Moçambique: Aumento de raptos amedronta comerciantes
Arcénio Sebastião (Beira)
7 de abril de 2017
Reina um clima de medo entre empresários asiáticos e europeus devido aos sucessivos raptos. Em 2016 nove empresários bengalis e um português foram raptados. No geral, a polícia não consegue prender os sequestradores.
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Os bengalis residentes na província central de Sofala, maioritariamente comerciantes, dizem que nos últimos anos tm sido vítimas de assaltos, ameaças, raptos e assassinatos.
Mahsun Mahdi da cidade da Beira conta um caso: "Nós ouvimos [dizer] que a família mandou dinheiro para o resgate, mas não libertaram as pessoas que tinham sido raptadas. Não estamos seguros porque existe muita bandidagem. Eles [ladrões] roubam-nos dinheiro, telefones e muito mais."
Azam Muhamad, também comerciante, disse à DW África está preocupado com a segurança: "Nós não estamos seguros, porque a situação não está boa. Sabemos que o Governo local tem feito alguma coisa para [garantir] a segurança dos estrangeiros, mas ainda é pouco.”
Em março, um outro bengali foi raptado na cidade da Beira quando regressava da Nhamatanda onde desenvolve os seus negócios. Segundo apurou a DW África, o empresário Moktar Assif depois de fazer as compras na Beira, foi raptado no alto da Manga e até ao momento não foi encontrado.
Tentativas de pagamento do resgate em troca da sua libertação foram infrutíferas. Os familiares já terão pago mais de um milhão de meticais(cerca de setenta e dois mil euros), e mesmo assim o comerciante continua desaparecido há mais de quarenta e cinco dias.
Um dos familiares de Moktar Assif recusou-se a dar mais pormenores acerca do sucedido, e disse apenas o seguinte: "Não temos nada para dizer. Como aqui em Moçambique as pessoas não ajudam, eu posso dar-lhe informações e depois sofrer as consequências. Por isso não quero falar."
Ainda não há sinais do português raptado
Em junho do ano passado Américo Sebastião, empresário português do ramo agrário e florestal, foi raptado no posto administrativo de Nhamapaza, distrito de Maringue. Feliciano Vilancaze, secretário do bairro de Nhamapaza e empregado do empresário contou à DW que "quando vem da Beira ele costuma dormir na minha residência e telefonou-me quando estava a dormir para me dizer que ia comprar combustível. Assim fiquei à espera dele e vi que estava a demorar. Mais tarde tive conhecimento através da polícia que ele tinha sido raptado."
Tomé Vasco é guarda e terá assistido o rapto do português num posto de abastecimento de combustíveis em Nhamapaza. Vasco relatou que "foi de manhã quando passou uma carrinha onde estava um branco a falar ao telefone. Abasteceu o carro e depois de terminar de falar os bandidos pegaram no homem e algemaram-no. Colocaram o homem na cabina da carrinha, trancaram as portas do carro e "bazaram" [foram-se embora]."Vários outros bengalis têm sido vítimas de ameaças protagonizadas por desconhecidos que lhes roubam grandes somas de dinheiro quando vão para zonas muito longe no interior da província comprar gergelin, castanha de caju e feijão.
06.04.2017 Beira-Raptos - MP3-Mono
Mahdi, conta um episódio relacionado com uma dessas viagens ao interior da província: "[os bengalis] foram raptados quando alguns trabalhadores e comerciantes bengalis estavam num carro que transportava cerca de cinco toneladas de gergelin. Os bandidos pararam o carro, roubaram o dinheiro e depois, num local retirado, queimaram o carro com todas as pessoas lá dentro."
Na altura a polícia abriu um processo-crime para esclarecer o caso, mas até agora não houve um julgamento dos responsáveis. Entretanto, no que se refere ao empresário português, a polícia anunciou recentemente que vai alargar as investigações a todo o território nacional bem como aos países vizinhos.
Do luxo à decadência - o Grande Hotel da Beira
O Grande Hotel da Beira trazia o título "O Orgulho da África". Com a guerra civil, entrou em decadência. O que era o "esplendoroso" hotel é hoje um esqueleto de cimento, cinza e negro. Mas ainda há vida no hotel.
