Moçambique: Nível de prevalência do HIV subiu para 13.2%,
Leonel Matias (Maputo)
9 de maio de 2017
O nível de prevalência do HIV subiu para 13.2%, segundo Ministério moçambicano da Saúde. Tete regista a menor prevalência com 5.2% e Gaza a taxa mais elevada com 24.4%.
Publicidade
Em Moçambique o nível de prevalência do HIV subiu para 13.2%, segundo dados divulgados pelo ministério da Saude. Tete regista a menor prevalência com 5.2% e Gaza a taxa mais elevada com 24.4%. Moçambique é um dos países com maior numero de casos de HIV SIDA no mundo.
Estatísticas divulgadas esta segunda-feira (08.05.) pelo Ministério moçambicano da Saúde indicam que o nível de prevalência do HIV aumentou de 11.5% em 2009 para 13.2% em 2015.
Comparando os estudos realizados nos dois anos, a prevalência do HIV aumentou em quase todo o pais, nomeadamente em oito das dez províncias, à exceção de Manica e Tete. Tete regista a menor prevalência com 5.2% e Gaza a taxa mais elevada com 24.4%.
O estudo indica, igualmente, que durante o período de 2009 a 2015 o nível de prevalência duplicou na província do Niassa.
Mulheres e áreas urbanas
O maior numero de seropositivos no pais regista-se nas mulheres e nas áreas urbanas.O Diretor Nacional de Saúde Pública, Francisco Mbofana, que chefiou a equipa de investigação, afirmou que os intervalos de confiança dos dois inquéritos sobrepõem-se, o que indica que o aumento da prevalência não é estatisticamente significativo. Apontou, no entanto, como algumas das causas do aumento do nível de prevalência do HIV em Moçambique "a expansão do tratamento pode contribuir para o aumento do número de indivíduos com infeção. Vivem mais tempo. Persistem também alguns comportamentos de risco. Em 2011 estivemos melhor em termos de conhecimento. O financiamento para a área de prevenção pode ser uma das razões. Temos que pensar sobre isso."
Os comportamentos de risco identificados incluem o não uso do preservativo nas relações sexuais.
A Coordenadora nacional do Fundo do Governo Americano de apoio ao combate ao HIV-SIDA em Moçambique, Jacqueline Cisonga, afirmou que o estudo mostra que há muito trabalho a fazer para que as pessoas estejam protegidas e tenham tratamento contra a doença."Vejo que há um problema com os jovens que talvez não conhecem exatamente o que é e como proteger-se mas também problemas nas diferentes províncias onde o nível de prevalência esta a subir agora".
Ajustar as estratégias aos resultados do estudo
Por seu turno, a Secretária Executiva Adjunta do Conselho Nacional de Combate ao Sida, Idalina Libombo, ouvida pela DW África, considerou que neste momento devem ser ajustadas as atuais estratégias aos resultados do estudo.
Idalina Libombo sublinhou que como os resultados do documento apontam acima de tudo que o nível de conhecimento sobre o HIV baixou principalmente na camada jovem será necessário trabalhar junto deste grupo alvo sem descurar a população em geral."A informação tem que ser permanente e acima de tudo usar as nossas línguas nacionais, as rádios comunitárias, os lideres comunitários e fazer um grande trabalho com as famílias moçambicanas".
08.05.2017 HIV/Sida-Moçambique - MP3-Mono
O Diretor Nacional de Saúde Pública, Francisco Bofana, deixou a seguinte mensagem:
"Não nos podemos iludir de que há tratamento e que com o tratamento a pessoa vive mais tempo, porque o HIV ainda é um problema sério de saúde pública aqui no pais."
Faces de Tete e do carvão de Moçambique
A vida mudou na província de Tete desde a chegada de empresas multinacionais para explorarem o carvão. Os ventos da mudança trouxeram, para alguns, oportunidades para melhorar de vida; para outros, novas preocupações.
Foto: DW/Marta Barroso
Coque, o trabalhador
Coque tem 28 anos. Trabalha há quatro anos na empresa mineira britânica Beacon Hill. Lá, amarra lonas nos camiões que transportam o carvão até ao vizinho Malawi. Tal como muitos jovens na região, dantes Coque fabricava tijolos que vendia no mercado local. Mas hoje, diz, vive melhor. Por camião recebe 800 meticais, cerca de 20 euros, que divide com o colega que estiver com ele no turno.
