As autoridades ainda não conseguiram identificar os responsáveis pelo ataque de dois camiões na província moçambicana de Manica.
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Na madrugada desta terça-feira (17.09.) quatro pessoas ficaram feridas, algumas com gravidade. Os ataques aconteceram contra dois camiões na região Zimpinga, distrito de Gondola província de Manica, centro de Moçambique. Ainda não se sabe quem foram os responsáveis.
Os feridos graves foram evacuados de imediato para o hospital provincial de Chimoio, onde estão a receber cuidados médicos e os outros dois com ferimentos ligeiros foram enviados para o posto de saúde distrital de Gondola e já se encontram fora de perigo.
Testemunhos das vítimas
Ernesto Salomão é o motorista do primeiro camião que foi atacado por volta das três da manhã, numa altura em que fazia o trajeto entre Chimoio e Inchope. O motorista foi atingido na perna esquerda, como contou à nossa reportagem.
"Estava a sair de Chimoio em direção a Inchope, e em Zimpinga, de repente ouvi disparos contra o meu carro... fui baleado aqui no pé e foi por volta das três de madrugada. O carro ficou no local onde ouve este ataque. O carro carregava madeira. Eu estava a sair de Tete e ía para a Beira. Estou um pouco melhor... bala não perfurou mas sim ficou entalada no fémur, queriam matar-me mesmo, e só foi uma questão de sorte”, contou o primeiro motorista ora baleado naquele local.Sousa Manuel foi o motorista baleado no segundo ataque, que aconteceu uma hora depois do primeiro também perpetrado por desconhecidos quando efetuava o trajeto inverso ou seja entre Inchope e Chimoio. Ele também contou à DW África como tudo aconteceu.
"Saía da Beira para Chimoio. Eu saí ontem e dormi em Nhamatanda... e por volta das 4h40, sai de Nhamatanda. De repente havia um camião na minha frente e como vinha um pouco acelerado consegui ultrapassar o camião que estava a fazer a subida nas calmas, e logo a seguir ouvi vários disparos. A princípio pensei que fosse o meu pneu que tinha estourado, mas só depois é que percebi que erm mesmo disparos. Dispararam contra o meu pneu de trás e começaram a disparar (contra) a porta do lao do condutor... daí que me atingiram na perna e no braço”, contou o motorista sobrevivente do ataque.
Ataques sem rosto
O hospital provincial de Chimoio, local para onde as duas vítimas graves foram evacuadas e continuam a receber tratamentos, não se pronunciou sobre o estado em que se encontram as duas pessoas.
O chefe do departamento das relações públicas no Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique em Manica, Mário Arnaça, confirmou o ataque, tendo dito que a ação foi protagonizada por quatro indivíduos que estavam na posse de armas de fogo do tipo AK47."Na madrugada de hoje, dia 17, a polícia registou esta ocorrência em que 4 homens não identificados até então, munidos de armas de fogo do tipo AK47, alvejaram 4 cidadãos dos quais dois com gravidade e dois ligeiros. A polícia acorreu ao local efetuou diligências que culminaram no resgate de 4 cidadãos que haviam sidos raptados pelos malfeitores e foram postos em liberdade. Estamos a trabalhar com vista esclarecer este facto e encontrar os autores dos atques. Até então as forças de defesa e segurança estão no terreno com vista a encontrar os autores para que sejam responsabilizados criminalmente pelo facto que ocorreu em Zimpinga”, informou Mário Arnaça.
Moçambique: Ataque contra dois camiões em Gondola
Refira-se que depois de atacar os camiões o grupo formado por quatro homens armados não se apoderou dos bens das pessoas que seguiam nos camiões.
Ainda em Manica e segundo a polícia, há dias um grupo de cidadãos munidos de objetos contundentes, atacou uma viatura na EN7, próximo da ponte sobre o rio Nhantutu no distrito de Guro, a norte da província de Manica, e assaltou a viatura depois de imobilizar o condutor da mesma, tendo-se apoderado de valores monetários e telemóveis dos passageiros.
Transportes coletivos: Um perigo em Chimoio
Desde o "chapa" ao "my love", passando pelo autocarro: andar de transportes em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, significa correr riscos. Viaturas em péssimo estado e falta de fiscalização são rotina.
