Moçambique analisa casos de xenofobia na África do Sul
Thuso Khumalo | Lusa | tms
5 de abril de 2019
Autoridades moçambicanas vão verificar as causas do despedimento de moçambicanos em uma mina na África do Sul. Também as motivações dos últimos ataques contra estrangeiros. Governo sul-africano nega xenofobia.
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O Conselho Nacional de Defesa e Segurança de Moçambique recomendou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação acompanhe os casos de despedimentos e xenofobia contra moçambicanos na África do Sul.
"O CNDS recomendou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação que acompanhasse as reais causas do despedimento massivo de centenas de moçambicanos trabalhadores de uma mina na África do Sul, bem como as manifestações de cariz xenófobas contra os cidadãos nacionais", lê-se num comunicado da Presidência da República divulgado na noite de quinta-feira (04.05).
A informação foi divulgada no final de uma reunião daquele organismo presidido pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, sem mais detalhes.
Violência
A África do Sul esta semana viu-se obrigada a convocar uma reunião de embaixadores africanos e altos comissários depois de mais uma onda de violência xenófoba ter surgido na província de Durban e Limpopo.
Em Durban, moradores locais atacaram cidadãos do Malawi em três bairros, depois que quatro deles foram acusados de roubar um residente local. Até 100 malawianos buscaram refúgio em uma delegacia de polícia local.
Alguns dias depois, sete camiões foram incendiados em Durban depois que os moradores locais protestaram contra o emprego de motoristas estrangeiros. Na mesma altura, várias casas e um veículo foram queimados na província do Limpopo. Eles pertenciam a zimbabueanos que foram acusados de cometer atos criminosos.
O Governo sul-africano não aceita que estes sejam ataques xenófobos. Lindiwe Sisulu, Ministro de Relações Internacionais e Cooperação, atribuiu os ataque à criminalidade.
Organizações apontam xenofobia
Esses comentários começaram um debate acalorado, com estrangeiros no país a acusar a África do Sul de negar a xenofobia. Emeka Ugwu é a secretária do bem-estar de todos os nacionais nigerianos na diáspora afirma que a maioria destes ataques são sempre perpetrados contra estrangeiros de origem africana.
Dewa Mavhinga, diretor da Human Rights Watch na África Austral, diz que a negação da existência de xenofobia só irá frustrar os esforços para erradicar o problema. "O facto comum [nestes ataques] é que o alvo são cidadãos estrangeiros e está acordado no plano de ação nacional da África do Sul que a xenofobia é a hostilidade das atitudes e ações em relação a estrangeiros".
Em 2008, ataques xenófobos fizeram pelo menos 60 mortos na África do Sul. E desde 2014, ataques em diferentes partes do país tornaram-se uma ocorrência regular.
Soweto: a profunda transformação de uma cidade
Soweto era apenas um símbolo do apartheid, mas hoje é considerada um exemplo do vibrante urbanismo sul-africano. 40 anos depois da violenta revolta na "cidade-dormitório" Soweto transformou-se numa atração turística.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Futebol e liberdade
"Soccer City"- hoje denominado "FNB Stadium" - é considerado o "coração do futebol sul-africano". O gigantesco complexo desportivo foi construido para o mundial de 2010, mas antes já existia aqui um estádio. Foi precisamente aqui que, em 1990, milhares de sul-africanos aplaudiram a libertação de Nelson Mandela da prisão. Em 2013 teve lugar aqui o funeral do primeiro presidente pós-apartheid.
Foto: picture-alliance/Zuma Press
A casa de um herói
Em Soweto vivia a classe trabalhadora, assim como muitos ativistas anti-apartheid, incluindo o próprio Nelson Mandela, que morou num dos apartamentos construidos pelo governo para os operários negros. Estas casas eram conhecidas por "matchbox houses" - caixas de fósforos - devido ao seu reduzido tamanho. "Foi a minha primeira casa e eu orgulhava-me dela", escreveu Mandela na sua autobiografia.
Foto: Getty Images/C. Furlong
Da sala de aulas diretamente para a luta!
As históricas revoltas do Soweto surgiram praticamente nas escolas da cidade. Em 1976 milhares de estudantes e alunos iniciaram os seus protestos contra o ensino obrigatório de Afrikaans, a língua oficial do regime de apartheid. A revolta estudantil do Soweto constitui um marco importante no declínio e derrube do sistema de apartheid.
Foto: AFP/AFP/GettyImages
Enorme centro comercial
"Maponya Mall" é um dos maiores centros comerciais da África do Sul. Esta megaloja foi inaugurada em 2007 por Mandela. Os promotores do projeto prometiam a criação de muitos postos de trabalho e conseguiram mesmo. Mas muitos pequenos comerciantes também se queixaram da concorrência. Richard Maponya, um dos primeiros milionários negros da África do Sul e promotor do projeto, mora também em Soweto.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Fúria e violência
Milhares de estudantes negros invadiram as ruas de Soweto: foi o tiro de partida para a luta contra o regime de segregação racial, o início da longa marcha contra o apartheid na África do Sul. No dia 16 de junho de 1976 cerca de 176 jovens foram mortos pelas forças de segurança que dispararam sobre os manifestantes que recusavam abandonar os protestos.
Foto: AFP/Getty Images
o "glamour" de uma central elétrica
As torres "Orlando Towers", que faziam parte de uma central elétrica a carvão, encontram-se agora cobertas de desenhos alusivos à cultura dos "townships". A central fora construida nos anos 30 para fornecer eletricidade aos bairros brancos e ao centro da cidade de Joanesburgo. Enquanto isso o papel dos negros era trabalhar nas minas de carvão que forneciam o combustível para a central.
Foto: picture-alliance/WILDLIFE/M. Harvey
Cultura e cor
O primeiro teatro do Soweto abriu em 2012. O edifício é de uma arquitetura extrovertida e o seu programa não é menos arrojado. Quem assiste às peças aqui apresentadas consegue obter uma boa impressão de como a cidade e a sociedade mudaram nos últimos decénios. O teatro foi construindo com dinheiros públicos.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Imagens que perduram
Entre os primeiros a perderem a vida durante as revoltas de 1976 estava o jovem Hector Pieterson, de 13 anos, que foi abatido por uma bala policial. A fotografia de um jovem local a carregar o corpo de Hector foi publicada, no dia seguinte, por inúmeros jornais, um pouco por todo o mundo. E assim aumentou a sensibilidade, um pouco por todos os países, perante as atrocidades do sistema racista.
Foto: Imago/imagebroker
A estrada mais célebre da África do Sul
A única estrada do mundo que chegou a albergar dois prémios Nobel: Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu chegaram ambos a morar na Vilakazi Street, em Soweto. Hoje esta rua é uma importante atração turística na África do Sul. Mais de 700mil turistas visitam anualmente as "South Western Townships".
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
A luta continua
Muito dinheiro foi investido na transformação do Soweto e a transformação é bem visível: de um gueto para um bairro da moda e atração turística! Mesmo assim muitos habitantes sentem-se desiludidos: a pobreza teima em persistir. A educação continua deficitária. Muitos dizem que a luta está longe de estar acabaca e que há um longo caminho ainda para percorrer.