Foto: Marta Barroso
Paulo, o diretor de operações da Vale
Apesar dos enormes incentivos fiscais de que gozam as empresas dos megaprojetos em Moçambique, como a brasileira Vale, Paulo Horta diz que um projeto de mineração como o de Moatize gera uma cadeia produtiva tão grande que a população local beneficia em grande medida com a sua vinda para Tete: através da criação de outras empresas, serviços, tributos gerados por terceiros e criação de empregos.
Foto: DW/Marta Barroso
Gomes António, vítima de maus tratos
Gomes António Sopa foi espancado e detido pela polícia na sequência da manifestação de 10 de janeiro de 2012, quando os habitantes de Cateme bloquearam a passagem do comboio que transportava carvão das minas até ao porto da cidade da Beira. Muitas das promessas feitas pela Vale, responsável pelo reassentamento de centenas de famílias, continuam por cumprir. Ainda hoje, Gomes António sente dores.
Foto: Marta Barroso
Duzéria, a curandeira
Os habitantes do Centro de Reassentamento de 25 de Setembro, no distrito de Moatize, queixam-se de que muitos aspetos culturais não foram respeitados durante o processo de reassentamento pelas empresas mineiras. A curandeira do bairro, por exemplo, diz que no planeamento do complexo não se teve em conta a construção de uma casa para o seu espírito.
Foto: Marta Barroso
Lória, a rainha
Provavelmente Lória Macanjo e a sua comunidade deverão ser reassentadas brevemente: a multinacional Rio Tinto está já a operar um mina de carvão em Benga, perto da sua aldeia, Capanga. Também aqui, debaixo da terra que herdou do pai, a empresa mineira descobriu carvão. Mas a rainha sabe do destino dos que já se mudaram e recusa-se a deixar a sua casa.
Foto: DW/Marta Barroso
Olivia, a cabeleireira
Olivia (esq.) tem 29 anos e veio em 2008 do seu país, o Zimbabué, fugindo à crise financeira que lá se vive. Tete é agora a terra das grandes oportunidades, tinham-lhe dito. Hoje, é cabeleireira no Mercado Primeiro de Maio e, tal como a amiga Faith (dir.) faz trabalhos de manicure. Diz que, por dia, consegue 500 a 1000 meticais, entre 15 e 25 euros. Com esse dinheiro consegue sustentar-se.
Foto: DW/Marta Barroso
Guta, o empresário
Ao todo, Guta emprega 130 homens nas áreas de carpintaria e construção civil na cidade de Tete. Diz que desde a chegada das grandes empresas à região não sentiu grandes alterações no seu negócio. Os projetos de mineração requerem quantidades às quais não consegue responder. Uma vez, conta, a Vale pediu que fornecesse, juntamente com outra carpintaria da cidade, 5000 portas em 60 dias.
Foto: DW/Marta Barroso
Canelo, o vendedor de amendoins
Canelo diz que tem 11 anos. E diz também que frequenta a segunda classe. Todas as tardes vende amendoins no centro de Tete. "Para ajudar a mãe que não tem trabalho." O pai também está desempregado. Canelo é uma de muitas crianças que vendem amendoins na cidade. Um saco pequeno fica por dois meticais, cerca de cinco cêntimos de euro, o maior custa cinco meticais, treze cêntimos de euro.
Foto: DW/Marta Barroso
Catequeta, o ativista
Manuel Catequeta mudou-se para Tete em 2001. O ativista dos direitos humanos sabe o que custa viver com a subida constante do custo de vida. O seu salário não lhe permite luxos. A sala de sua casa "de dia é sala, de noite vira quarto". Mas mudar de casa, para já, está fora de questão. Hoje em dia, uma boa casa na capital provincial passa dos 5.000 dólares, cerca de 4.000 euros, por mês.
Foto: DW/Marta Barroso
Júlio, o otimista
O músico Júlio Calengo vê oportunidades de negócio, agora que em Tete há tantas empresas novas. O seu objetivo é, em breve, montar uma empresa de limpeza: tanto nos escritórios das empresas mineiras como nos das firmas que entretanto apareceram na cidade. Interessados não vão faltar, diz Júlio. O que é preciso é ter criatividade e, claro, dinheiro.