Membro da polícia comunitária é acusado de ter assassinado um simpatizante da RENAMO na província moçambicana de Inhambane. A polícia diz que está à procura do autor do crime.
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Moisés Pedro Muabsa, jovem de 33 anos de idade e membro do partido da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) foi assassinado no passado dia 7 de outubro, no povoado de Pambara, distrito de Vilankulo, em Inhambane.
António Chulu, uma das testemunhas presentes no local do crime, disse à DW África que Moisés Pedro Muabsa foi esfaqueado na calada da noite por um agente da polícia comunitária, que está agora em fuga.
"Mas quem esfaqueou foi um membro do policiamento comunitário. Este, fugiu logo que fez aquilo.... desapareceu. Acho que já tinha instruções para fugir”, disse Chulu.
Ameaças de desconhecidosJosé Manteigas, porta-voz nacional do partido RENAMO, revelou que dois dias antes de ser assassinado, Moisés Pedro Muabsa foi ameaçado por desconhecidos que exigiram que este se filiasse ao partido no poder ( FRELIMO) e retirasse a bandeira da RENAMO da sua residência.
"Porque antes houve um precedente depessoas que foram a casa desse malogrado e obrigaram-no a retirar a bandeira da sua casa o que é um ato condenável a todos os títulos. Muabsa sofreu várias ameaças porque estava a fazer trabalho para a RENAMO e passado dois dias ele foi assassinado”, afirmou Manteigas.
Entretanto, faltando poucos dias para o fim da campanha eleitoral em Moçambique nota-se uma crescente onda de intimidações, destruição de residências e mortes.
Clima de medo
José Manteigas, da RENAMO, acrescenta que se vive um clima de medo no seio da sociedade e acusa os autores destes crimes como sendo destruidores do sistema democrático que o país vive."Estamos a assistir assassinatos gratuitos de pessoas inocentes. Isto nos preocupa e queremos repudiar esses atos , principalmente quando se trata de um membro do nosso partido. Foi ssassinado apenas porque tinha uma bandeira na sua casa e era um militante ativo do partido RENAMO. Falta muita tolerância politica da parte do regime”.
À DW, Juma Aly Dauto, porta-voz do comando provincial em Inhambane, disse que o alegado autor do crime não tem nenhum vínculo à corporação, mas que a polícia está a fazer diligência para que ele seja neutralizado de modo a poder ser responsabilizado na justiça pelo homicídio voluntário.
"Ele não tem nenhum vínculo com a policia da República de Moçambique. A policia neste momento está a diligenciar junto a família para localizar este individuo que esté em parte incerta e julgamos que dentro em breve vamos capturá-lo e responsabilizá-lo por este crime de homicídio voluntário qualificado”.
Moçambique: Assassinado secretário da RENAMO em Vilankulos
As areias de Inhambane: do artesanato à construção de casas
As areias do rio Mutamba são fundamentais para a subsistência de muitas famílias em Inhambane. As areias têm vários usos como o fabrico de tijolos ou vasos, mas esta exploração tem consequências ambientais e sociais.
Foto: DW/L. da Conceição
Tudo começa aqui
O rio Mutamba, em Inhambane, é rico em areias escuras, que são aproveitadas para fabricar tijolos e outros produtos. Devido à crise e à falta de alternativas, centenas de habitantes da região têm encontrado aqui uma fonte de sobrevivência. Há também cada vez mais menores a trabalhar neste setor, que estão sujeitos a muitos perigos, como picadas de cobra.
Foto: DW/L. da Conceição
Perigos ambientais
Muitas famílias têm recorrido ao rio Mutamba para conseguirem obter areia e vender nos estaleiros. Já se notam os efeitos da destruição da natureza, com buracos nas margens do rio. Getrudes Namburete, do Centro Terra Viva, é contra a atividade. E foi proibida a exploração sazonal há quatro anos - só quem tem licença pode explorar. Mas o problema continua e não há fiscalização neste setor.
Foto: DW/L. da Conceição
Estaleiros
As areias extraídas do rio Mutamba são vendidas num estaleiro local. Um carro pequeno de caixa aberta carregado com areia custa 275 meticais, cerca de 4 euros. A exploração é feita mediante o pagamento de uma taxa anual de 1200 meticais (18 euros) na Direção Provincial dos Recursos Minerais e Energia.
Foto: DW/L. da Conceição
O tijolo mais procurado
Os tijolos de Mutamba são os mais procurados pelas pessoas que querem construir residências. Os proprietários das estâncias turísticas da região também compram estes tijolos para construírem algumas infraestruturas. Quem não consegue comprar blocos nos estaleiros vive habitualmente em casas feitas com material precário. O preço de cada tijolo de Mutamba custa em média sete meticais (0,10 euros).
Foto: DW/L. da Conceição
Negócio de família
José Vilankulo é natural do distrito de Jangamo. Ele e a mulher dedicam-se ao fabrico de tijolos para a construção de casas. Aprenderam a arte de fazer tijolos com familiares. Vilankulo conta que o negócio costumava ser rentável, mas nos últimos três anos tem havido menos clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
O forno tradicional
É possível fazer centenas de tijolos nestes fornos tradicionais. Nem todos têm fornos próprios. Por isso, muitas pessoas usam os fornos tradicionais de terceiros, a troco de dinheiro. Os custos eram elevados, mas os preços diminuíram com a crise económica dos últimos anos.
Foto: DW/L. da Conceição
Desde 2000 a fazer tijolos na região
Benjamim Samissone vive na região há mais de 18 anos. Faz tijolos e queima. Vende a nível local e possui um forno próprio, já em fase de degradação. Arrenda também o forno a pessoas que querem queimar os seus tijolos. Por mês, produz em média cerca de 600 tijolos - atualmente emprega três trabalhadores sazonais.
Foto: DW/L. da Conceição
"Deixei de estudar"
Há dois tipos de trabalhadores, os sazonais e os contratados. Os sazonais recebem 1,5 meticais por tijolo (2 cêntimos de euro). Os contratados têm um salário de 2 mil meticais por mês (30 euros). Armando Augusto, 20 anos, natural de Cumbana, é um trabalhador sazonal e está no setor há dois anos. Deixou o ensino no 8º ano do secundário, quando perdeu os pais. Aqui há muitos jovens como ele.
Foto: DW/L. da Conceição
Problemas de transporte
Esta é uma carroça que costuma ser usada para transportar tijolos. Há poucos fornos na região e os tijolos têm de ser levados de um lado para o outro. Este é um dos meios de transporte usados para pequenas distâncias.
Foto: DW/L. da Conceição
Construção de muros
Devido ao custo elevado do saco de cimento, muitas famílias têm recorrido aos tijolos de Mutamba para construírem muros nos seus quintais, embora também saia caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Vasos de Mutamba
A areia de Mutamba também é usada na produção de vasos. É um produto muito concorrido a nível nacional, seja por particulares ou por grandes hotéis. Cada vaso chega a custar 1500 meticais (22 euros).