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Moçambique: As estrelas da oposição ofuscam Momade?

Delfim Anacleto
18 de novembro de 2023

Algumas vozes defendem que as manifestações de rua da RENAMO são uma montra para mostrar os novos protagonistas dentro do maior partido da oposição. Terão eles capacidade para ofuscar a imagem do líder Ossufo Momade?

Manuel de Araújo e Venâncio Mondlane num protesto pacífico em meados de outubro em MaputoFoto: Amos Fernando/DW

A RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, realizou vários protestos nas ruas do país a contestar os resultados das sextas eleições autárquicas. Há quem entenda que os protestos projetaram novas figuras no seio do partido, que estão a ganhar popularidade em Moçambique.

O comentador político Gil Aníbal considera que as marchas nas principais cidades do país são a projeção de uma RENAMO que pretende renovar a sua liderança.

"A RENAMO neste momento está em conflito interno sobre a liderança do partido. Daí que o Manuel de Araújo, o Venâncio [Mondlane], Raul Novinte, [Paulo] Vahanle, o [André] Magibire e mais outros quadros internos do partido RENAMO podem estar em frente destas manifestações como uma forma de usar a base que é a juventude que se manifesta pelas ruas para transmitir uma mensagem ao líder Ossufo Momade, de que ele não tem poderes para continuar na liderança do partido e daí forçar uma mudança ou queda do líder no próximo Conselho Nacional que possa acontecer", comentou.

Marchas contra os resultados eleitorais têm pautado as ruas de Moçambique desde meados de outubroFoto: R. da Silva/DW

Desafio interno

Mas o professor universitário, Sérgio Chichava tem um outro entendimento. "As marchas não fazem parte de um cálculo com esse propósito de atingir a presidência da RENAMO. Penso que faz parte da pretensão de contestar os resultados eleitorais, mostrar a indignação e procurar a solução para estes resultados que, ao que tudo indica, não foram transparentes", considerou.

Num contexto em que Moçambique se prepara para acolher as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais em 2024, Chichava anota, entretanto, que o maior partido da oposição enfrenta neste momento um dos maiores desafios.

"Num contexto em que também a FRELIMO não vai querer largar o poder, a RENAMO teria que se preparar muito bem, teria que ver se continua a apostar em Ossufo Momade que não é muito credível na opinião pública porque as pessoas acham que a RENAMO devia ter um outro candidato", referiu.

Ossufo Momade, atual líder da RENAMOFoto: Amos Fernando/DW

Contra-propaganda

A DW África ouviu o político Venâncio Mondlane, deputado da RENAMO e cabeça de lista deste partido para a autarquia de Maputo, que considera a associação das marchas por si lideradas a uma suposta pretensão de destaque como uma obra do partido no poder, a FRELIMO.

"Essa é uma tese feita à medida para pura e simplesmente criar uma contra-informação e, como se diz no provérbio, tentar dividir para reinar. Essa expressão é uma tática de comunicação e propaganda do partido FRELIMO. É só ver quem apresenta em público isso, são todos elementos do grupo subversivo da propaganda da FRELIMO para a comunicação social", opinou.

Manuel de Araújo, outro dos nomes apontados nessa suposta busca de protagonismo, com intuito de chegar à liderança da RENAMO, desvaloriza as alegações e considera os que veiculam a narrativa como vozes antidemocráticas.

Sérgio Chichava, professor universitárioFoto: privat

O atual edil da cidade de Quelimane e cabeça-de-lista que concorreu à própria sucessão entende que, em contexto democrático, os membros de partidos políticos são livres de aspirar ao crescimento.   

"Ambições políticas é um crime? Eu conheço o estatuto do meu partido. Em partidos democráticos, qualquer membro tem direitos e deveres e um dos direitos é poder ser eleito, poder concorrer para os órgãos da direção do partido", asseverou.

Será que as marchas de importantes elementos da RENAMO estariam a ofuscar o presidente Ossufo Momade? O professor universitário, Sérgio Chichava considera que não. "É um facto que Ossufo Momade é menos conhecido do que estas figuras, mas não é por causa das marchas. É que estas figuras muito antes das marchas sempre estiveram bastante ativas e em contacto com o eleitorado, com os média. Portanto, sempre souberam expor-se e expor as suas posições políticas. Isso é normal na política e é assim que um político ambicioso deve ser", concluiu.

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