O número de crianças desacompanhadas ou separadas em fuga de Cabo Delgado para centros de reinstalação em Montepuez, no norte de Moçambique, aumentou 40% em julho, segundo dados divulgados pela Save the Children.
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O aumento nos centros de reinstalação na pequena cidade de Montepuez, em Cabo Delgado, "de 395 crianças no final de junho para 550 no final de julho realça o impacto devastador do conflito em curso em Moçambique sobre as crianças", sublinha a organização não-governamental (ONG) Save the Children.
O pessoal de proteção infantil da ONG registou a chegada aos acampamentos no mês passado de uma média de cinco crianças desacompanhadas ou separadas por dia. Muitas das crianças foram separadas dos pais ou cuidadores enquanto fugiam para salvar a vida durante o conflito. Outras tinham perdido os seus pais devido à violência.
Mais de 336.000 crianças foram deslocadas devido ao conflito em Cabo Delgado, que continua a deteriorar-se na província do norte de Moçambique.
Só na última semana de junho, de acordo com a Save the Children, mudaram-se quase 5.000 pessoas de Palma para outros distritos, em resultado do conflito. Pelo menos, 1.461 pessoas foram alvos civis diretos e foram mortas, incluindo um número desconhecido de crianças. Pelo menos 51 crianças, na sua maioria raparigas, foram raptadas durante os últimos 12 meses, de acordo com o último balanço da ONG.
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"Uma crise de crianças"
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
02:28
Chance Briggs, diretor da ONG em Moçambique, dirige-se no texto aos líderes regionais e mundiais, sobretudo aos que estarão reunidos na cimeira de chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), em Lilongwe, no Maláui, nos próximos dias 17 e 18, recordando-lhes que "a crise em Cabo Delgado é uma crise de crianças".
"Apelamos a todas as partes envolvidas neste conflito, incluindo as forças internacionais recém-chegadas, para assegurarem que as crianças sejam protegidas em Cabo Delgado. Todos os intervenientes devem respeitar as leis internacionais humanitárias e de direitos humanos e tomar todas as medidas necessárias para minimizar os danos civis acidentais", afirma Briggs.
"Deve também haver um maior controlo de quaisquer violações, nomeadamente através do gabinete do representante especial do Secretário-Geral da ONU para as Crianças em Conflitos Armados, para que os perpetradores de violência contra crianças possam ser responsabilizados", acrescenta o responsável da Save the Children.
Finalmente, a organização apela aos doadores internacionais para aumentarem o financiamento da resposta humanitária em Cabo Delgado e recorda que "continua a existir uma lacuna de financiamento de 66 milhões de dólares americanos entre as necessidades identificadas e o montante comprometido pelos atores globais".
"Esta lacuna significa menos serviços de proteção para crianças vulneráveis, menos apoio à saúde mental para crianças que tenham experimentado ou testemunhado eventos horríveis, e menos comida e água para manter as crianças saudáveis", sublinha a Save the Children.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.