Foto: DW/B. Jequete
Latas em trânsito
É uma visão comum nas ruas da cidade de Chimoio: os dedos das mãos não chegam para contar as viaturas de transporte de passageiros que deveriam estar fora de circulação há muitas inspeções atrás. Mas os residentes não têm grande escolha e vêem-se forçados a andar em mini-autocarros como o da imagem - conhecidos por "chapas" - com portas que não fecham bem, pneus em mau estado e luzes avariadas.
Foto: DW/B. Jequete
Sentar é arriscado
No interior dos veículos, o cenário é idêntico. Os assentos em grande parte dos chapas já viram melhores dias. Além do desconforto, a situação chega a colocar os passageiros em risco: há mini-autocarros em que vão sentados em ferros, mesmo em viagens mais longas. E subir e descer dos transportes é muitas vezes sinónimo de chegar ao destino com a roupa rasgada devido às más condições dos bancos.
Foto: DW/B. Jequete
Famoso...e empoeirado
Além do risco de acidentes, há também ameaças à saúde dos passageiros. Em muitos chapas, as janelas deixaram de ser de vidro há vários quilómetros. A fita-cola usada para "remediar" não é suficiente para travar a poeira e a poluição. E as viagens são feitas a respirar este ar impuro.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos também nos transportes públicos
Os autocarros geridos pela autarquia também precisam de manutenção. O material escolhido para substituir este vidro foi a fita-cola, que serve também para remendar tejadilhos. Andar de autocarro público em época de chuva pode significar chegar molhado ao destino. E os passageiros questionam o trabalho de inspeção das autoridades, numa altura em que aumenta o licenciamento de viaturas obsoletas.
Foto: DW/B. Jequete
Uma frota degradada
Na paragem de transportes urbanos que fazem a rota Cidade-Bairro 5 e vice-versa, nenhum carro está em condições para o efeito. E todos passaram e passam de seis em seis meses a inspeção de viaturas e circulam sob o olhar dos agentes reguladores de trânsito. Alguns passageiros preferem andar a pé em vez de correrem riscos a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Verificar condições antes de arrancar
Os passageiros que continuam a arriscar viajar nos chapas degradados verificam as condições dos veículos antes de subirem a bordo. Se não oferecerem condições mínimas - especialmente no caso dos assentos - desistem e esperam pela próxima viatura.
Foto: DW/B. Jequete
Viagens de risco nos "my love"
Por falta de transportes em algumas rotas na cidade e na província, as viaturas de caixa aberta também fazem transporte de passageiros - uma atividade ilegal. Os chamados "my love" foram concebidos para o transporte de mercadorias. Não há qualquer tipo de segurança para as pessoas a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Sem condições? Sem problema
Engane-se quem pensa que não há fiscalização. Nenhuma viatura que faz o serviço de transporte de passageiros escapa às rondas dos agentes reguladores de trânsito. Mas a polícia fecha os olhos às más condições dos veículos e deixa passar os chapas, gerando muitas críticas entre a população, que questiona os critérios das autoridades. Em vez de sanções, só há extorsão, dizem os residentes.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos para todos os gostos
São inúmeras as soluções encontradas pelos proprietários para manterem os chapas em funcionamento: se os fechos já não funcionam, usam-se cordas, arames ou correntes - mas há casos em que as portas caem nas vias, impedindo a circulação. Se o veículo já não tem ignição, faz-se uma ligação direta, contrata-se alguém para empurrar ou estaciona-se numa rampa - colocando os passageiros em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Novos autocarros são gota no oceano
O Ministério dos Transportes acaba de alocar para a província de Manica dez autocarros para o transporte público. Destes, apenas três vão para Chimoio, uma cidade com 33 bairros e mais de 300 mil habitantes.
Foto: DW/B. Jequete
Ministro promete mais
O Ministro dos Transportes, Carlos Mesquita, viaja com o governador de Manica, à direita, e o presidente da autarquia de Chimoio, à esquerda, momentos depois de fazer a entrega dos autocarros às empresas privadas que gerem os transportes. Mas não há lugares para todos nesta viatura com capacidade para 88 passageiros. O ministro promete mais autocarros para a província de Manica.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de novas viaturas e novas regras
Além de mais veículos, o Governo promete outras medidas para regular o setor. Até lá, os "my love", os chapas e os (poucos) autocarros - mesmo degradados - são a solução possível para os residentes de Chimoio e da província de Manica.