Moçambique: Subida do preço dos ovos ameaça Natal em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
23 de dezembro de 2022
A apreensão de 12 mil favos importados do Malawi fez disparar o preço dos ovos em Nampula, Moçambique, o que está a comprometer a quadra festiva. Governo reconhece o sufoco e promete mais fiscalização.
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Os cidadãos da província moçambicana de Nampula prevêem umas festividades mais "difíceis" este ano, por conta da subida dos preços dos produtos alimentares, principalmente do ovo, um alimento indispensável em ocasiões de festa.
Florêncio Alfredo é um dos cidadãos que se sente sufocado com o aumento. "Os preços dos ovos, nos últimos tempos, têm sido avultados e não cabem nos nossos bolsos", lamentou à DW África.
Apreensão e devolução
Há duas semanas, após uma denúncia de uma empresa nacional produtora e vendedora, o Governo de Nampula ordenou à Inspeção Nacional de Atividades Económicas (INAE) a apreensão de 12 mil favos de ovos importados do Malawi, alegadamente por terem sido contrabandeados.
O governador da província de Nampula, Manuel Rodrigues, reconhece o desequilíbrio nos preços dos ovos, mas garante que o Governo vai "colocar ordem" para que o cidadão não seja prejudicado.
"A falta de ovos no mercado e o aparecimento de pessoas desonestas a vender ao preço da banana [preços baixos] provocou um desequilíbrio", explicou. "Mas o trabalho que estamos a fazer é de continuarmos a monitorar a disponibilidade dos produtos no mercado, por um lado, e, por outro, as atividades económicas devem intensificar a fiscalização para que haja a fixação de preços [justos]", referiu Manuel Rodrigues.
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Escassez de produto
Samulha Cortez, outro cidadão local, mostra-se preocupado com a indisponibilidade de ovos a preços suportáveis. "O ovo agora está difícil de adquirir. Antes [o favo] custava 200 meticais (3 euros) e agora está a 300 ou 350 meticais [4,41 euros], e isso vai comprometer as nossas festas", admite.
"Quando procuramos saber as razões da subida do preço, os vendedores dizem que a INAE recolheu no mercado todos os ovos vendidos a preços acessíveis", lamentou.
Samulha pede a intervenção imediata do Governo a tempo de ‘salvar' o Natal. "Gostaríamos que alguma coisa fosse feita para reverter este cenário", pediu.
Florêncio Alfredo é da mesma opinião. "Precisávamos que o Governo velasse por esta situação", frisou, admitindo que algumas empresas pratiquem "irregularidades" e sublinhando que não compreende a disparidade dos preços.
"O queremos é que os preços sejam razoáveis", concluiu.
Moçambique: Natal em tempos de crise
Este ano, nem todos terão um Natal com prato cheio em cima da mesa. A crise financeira pesa nos bolsos de muitos cidadãos. Na província de Inhambane, no sul de Moçambique, até o frango falta.
Foto: DW/L. da Conceição
Um Natal difícil
O negócio está fraco neste mercado em Maxixe, a capital económica da província moçambicana de Inhambane. A crise económica tem afastado os clientes. As vendedoras até já baixaram o preço dos amendoins, por exemplo, mas mesmo assim poucos querem comprar. Este será um Natal difícil.
Foto: DW/L. da Conceição
Fraco movimento nos supermercados
O Natal costuma ser uma altura de muito movimento, com as famílias a comprarem produtos para as refeições da quadra festiva. Mas vários estabelecimentos estão quase vazios. Os proprietários temem que este seja o pior Natal de sempre.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta frango
O frango é o produto mais procurado nesta época do ano; é um produto sempre presente nas mesas das famílias. Mas falta frango, tanto nacional como estrangeiro. O preço aumentou e algumas famílias não estão a conseguir comprar. As autoridades prometem, no entanto, controlar a especulação de preços.
Foto: DW/L. da Conceição
Onde estão os ovos?
É uma pergunta que muitos colocam e ninguém consegue responder. Os ovos parecem ter desaparecido de vários estabelecimentos comerciais. Mesmo quem vende, tem poucos disponíveis. Meia dúzia de ovos chega a custar 100 meticais (o equivalente a 1,40 euros) - por isso, muitas pessoas deixaram de consumir.
Foto: DW/L. da Conceição
Pouca procura
Em época de Natal, costuma notar-se o vaivém de pessoas das zonas rurais a entrar e sair das cidades. Mas este ano vêem-se menos pessoas nas estradas.
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Publicidade nas ruas
Como muitas pessoas deixaram de entrar nos estabelecimentos comerciais, por causa da crise, as empresas adotaram novas estratégias. Cada vez há mais campanhas nas ruas e avenidas com (pequenos) descontos para os clientes, para atrair clientes. A empresa Bela, que vende arroz e massa, não ficou atrás.
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Tudo bem gerido
Com pouco dinheiro, não há lugar para desperdícios de comida. Por isso, saber planificar e aproveitar os alimentos é essencial.
Foto: DW/L. da Conceição
Natal a vender nas ruas
A crise económica obrigou muita gente a ir para as cidades, em busca de melhores rendimentos. Várias pessoas vendem pequenos produtos nas ruas. Mas, com a crise económica, a situação tornou-se mais complicada - os rendimentos são menores. A crise não permite festas felizes, dizem estes cidadãos.
Foto: DW/L. da Conceição
Natal com fome
Todos os anos, no dia de Natal, costuma haver um almoço solidário para as crianças mais necessitadas. Mas, em vários cantos de Moçambique, muitas crianças não deverão beneficiar desse almoço este ano devido aos cortes no financiamento de várias ONG. Muitas crianças passarão o Natal nas ruas.
Foto: DW/L. da Conceição
Turismo afetado?
Haverá, ou não, mais turistas durante a quadra festiva em Inhambane? As informações do Governo e dos empresários são contraditórias. O Executivo espera receber mais de 700 mil turistas, mas os proprietários das estâncias turísticas queixam-se de cancelamentos constantes das reservas, devido à falta de transporte aéreo. A província de Inhambane é um destino predileto de visitantes de vários países.