Moçambique: Apoio aéreo do DAG termina na sexta-feira
Lusa
31 de março de 2021
O presidente do grupo militar privado sul-africano Dyck Advisory Group (DAG) disse que vai deixar de dar apoio aéreo às Forças Armadas moçambicanas na próxima semana, quando terminar o contrato de um ano.
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Em declarações à agência de informação financeira Bloomberg, o presidente do grupo militar privado sul-africano Dyck Advisory Group (DAG), Lionel Dyck, explicou que o contrato com Moçambique termina na sexta-feira e que, sem a assinatura de um novo contrato, o apoio aéreo das pequenas aeronaves militarmente equipadas aos soldados que combatem a insurgência no norte do país terminará.
"Isso pode deixar as tropas expostas durante as operações de busca porta a porta para encontrar insurgentes em Palma", a cidade mais próxima do local onde a petrolífera Total está a preparar as instalações necessárias para a exploração e exportação de gás natural de Moçambique.
"A investigação às casas é a forma mais perigosa de combate, e ajuda mesmo muito se houver apoio aéreo para isso, e esse apoio tem de ser feito com pequenos helicópteros como os meus, que são rápidos e podem baixar-se e virar rapidamente", disse o dirigente do grupo privado militar.
Nas declarações à Bloomberg, Lione Dyck explicou que a instalação da Total não está em risco de sofrer um ataque direto, mas alertou que a utilização de morteiros por parte dos terroristas permite fazer ataques à distância.
"Os insurgentes já estariam em Pemba" sem o envolvimento da empresa, disse Lionel Dyck, acrescentando: "Há um ano, Pemba estava em risco, agora já não está, mas se nós sairmos e não houver um esforço real para proteger a cidade, isso será um problema".
Amnistia pede investigação
A organização Amnistia Internacional (AI) apelou na terça-feira a uma "investigação oficial" que permita perceber o que se passou nos últimos três anos no norte de Moçambique, e que sejam "responsabilizados" os autores dos abusos aos direitos humanos aí cometidos.
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"Até agora, todos os atores [Forças Armadas moçambicanas, grupos insurgentes e empresas de segurança ou paramilitares privadas] têm agido com total impunidade, mesmo antes [dos ataque à vila de Palma]", afirmou Pedro Neto, diretor executivo da AI em Portugal, em declarações à Lusa.
Antes dos recentes ataques, a AI divulgou um relatório -- "O que Vi foi a Morte: Crimes de guerra no 'Cabo Esquecido'" - em que afirma que centenas de civis foram mortos em Moçambique pelo grupo armado 'jihadista' conhecido localmente como 'Al-Shabaab', pelas forças de segurança governamentais e por uma empresa militar privada contratada pelo Governo.
A organização refere-se ao DAG, uma empresa paramilitar privada sul-africana, que mais de meia centena de testemunhas garantem ter "disparado metralhadoras a partir de helicópteros, lançado granadas de mão contra multidões e disparado também repetidamente contra infraestruturas civis, incluindo hospitais, escolas e habitações".
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater os insurgentes no norte do país mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.