Moçambique: Arranca II congresso do MDM em Nampula
Lusa | gs
5 de dezembro de 2017
Cerca de 1.500 pessoas, entre delegados e convidados nacionais e estrangeiros, são esperadas no congresso da terceira força política de Moçambique, que se realiza entre terça (05.12) e sexta-feira (08.12).
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A cidade de Nampula, no norte de Moçambique, além de acolher o II congresso é palco da cena mais negra, até agora, da história do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
O momento de instabilidade interna começou quando o autarca de Nampula, Mahamudo Amurane, também ele do MDM, acusou publicamente o presidente do partido, Daviz Simango, de ditador e corrupto.
Na sequência da morte, Manuel Tocova, do MDM, assumiu, em outubro, a presidência de Nampula por inerência da função de presidente da assembleia municipal.
Mas, Tocova foi condenado pela justiça a três meses de prisão com pena suspensa por desobediência, por ter feito exonerações consideradas ilegais na qualidade de presidente interino. Manuel Tocova foi depois detido por posse ilegal de armas, acabando por renunciar ao cargo.
Neste II congresso, o partido vai eleger novos órgãos, incluindo o presidente da organização. "De acordo com os nossos estatutos, o congresso, além de eleger os órgãos do partido, também elege o presidente do partido e as candidaturas são anunciadas logo na abertura", afirmou, na semana passada, o chefe da bancada do MDM na Assembleia da República Lutero Simango.
Em consequência de uma cisão com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o MDM foi criado em 2009.
Nas eleições gerais (presidenciais e legislativas) desse ano, o MDM conseguiu eleger oito deputados à Assembleia da República, apesar de ter sido impedido de concorrer em oito dos 11 círculos eleitorais do país, devido a irregularidades na candidatura. Nas eleições gerais de 2014, o MDM alargou o seu espaço para 17 assentos parlamentares.
Além de ter conquistado o poder no município da Beira, a segunda maior cidade do país, com Daviz Simango, o MDM conseguiu depois eleger autarcas na cidade de Nampula, terceira maior cidade, e Quelimane, quarta maior cidade, e no município de Gurué.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.