Foto: Oliver Ramme
Do luxo à decadência
A festejada inauguração do Grande Hotel da Beira trazia o título "O Orgulho da África". Mas com a guerra civil moçambicana, o empreendimento realmente entrou em decadência. O prédio foi esvaziado e veio a servir de abrigo para refugiados. O que era o "esplendoroso" hotel é hoje um esqueleto de cimento, cinza e negro.
Foto: Oliver Ramme
Sinais do abandono
O hotel está localizado na Avenida Mateus Sansão Muthemba, no bairro da Ponta Gêa, quinze minutos à pé do centro da cidade. O Grande Hotel nunca teve muito sucesso comercial, nem no tempo colonial português, e foi abandonado pelos donos. A construção ficou escurecida por todos os lados pela ação do tempo e falta de manutenção.
Foto: Oliver Ramme
A natureza reconquista o lugar
O empreendimento português oferecia 110 suítes luxuosas em 12 metros quadrados. Mas hoje em dia pouco resta do esplendor dos tempos em que estava a funcionar como hotel. A natureza começa a recuperar o espaço. Crescem árvores nos balcões do prédio.
Foto: Oliver Ramme
Cenário para filmes
O foyer do hotel tem o tamanho de um ginásio desportivo. Nas extremidades, a luz entra pelas imensas janelas e crianças aproveitam para brincar no local. O cenário é estranho e atrai jornalistas, escritores e realizadores. O antigo hotel já serviu de cenário para vários filmes como "Hóspedes da Noite", do brasileiro Licínio Azevedo, e "Grande Hotel", da belga Lotte Stoops.
Foto: Oliver Ramme
Quiosques nos corredores vazios
Onde antigamente passavam os empregados do hotel para servir os clientes, encontram-se espaços vazios. Em diversos cantos, alguns moradores vendem bebidas, comidas e outros produtos.
Foto: Oliver Ramme
Escadarias sem corrimãos
A maioria dos moradores quer sair do Grande Hotel. O lugar não oferece muitas condições e nem é seguro. Nas escadarias foram retirados, ao longo dos anos, os corrimãos. Quem não tiver cuidado, arrisca uma queda de vários andares que pode ser mortal.
Foto: Oliver Ramme
Fogueira de lenha no Grande Hotel
No chão de cimento – há muito tempo que as alcatifas desapareceram –, um fogo de lenha de carvão serve para cozinhar. Num hotel normal, o fumo riria acionar o alarme de fogo. Aqui, no Grande Hotel da Beira, já há muito tempo que não há alarmes.
Foto: Oliver Ramme
Lixo: um dos maiores problemas
Uma dor de cabeça para muitos moradores são os detritos que se acumulam nas partes baixas do Grande Hotel. Chegam a ter vários metros de altura – um risco para a higiene de todos os moradores. De vez em quando, há ações de limpeza e a comissão dos moradores tenta melhorar a recolha de lixo, mas muitas vezes em vão.
Foto: Oliver Ramme
4.000 moradores
Onde antigamente 110 suítes luxuosas eram ocupadas por não mais de 250 pessoas, vivem hoje aproximadamente 4.000 pessoas. Terraços, antigos quatros de serviço e espaços em baixo de escadas servem para os "apartamentos" de hoje. Muitos chegaram como refugiados da guerra civil. Porém, antes de poder morar aqui, quase todos tinham que pagar uma comissão a outros moradores.
Foto: Oliver Ramme
Vistas
As secções que ligavam as várias partes do hotel já não têm janelas. Abrem-se vistas bonitas. De um lado, para o centro da Beira – o Grande Hotel fica apenas a quinze minutos à pé do centro da segunda maior cidade de Moçambique. Do outro lado é possível ver o Oceano Índico a poucos metros do Grande Hotel, apenas separado do mar pela avenida marginal.
Foto: Oliver Ramme
Que futuro para o Grande Hotel?
A piscina do Grande Hotel já há muito tempo não vê nenhum turista a tomar banho. Qual o investidor que teria interesse pelas ruínas de um hotel que já estava decadente mesmo durante a administração portuguesa? A maioria dos moradores do Grande Hotel não conta que vão ter que ceder o seu espaço para que o Grande Hotel possa ressuscitar e abrigar de novo turistas nas suas suites de luxo.