A morte de um rapaz albino, na província moçambicana da Zambézia, está a preocupar populares e Polícia. O rapaz, de 11 anos de idade, foi encontrado pelas autoridades no fim de semana, após um alerta da população.
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Polícia, ativistas dos direitos humanos e professores mostram a sua preocupação pelo recente assassinato de um jovem albino na região fronteiriça com o Malawi. Dois suspeitos foram detidos e os residentes temem que haja mais casos do género, depois de meses sem notícias de sequestros ou assassinatos de albinos.
Jovem sequestrado em casa
O menino foi sequestrado quando se encontrava em casa com os pais, no distrito de Milange, junto à fronteira com o Malawi. Foi depois assassinado e, para Miguel Caetano, porta-voz da polícia da Zambézia, a intenção seria a de usar partes do corpo do menor albino em rituais: “As causas são sempre as mesmas com aqueles órgãos, que os autores possam ter um enriquecimento ilícito. Sabemos que, em todos os assassinatos que ocorrem em Milange, a finalidade é sempre a mesma, e temos o registo de mais dois casos, suspeitando-se que os indivíduos estejam a residir no Malawil, adianta o responsável.
Há comunidades que acreditam que as partes do corpo de albinos têm poderes sobrenaturais, não sendo este o primeiro caso na província. No ano passado foram registados pelas autoridades pelo menos 20 mortes de albinos. Porém, há alguns meses que não havia registo de sequestros ou assassinatos.
Estudantes e professores receiam deslocações para a escola
O professor do ensino primário Horácio Gasolina sublinha que esta notícia deixa apavorados pais e alunos com albinismo, obrigados a percorrer longas distâncias a pé para a escola: “Há grande medo que algumas crianças não possam ir para a escola por causa dessas ameaças”.
E Gasolina reconhece, atalhando que “temos que ser vigilantes, e a polícia deve fazer o seu trabalho com base nas nossas denúncias”.
Miguel Caetano, porta-voz da Polícia, assegura que a autoridade está atenta, e que uma das medidas tomadas passou pelo reforço da cooperação com a Polícia do Malawi: “Existiram, em tempos, muitos casos. O distrito de Milange estava no pico em termos de assassinatos, mas nos últimos tempos tem-se vindo a reduzir, fruto do trabalho desencadeado pela Polícia moçambicana em cooperação com a sua congénere do Malawi.”
Moçambique: Assassinato de albinos preocupa população da Zambézia
Vigilância não se deve confinar a Maputo
O ativista dos direitos humanos Sílvio Silva valoriza o esforço e o trabalho das autoridades, reconhecendo que “a Polícia está a trabalhar, mas o problema é que os traficantes têm mais técnicas do que a própria Polícia.”
Mas deixa um aviso: “As técnicas de combate a estes crimes não se podem só fazer sentir em Maputo, devem também fazer-se sentir nas zonas recônditas, onde a população está, porque os albinos vivem também nas comunidades e não só nos centros urbanos. A outra questão tem a ver com a fragilidade da nossa fronteira em Milange, que escapa ao nosso controlo”, conclui.
Albinos em África: "Não se escondam!"
São ostracizados, ameaçados e perseguidos. Para muitos africanos com albinismo, o dia-a-dia pode ser um pesadelo. Algo que é preciso mudar, dizem albinos que diariamente lutam contra o preconceito. Conheça alguns deles.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Moda contra o preconceito
Thando Hopa é uma advogada sul-africana de 20 anos. Cresceu com muito protector solar, roupas compridas e complexos. Sempre escondida na sombra, recorda. Agora, Hopa luta abertamente contra os preconceitos enfrentados pelos albinos em África - também como modelo nas passarelas.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Vencer complexos nas passarelas
Thando Hopa foi descoberta há quatro anos num centro comercial pelo designer sul-africano Gert-Johan Coetzee, que surge atrás da modelo nesta foto. Hoje, ela é uma das modelos mais conhecidas na África do Sul. Há muitas fotos suas publicadas nas principais revistas de moda. Em 2013, por exemplo, Hopa foi capa da primeira edição da Forbes Life Africa.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Quebrar mitos
Muitos africanos acreditam que os albinos não são seres vivos, mas fantasmas, e que partes do seu corpo podem trazer sorte e prosperidade. O albinismo é uma doença genética caracterizada por falta de pigmentação na pele. Uma em cada 20 mil pessoas no mundo nasce com este distúrbio congénito. O albinismo é muito comum no leste e no sul de África – tal como a superstição.
Foto: Getty Images/AFP/O. Andersen
Superstição mortal
Os criminosos caçam albinos, matam-nos e vendem os seus corpos a curandeiros tradicionais, que acreditam que estes têm propriedades mágicas. Segundo a ONU, o corpo de um albino pode valer mais de 60 mil euros no mercado negro. Uma perna pode ser vendida por cerca de 2.000 euros. A Tanzânia já proibiu os curandeiros tradicionais não registados. Mas outros países, como o vizinho Malawi, ainda não.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Viver com medo
Dorothy Mausen, da província de Machinga, no Malawi, diz que nunca se sente segura. Há cerca de 10 mil albinos neste país do sudeste africano. De acordo com a Amnistia Internacional, pelo menos 18 albinos foram assassinados no último ano e meio. A polícia do Malawi registou mais de 60 ataques violentos contra albinos. Mas calcula-se que o número real de ataques seja muito maior.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Proteção constante
Razik Jaffalie nunca deixa os seus filhos fora de vista. Teve de deixar o emprego para proteger Cassim, de três anos. Os malawianos têm orgulho da sua reputação de pessoas gentis e pacíficas. Mas após os ataques mais recentes contra albinos, o Presidente do Malawi, Peter Mutharika, disse estar "envergonhado" pelos assassinatos no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Uma canção para Mandela
Salif Keita é uma das estrelas mais conhecida da música pop africana. Nasceu no Mali e sabe bem o quanto pode ser difícil crescer com albinismo em África. O músico mudou-se para Paris em 1984 e tornou-se famoso quando se apresentou no Estádio de Wembley, em Londres, em 11 de junho de 1988, no concerto para celebrar o 70º aniversário de Nelson Mandela, que na altura ainda estava preso.
Foto: Imago/CHROMORANGE
Afirmação do orgulho albino
Um festival na República Democrática do Congo em 2015 iniciou uma pequena revolução. "Fièrement Ndundu" - "Orgulho de ser albino", que decorre durante três dias em Kinshasa, é uma plataforma para partilhar experiências, desafiar estereótipos e criar autoconfiança. Algo que muitos africanos também já fazem online - por exemplo, no Twitter com a hashtag #AlbinismIsJustAColor.
Foto: DW/S. Mwanamilongo
Cuidado com o sol
O albinismo não é "apenas" uma questão de cor de pele. Quem é afetado pela falta de melanina na pele tem de proteger o corpo dos raios solares. Esta deficiência significa que os albinos correm sérios riscos de desenvolver cancro da pele. Muitos também têm problemas de visão por causa da falta de melanina nos olhos. O uso de protector solar é essencial para a sua sobrevivência.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Chutar o preconceito
Na capital da Tanzânia, Dar es Salaam, os treinos de Said Seremani e da sua equipa "Albino United" só começam quando o sol se começa a pôr. Só têm um campo pequeno e empoeirado, mas os seus sonhos são grandes. Querem ser estrelas do futebol internacional e provar que os albinos podem jogar tão bem como os ídolos Didier Drogba ou Pierre-Emerick Aubameyang.