Alunos do Superior exigem alternativas após fecho de escolas
Bernardo Jequete (Manica)
25 de julho de 2019
Em janeiro, 12 instituições de ensino superior foram encerradas em Moçambique, por falta de alvará. Alunos continuam à espera de uma solução.
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O Ministério moçambicano da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional (MCTESTP) interditou em janeiro o funcionamento de 12 instituições de ensino superior, por falta de alvará. Mas os estudantes continuam à espera de soluções, depois de serem obrigados a deixar os estudos por causa do encerramento das escolas.
Uma das unidades que teve de fechar foi a Escola Superior de Economia e Gestão (ESEG) em Manica, que funcionava sem autorização do MCTESTP. Os alunos queixam-se que não foram enquadrados em nenhuma outra escola ou instituto superior.
Se mudassem de instituição, perderiam as cadeiras já feitas, conta Odete Manuel, estudante do 3º ano de Contabilidade e Auditoria.
"Fomos a uma outra escola e queriam que fizéssemos o 1º ano, enquanto nós já estávamos no terceiro ano. No meu caso, vou ter de aguardar até que o Ministério tome nova decisão", diz em entrevista à DW África.
"Estamos bem aflitos, pois este é um retrocesso. Nós, estudantes, ficámos bastante lesados", reclama.
Dinheiro perdido?
Manuel Francisco, estudante do 4º ano de Contabilidade e Auditoria, faz agora contas ao dinheiro que perdeu: "São recursos monetários que foram despendidos, que foram para nada. Não conseguimos recuperar nada e, como estudantes, saímos a perder", afirma. "Não temos como recuperar o valor que perdemos, temos que voltar atrás, a outras faculdades, e fazer cadeiras atrasadas. Temos custos em termos de dinheiro e esforço psicológico".
O ministro da tutela, Jorge Nhambiu, frisa, no entanto, que a interdição das 12 unidades académicas se deveu a inspeções efetuadas por equipas do MCTESTP, em que se provou que as instituições "não tinham condições para funcionar".
"As instituições, para funcionarem, têm por força de lei de ter as condições mínimas", referiu o ministro.
As 12 escolas de Ensino Superior interditadas no país foram a de Economia e Gestão, a Politécnica, Gestão de Negócios e Instituto Monitor, na província de Gaza, Mussa Bin Bique e Instituto Monitor, em Inhambane, Ciência e Gestão, em Sofala, Economia e Gestão, em Manica, Gestão, Comércio e Finanças, em Tete, Mussa Bin Bique, na Zambézia, Instituto Monitor, em Nampula, e Instituto Superior Monitor, em Cabo Delgado.
Alunos do Superior exigem alternativas após fecho de escolas
ESEG em Manica promete mudanças
Victor Manuel Fernandes, delegado da ESEG em Manica, uma das instituições sancionadas, assegura que estão a ser envidados esforços para terminar infraestruturas próprias para a obtenção do alvará de funcionamento.
"Nós estamos a construir as nossas instalações e já estão num passo muito adiantado. As obras ainda não acabaram, mas, assim que tivermos o mínimo de requisitos exigidos pela lei, teremos de solicitar uma nova vistoria", adiantou.
"O nosso desejo é que possamos iniciar o nosso ano letivo já no próximo semestre. Estamos a trabalhar neste sentido. Se tudo correr bem, conforme está previsto, acreditamos que será possível", acrescentou Victor Manuel Fernandes.
As areias de Inhambane: do artesanato à construção de casas
As areias do rio Mutamba são fundamentais para a subsistência de muitas famílias em Inhambane. As areias têm vários usos como o fabrico de tijolos ou vasos, mas esta exploração tem consequências ambientais e sociais.
Foto: DW/L. da Conceição
Tudo começa aqui
O rio Mutamba, em Inhambane, é rico em areias escuras, que são aproveitadas para fabricar tijolos e outros produtos. Devido à crise e à falta de alternativas, centenas de habitantes da região têm encontrado aqui uma fonte de sobrevivência. Há também cada vez mais menores a trabalhar neste setor, que estão sujeitos a muitos perigos, como picadas de cobra.
Foto: DW/L. da Conceição
Perigos ambientais
Muitas famílias têm recorrido ao rio Mutamba para conseguirem obter areia e vender nos estaleiros. Já se notam os efeitos da destruição da natureza, com buracos nas margens do rio. Getrudes Namburete, do Centro Terra Viva, é contra a atividade. E foi proibida a exploração sazonal há quatro anos - só quem tem licença pode explorar. Mas o problema continua e não há fiscalização neste setor.
Foto: DW/L. da Conceição
Estaleiros
As areias extraídas do rio Mutamba são vendidas num estaleiro local. Um carro pequeno de caixa aberta carregado com areia custa 275 meticais, cerca de 4 euros. A exploração é feita mediante o pagamento de uma taxa anual de 1200 meticais (18 euros) na Direção Provincial dos Recursos Minerais e Energia.
Foto: DW/L. da Conceição
O tijolo mais procurado
Os tijolos de Mutamba são os mais procurados pelas pessoas que querem construir residências. Os proprietários das estâncias turísticas da região também compram estes tijolos para construírem algumas infraestruturas. Quem não consegue comprar blocos nos estaleiros vive habitualmente em casas feitas com material precário. O preço de cada tijolo de Mutamba custa em média sete meticais (0,10 euros).
Foto: DW/L. da Conceição
Negócio de família
José Vilankulo é natural do distrito de Jangamo. Ele e a mulher dedicam-se ao fabrico de tijolos para a construção de casas. Aprenderam a arte de fazer tijolos com familiares. Vilankulo conta que o negócio costumava ser rentável, mas nos últimos três anos tem havido menos clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
O forno tradicional
É possível fazer centenas de tijolos nestes fornos tradicionais. Nem todos têm fornos próprios. Por isso, muitas pessoas usam os fornos tradicionais de terceiros, a troco de dinheiro. Os custos eram elevados, mas os preços diminuíram com a crise económica dos últimos anos.
Foto: DW/L. da Conceição
Desde 2000 a fazer tijolos na região
Benjamim Samissone vive na região há mais de 18 anos. Faz tijolos e queima. Vende a nível local e possui um forno próprio, já em fase de degradação. Arrenda também o forno a pessoas que querem queimar os seus tijolos. Por mês, produz em média cerca de 600 tijolos - atualmente emprega três trabalhadores sazonais.
Foto: DW/L. da Conceição
"Deixei de estudar"
Há dois tipos de trabalhadores, os sazonais e os contratados. Os sazonais recebem 1,5 meticais por tijolo (2 cêntimos de euro). Os contratados têm um salário de 2 mil meticais por mês (30 euros). Armando Augusto, 20 anos, natural de Cumbana, é um trabalhador sazonal e está no setor há dois anos. Deixou o ensino no 8º ano do secundário, quando perdeu os pais. Aqui há muitos jovens como ele.
Foto: DW/L. da Conceição
Problemas de transporte
Esta é uma carroça que costuma ser usada para transportar tijolos. Há poucos fornos na região e os tijolos têm de ser levados de um lado para o outro. Este é um dos meios de transporte usados para pequenas distâncias.
Foto: DW/L. da Conceição
Construção de muros
Devido ao custo elevado do saco de cimento, muitas famílias têm recorrido aos tijolos de Mutamba para construírem muros nos seus quintais, embora também saia caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Vasos de Mutamba
A areia de Mutamba também é usada na produção de vasos. É um produto muito concorrido a nível nacional, seja por particulares ou por grandes hotéis. Cada vaso chega a custar 1500 meticais (22 euros).