçambique para as eleições do próximo dia 15 de outubro. Qual é a sua pretensão com esta iniciativa?
Alice Mabota (AM): Pretendo abrir um espaço para que, nos próximos cinco anos, o Estado deixe de ser um Estado partidário, mas sim um Estado de moçambicanos em que estes possam concorrer em pé de igualdade, sem interferência dos partidos políticos.
DW África: O país regista nos últimos tempos muitos casos de violação dos direitos humanos. O que pretende fazer se for eleita?
AM: Tem que haver primazia da lei. Primazia da lei significa que as coisas devem funcionar como as leis mandam. Libertar a Justiça de interferências políticas, repor a dignidade do cidadão moçambicano no sentido de que ele está para servir o Estado, humanizando a educação, incentivando a educação, e entrar no combate à corrupção na educação.
DW África: Qual é a "varinha mágica" que vai usar caso seja eleita, para que a corrupção no país diminua ou seja banida?
AM: Fortalecer a sociedade civil para o controlo do Estado. Está a ver, neste momento, o que a sociedade civil forte está a fazer no caso das dívidas ocultas. Mas ela precisa de ser fortalecida com mecanismos legais, valorizando quem não esteja envolvido na corrupção. Hoje, quem não está envolvido na corrupção, não é desejado na função pública. Não é bom funcionário do Estado. O bom funcionário é aquele que prevarica.
Moçambique: Alice Mabota, primeira mulher candidata às presidenciais
DW África: As críticas face à forma como saiu da Liga dos Direitos Humanos (LDH) e as acusações de gestão danosa na Liga não comprometem a sua candidatura?
AM: Podem comprometer, assim como não. Se compararem aquilo que dizem da LDH com aquilo que lhes provei e aquilo que é do Estado, as pessoas têm que avaliar o que é mais grave. Eu saí da LDH depois de terem sido feitas três auditorias: uma da Ernest Young, que não encontrou os problemas que levantam, e duas feitas por entidades internacionais, uma sul-africana e outra norueguesa. Tenho a consciência tranquila de que não foi vertido a meu favor um único tostão, não tenho nada de riqueza que diga esta roubou dinheiro da Liga, pelo contrário a LDH não foi delapidada.
DW África: O seu trabalho ao longo do período em que esteve à frente da LDH é para si uma força motriz para esta candidatura?
AM: Quem deve dar valor ao trabalho que fiz são os próprios cidadãos, quando forem confrontados com esta candidatura. A vontade de mudança será dos próprios cidadãos. É o que me motiva para que avance.
DW África: A questão de ser a única mulher que já submeteu a candidatura à Presidência da República é para si uma mais-valia?
AM: Não é tão mais-valia como parece. A mais-valia é a juventude que compreende. A mulher moçambicana foi muito instrumentalizada pelos políticos.
DW África: Submete a candidatura, numa altura em que estão em discussão os resultados do recenseamento eleitoral, aliados aos números de eleitores de Gaza, onde há denúncia de terem sido recenseados mais de 300 mil eleitores do que esta previsto. Como é que reage a estes números? E como é que a sua coligação (Coligação Aliança Democrática) está preparada para fazer face às eventuais fraudes eleitorais?
AM: O que mais me entristece é que tudo isso acontece aos olhos dos sábios da comunidade internacional e se calam. Não faz sentido que haja uma discussão desses dados até o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) vir a confirmar que, de facto, isso não pode ser. E é vergonhoso que, num Estado como o nosso, tenha lugar esta discussão.
Artigo atualizado às 08:26 (CET) de 16 de julho de 2019.
Edifícios e monumentos históricos de Maputo
Na baixa da capital moçambicana, Maputo, há edifícios históricos ao virar de cada esquina. Quem visita a cidade tem muito para apreciar - desde a Estação Central à Casa de Ferro, desenhada por Gustave Eiffel.
Foto: DW/Romeu da Silva
Desenhada pelo arquiteto da Torre Eiffel
A Casa de Ferro foi construída em 1892. O desenho foi encomendado pelo Governo português ao escritório de Gustave Eiffel, o autor da torre de Paris, especializado em construções metálicas. Foi construída antes de se inventar um sistema de ar condicionado para enfrentar as altas temperaturas em África. A Casa de Ferro destinava-se a ser a sede do governador-geral, mas isso nunca se concretizou.
Foto: DW/Romeu da Silva
O mítico Bazar Central
O Mercado Municipal de Maputo, também chamado de Bazar Central, foi inaugurado em 1901. Aqui vende-se um pouco de tudo: frutas, legumes, especiarias, perfumes, enfeites. O mercado é um ponto turístico bastante visitado em Maputo - mesmo por aqueles que não têm intenções de fazer compras.
