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Assassinatos e extração de órgãos causam medo na Zambézia

13 de maio de 2020

A população da província da Zambézia vive aterrorizada na sequência de assassínios frequentes para a extração de órgãos humanos. Membros da sociedade civil suspeitam do envolvimento de dirigentes no tráfico.

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Uma rua da cidade de Quelimane, ZambéziaFoto: DW/M. Mueia

Nos últimos meses, na província central da Zambézia, pelo menos três crianças, com idade entre 8 e 16 anos, foram sequestradas, assassinadas e tiveram os órgãos extraídos.

O primeiro crime ocorreu em novembro de 2019 e o acusado é Elias Durão, um profissional do setor da Educação da Zambézia. Depois de ser detido, o acusado pagou avultadas somas em dinheiro como caução e foi solto no fim de dezembro. Vai responder pelo crime em liberdade. Uma decisão que gera revolta popular.

O outro caso ocorreu há poucos dias, no distrito de Gurué, a norte da província. Os quatro supostos envolvidos foram detidos na segunda-feira (11.05). Um dos deles confessou ter assassinado e esquartejado a sangue frio os dois menores.

"As crianças eram de 13 e 8 anos. A minha memória estava embaralhada, não sei o que me deu".

O porta-voz do comando provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) na Zambézia, Sidner Lonzo, afirmou que partes dos corpos das duas crianças assassinadas em Gurué foram encontradas no campo de cultivo de chá, naquela região.

Sidner Lonzo, porta-voz da PRM na ZambéziaFoto: DW/M. Mueia

"Um dos indivíduos contatou ao seu comparsa com o intuito de conseguir alguns órgãos humanos para depois proceder à venda dos mesmos. Depois que um individuo, residente nas imediações de um dos campos de cultivo de chá, recorreu a nossa subunidade policial. A situação deixou-nos extremamente espantados. Encontramos dois corpos somente com a parte dos membros superiores", conta Lonzo.

Aumento da violência 

Dezenas de residentes de Zambézia dizem que vivem amedrontados pela onda de assassinatos. Amida Chipire desabafa: "Não me sinto à vontade. Fico em constante medo, pois tenho crianças que passeiam por aí. Gostaria que o Governo tomasse medidas. Assim que o coronavírus passar, as crianças terão medo de ir à escola. Eles deixam o assassino trabalhar. Apelo a todas mães que devemos ter cautela".

O historiador Bruno Mendiate diz que esse tipo de crime na Zambézia não é novo, mas que nos últimos anos a situação está caótica, porque as pessoas envolvidas no tráfico de órgãos humanos pensam nos ganhos financeiros.

"Havia pessoas que eram ligadas a isso e tratava-se [o caso] como se fosse boato. O que está a acontecer agora é a ganância das pessoas que quererem enriquecer a todo custo ou a qualquer custo, por conta dessa mesma ganância aparece o oportunismo. Nós temos curandeiros que condicionam o ritual para enriquecimento de alguém à presença de um órgão humano", entende o historiador.

Uma manifestação em Nampula, norte de Moçambique, contra o tráfico de órgãos humanos Foto: DW/S. Lutxeque

"Assassinato de pessoas para extrair órgãos"

Bruno Mendiate diz que aumenta os casos de extração de órgãos porque não há muita gente que se oferece para doar os seus órgãos e, portanto, "para que esse negócio flua, o recurso é o mercado negro: assassinato de pessoas para extrair órgãos".

Entretanto, Sílvio Siva, ativista cívico da província, não afasta a possibilidade de alguns dirigentes e especialistas em saúde estarem envolvidos no tráfico de órgãos humanos. "Nós, como a sociedade civil, achamos que são atos recorrentes e que preocupam. Assiste-se cada vez mais a uma tendência de aumentar estas situações. Qual é o mercado a ser levado esses órgãos extraídos? Existe uma rede, e não é uma rede pequena, que tem que ser rompida. Para a extração de órgãos humanos existe alguém da saúde e existem autoridades".

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