Aumentam as denúncias de intolerância política na campanha para as eleições gerais em Moçambique. Oposição fala em agressões e intimidações sobretudo em zonas recônditas, onde os cidadãos têm medo de perder os empregos.
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Agressões, intimidações, perseguições: é uma realidade com que os membros do Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS) têm sido confrontados várias vezes durante esta campanha eleitoral.
"Há uma perseguição muito maior dos nossos membros, sobretudo nos distritos mais recônditos, onde o controlo social do regime é mais forte", diz Albino Forquilha, o presidente do partido.
Forquilha conta que o último caso aconteceu durante a noite de domingo para segunda-feira, no distrito de Mabote, altura em desconhecidos destruíram material de campanha e o equipamento de som do partido.
O PODEMOS é um dos partidos que apoia a corrida presidencial de Venâncio Mondlane, antigo membro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) que se apresenta agora como "candidato do povo".
Ao longo da campanha, Mondlane tem acusado o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), de "perseguição política". A FRELIMO rejeita todas as acusações.
Moçambique: Momentos marcantes e cómicos da campanha
02:20
Outros casos
As denúncias não são só do PODEMOS. Gania Mussagy, deputada e membro sénior do maior partido da oposição, a RENAMO, disse à DW que desconhecidos agrediram, na semana passada, membros do partido residentes no distrito de Mabote, em Inhambane, que apoiavam a caravana de caça ao voto.
"Quando nós saímos, eles ficaram a fazer essas agressões contra aqueles que vieram nos acompanhar nas viaturas", relata Mussagy.
Também quem terá sido agredida, por desconhecidos, foi a cabeça de lista ao cargo de governador em Inhambane, Joana Mangenge, pelo partido MDM.
Contou à DW que foi agredida no distrito de Funhalouro na primeira semana de setembro, em plena campanha. "Há uma senhora que me empurrou. Como MDM, submeti o caso à delegação provincial. Há bem pouco tempo, um recebi telefonema com a informação do comando provincial a tramitar o assunto no comando distrital a para resolução do caso."
Contactada pela DW, a Polícia República de Moçambique (PRM) conta que foi notificada apenas num caso de alegada agressão, em que interveio brevemente. Além dessa participação, a PRM diz que não recebeu mais queixas.
Candidatos presidenciais querem transformar Moçambique, mas como?
Todos os candidatos presidenciais, e os principais partidos em Moçambique, prometem mudanças depois das eleições gerais de 9 de outubro: menos corrupção e melhores condições de vida. Mas a via para lá chegar difere.
Foto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images
Daniel Chapo, da FRELIMO, quer mudanças
Daniel Chapo promete mudanças se for eleito Presidente da República. O partido que o apoia, a FRELIMO, está no poder desde 1975, mas Chapo diz que quer fazer "coisas novas" em Moçambique. O ex-governador da província de Inhambane, de 47 anos, considera que a paz no país é uma prioridade: "Sou o candidato mais jovem e mais experiente, por isso, não podemos brincar no dia 9 de outubro", disse.
Foto: Marcelino Mueia/DW
FRELIMO quer novas leis para combater a corrupção
A FRELIMO aposta na mudança na continuidade e define o combate ao branqueamento de capitais e corrupção como prioridades. O partido propõe reformas legais, incluindo "a aprovação de uma Lei de Repatriamento de Capitais, bem como a Declaração de Bens de Proveniência ilícita, dentro de um determinado prazo". A FRELIMO quer um país "livre da dependência externa, com uma economia a crescer".
Foto: DW
Ossufo Momade, da RENAMO, promete revisão constitucional
Ossufo Momade, o candidato presidencial do maior partido da oposição, a RENAMO, diz que, se for eleito, vai "criar condições para rever a Constituição" e criar três capitais: "A capital política será Maputo, a capital parlamentar será Beira e a capital económica, Nampula". O opositor, de 63 anos, promete reforçar a força logística do Exército para combater o terrorismo em Cabo Delgado.
Foto: Marcelino Mueia/DW
RENAMO quer colocar o cidadão no centro da governação
A RENAMO nunca governou Moçambique, mas define uma missão clara no seu manifesto eleitoral: defender a liberdade e o Estado de Direito democrático, colocando o cidadão no centro da governação. O partido promete combater a corrupção e criar emprego, sobretudo para jovens e mulheres, aumentando a transparência e dando incentivos fiscais "seletivos" a quem crie postos de trabalho.
Foto: Bernardo Jequete/DW
Lutero Simango, do MDM, promete devolver dignidade ao povo
Lutero Simango, o candidato presidencial do MDM, será o primeiro nome no boletim de voto. O político, de 64 anos, promete resolver os problemas básicos dos cidadãos, melhorando as condições de vida: "Assumo o compromisso de que, se me elegerem, vou devolver a dignidade aos moçambicanos", afirmou. Simango também já disse que vai falar com "o diabo" para combater o terrorismo no país.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
MDM propões várias reformas
O MDM, a terceira maior força política em Moçambique, promete realizar várias reformas, se for eleito: Reforma das instituições, despartidarizando o Estado e redefinindo as competências das autarquias; Reforma na Educação, criando uma rede escolar equilibrada que priorize as zonas rurais e que torne o país competitivo; Reforma na Saúde, valorizando a medicina estatal, privada e tradicional.
Foto: Alfredo Zuninga/AFP/Getty Images
Candidato independente, Venâncio Mondlane, quer o povo no poder
Venâncio Mondlane, de 50 anos, começou a carreira política no MDM e passou também pela RENAMO. Agora, como independente, promete que, se for eleito Presidente da República, "o poder vai pertencer ao povo e não a um partido". Mondlane diz ainda que o país não precisa mais de se endividar: "Vamos criar condições para, com os nossos recursos naturais, fazermos muito melhor do que se tem feito".