Só este mês, os gestores do parque entregaram à polícia mais de 140 armas apreendidas. Líder comunitário da região pede a realização de uma cerimónia tradicional para acabar com conflitos entre a comunidade e o parque.
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Devido à seca e à baixa produção nas machambas durante a época agrícola, a população tem invadido o Parque Nacional de Zinave, no distrito de Mabote, matando animais com pontas de marfim. A carne é para comer, mas também para vender. O administrador do parque, António Abacar, está preocupado com os caçadores furtivos, que comprometem o desenvolvimento da região.
"No dia 3 de maio estivemos a entregar no comando da Polícia da República de Moçambique cerca de 147 armas apreendidas aqui no Parque Nacional de Zinave nos últimos três anos, mas nós estamos a trabalhar no processo de sensibilização das comunidades. Os caçadores furtivos que estão na cadeia muitas vezes não pagam as multas porque não têm capacidade", conta António Bacar.
O Parque Nacional de Zinave esteve encerrado durante vários anos devido à guerra civil, que durou 16 anos, e só voltou a abrir em 2016. Até agora, já foram investidos mais de cinco milhões de euros no parque, em repovoamento de animais e outras atividades.
Este ano, a BIOFUND - Fundação para a Conservação da Biodiversidade - assinou um acordo de parceria com o parque, que já recebeu 15 milhões de meticais (cerca de 210 mil euros) para fiscalização.
Moçambique: Aumenta a caça furtiva no Parque Nacional de Zinave
Tradições, fiscalização e colaboração para acabar com a caça furtiva
Roberto Gimo, líder comunitário que controla todo o território onde se encontra o parque, sugere que se realize uma cerimónia tradicional para pôr fim aos conflitos entre a comunidade e o parque: "Sou régulo do Zinave, de Manica até Gaza, não podemos matar os animais porque é o nosso futuro. Estamos para fazer a cerimónia segundo a nossa tradição, eles devem convidar a população e líderes, para isso estar 100%".
O governador de Inhambane, Daniel Chapo, encoraja os gestores do Parque Nacional de Zinave a continuar a fiscalização: "Sabemos que estão a fazer excelente trabalho na recolha sobretudo das armas principalmente de fabrico caseiro e este trabalho deve continuar. As comunidades devem ter consciência que esta riqueza é de todos os moçambicanos para gerar receitas para os cofres do Estado".
Simão Machava, porta-voz do comando provincial da Polícia de Moçambique em Inhambane, deixa um apelo aos portadores de armas e pede a colaboração da comunidade: "Sejam elas de fabrico caseiro ou convencional essas armas devem ser entregues e quando é de forma voluntária, a pessoa tem tido um tratamento especial. Alguém que possua de forma ilegal uma arma de fogo deve ser denunciado à unidade policial mais próxima."
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.