Moçambique: Alertadas 140 famílias para subida do rio Búzi
Lusa
18 de janeiro de 2021
Autoridades distritais de Búzi, centro de Moçambique, estão a tentar retirar 140 famílias camponesas de zonas ribeirinhas, após a subida do rio Búzi, que já galgou campos agrícolas e cortou a principal estrada da região.
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"Já falámos a estas famílias para deixarem as zonas de risco, como forma de evitar o pior", disse à agência de notícias Lusa Sérgio Costa, secretário permanente do distrito de Búzi, acreditando que não será necessário o uso de medidas coercivas.
As zonas são as mesmas que ficaram submersas após o ciclone Idai, em 2019. As famílias encontram-se nas aldeias de Chiro e Mburiquizi, junto à zona baixa do rio Búzi, cujo caudal atingiu o pico no sábado (16.01) e começou a inundar várias culturas, explicou Sérgio Costa.
O dirigente disse que devido ao elevado caudal foram registados cortes em pelo menos sete seções da principal estrada de acesso, ainda em obras, que liga a sede do distrito de Búzi à Estrada Nacional 6.
Impedida comunicação por terra
Numa das seções, no troço Tica-Buzi, prosseguiu Sérgio Costa, foi aberta uma cratera que está a impossibilitar a travessia de viaturas para a vila de Búzi, interrompendo assim a comunicação por terra com a vila sede distrital.
"Além das chuvas locais, as águas vêm das zonas altas da província de Manica, uma vez que o rio Búzi recebe afluentes dos rios Lucite, Mussapa e Rovue, portanto, também das descargas das barragens de Chicamba e Mavuzi", precisou.
Face ao atual cenário de chuvas intensas que se registam desde a última semana, foram ativados todos os comités de gestão de risco para minimizar os danos, frisou a fonte.
Entretanto, António Beves, delegado da Administração Nacional de Estradas (ANE) em Sofala, disse esta segunda-feira (18.01) que devido à subida de caudal dos rios, o empreiteiro que executa a obra de reabilitação da EN288 (Tica-Búzi) teve de suspender as obras.
Centenas de hectares submersos
Dados estatísticos do distrito indicam que 1.650 hectares de culturas diversas estão submersas e são dados como perdidos devido às chuvas intensas que caem a montante do distrito. Pelo menos, 95 casas estão inundadas.
Entre os meses de outubro e abril, o país é ciclicamente atingido por ventos ciclónicos oriundos do Índico e por cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral, além de secas que afetam quase sempre alguns pontos do sul do país.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre o país.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.