Foto: DW/Romeu da Silva
Fortaleza à beira-mar
A Fortaleza de Maputo fica em frente à Baía de Maputo. No local, consta que foi construída no séc. XVIII, num período de rivalidades entre os países europeus que disputavam a "Baía D'Lagoa", uma importante rota comercial para os países do hinterland, sem acesso ao mar. Antes chamava-se Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição.
Foto: DW/Romeu da Silva
Paragem obrigatória: Museu da Moeda
O Museu da Moeda, na Praça 25 de Junho, retrata a história do mercado monetário moçambicano. É uma paragem obrigatória, que fica numa zona com muitas outras atrações turísticas. Construída em 1787, a Casa Amarela, como também é chamada, foi das primeiras edificações convencionais a existirem em Lourenço Marques, hoje Maputo. O edifício é conservado pela Universidade Eduardo Mondlane.
Foto: DW/Romeu da Silva
Museu de História Natural
Tutelado pela Universidade Eduardo Mondlane, o Museu de História Natural exibe vários animais embalsamados: mamíferos, aves, insetos e répteis. Foi em 1911 que se deram os primeiros passos para a criação do atual museu, com a exposição de exemplares marinhos, minerais, madeiras e produtos agrícolas na antiga Escola Comercial e Industrial 5 de Outubro.
Foto: DW/Romeu da Silva
Das mais belas estações do mundo
A Estação Central fica na baixa da capital moçambicana, Maputo. Começou a ser construída em 1908 e foi concluída dois anos depois. A partir desta estação, antes chamada Estação dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, nasceram vários corredores ferroviários nacionais e internacionais. Em 2009, a revista norte-americana Newsweek classificou-a como a sétima mais bela do mundo. Foto de arquivo.
Foto: picture-alliance / dpa
Conselho Municipal de Maputo
O edifício do Conselho Municipal de Maputo é um imóvel de inspiração clássica inaugurado em dezembro de 1947 para ser a sede da Câmara Municipal de Lourenço Marques. Hoje, é a casa do órgão executivo da cidade de Maputo, constituído por um presidente eleito pelos residentes na capital e por quinze vereadores designados por ele.
Foto: DW/Romeu da Silva
Monumento aos Mortos da I Guerra Mundial
Este monumento foi inaugurado em 1935 para prestar homenagem aos portugueses e moçambicanos mortos na Primeira Guerra Mundial. Lembre-se que Moçambique foi afetado pelo conflito, uma vez que militares alemães estabelecidos na colónia de Tanganica atacaram guarnições militares portuguesas no norte de Moçambique, substituindo-as pela sua guarnição.
Foto: DW/Romeu da Silva
Catedral emblemática
A catedral metropolitana de Nossa Senhora da Conceição é um edifício emblemático de Maputo, projetado em 1936 pelo engenheiro Marcial Freitas e Costa e inaugurado em 1944, como consta no local. Fica na Praça da Independência e tem uma torre com 61 metros de altura. É a sede da Igreja Católica em Maputo, onde dirigentes e classe média da capital vão aos domingos à missa.
Foto: DW/Romeu da Silva
Igreja da Polana
A igreja de Santo António da Polana é igualmente um edifício emblemático, de estilo moderno, em forma de flor invertida. Foi construída em 1962. O arquiteto foi Nuno Craveiro Lopes, filho do Presidente português Francisco Craveiro Lopes (1951-1958), no auge do fascismo liderado por António Oliveira Salazar.
Foto: DW/Romeu da Silva
Vila ao abandono
Vila Algarve, na zona nobre da capital, no bairro da Polana, é um edifício elegante, decorado com azulejos. Foi construído em 1934 e ampliado em 1950. Sede da PIDE em Moçambique, a Vila Algarve testemunhou muitas cenas de tortura perpetradas pela polícia portuguesa contra cidadãos que desobedecessem às ordens do regime fascista. O edifício está ao abandono e alberga sem-abrigo.
Foto: DW/Romeu da Silva
Prédio Pott em ruínas
O proprietário deste prédio era Gerard Pott, um emigrante holandês e pai de Karel Pott, um dos primeiros jornalistas e advogados moçambicano a contestar a discriminação racial no início do século XX. Em 1990, um incêndio destruiu quase por completo o prédio, que também alberga agora sem-abrigo, à semelhança da Vila Algarve.
Foto: DW/Romeu da Silva
Açucareira de Xinavane
A cerca de 140 quilómetros da capital, mas ainda na província de Maputo, investidores ingleses fundaram, em 1914, esta fábrica de açúcar. Este é dos mais históricos edifícios na zona rural de Maputo e ainda conserva a mesma arquitetura. Nos anos 50, passou para as mãos de portugueses e hoje é propriedade da empresa sul-africana Tongaat Hulett.