Formação e assistência técnica são os principais ganhos que o MIREME obtem da cooperação com a Alemanha. Mas o Ministério dos Recursos Minerais e Energia quer mais: instalações de formação próprias e equipamento.
Publicidade
O MIREME, Ministério dos Recursos Minerais e Energia, é uma das instituições moçambicanas que beneficia diretamente da cooperação entre Alemanha e Moçambique. O MIREME recebe assistência técnica e formação no âmbito de parcerias públicas e público-privadas. Numa entrevista ao inspetor-geral do ministério, Obete Matine, em Chemnitz, aqui na Alemanha, a DW África procurou saber mais sobre essa cooperação e perspepetivas.
DW África: Pode falar-nos um pouco sobre a Inspeção Geral do MIREME, os seus objetivos?
Obed Matine (OM): É garantir que as operações mineiras e petrolíferas sejam feitas em conformidade com a legislação e com os planos aprovados, respeitando a proteção do ambiente, das pessoas e proteção social e o desenvolvimento das comunidades locais. E que tudo o que for produzido possa beneficiar o país na garantia do pagamento correto dos impostos, taxas e pagamento correto do que está definido dentro do quadro legal. Para além disso, temos o papel de garantir a salvação em caso de gestão de acidentes e catástrofes na área mineira.
DW África: A Inspeção Geral do MIREME coopera com a Alemanha. Pode falar-nos um pouco desta relação?
OM: Temos com a Alemanha três projetos: um é o projeto da parceria público-privada com a empresa alemã Traeger que consiste na assistência técnica a inspeção e formação dos inspetores, essencialmente na área de avaliação de risco e conceção dos planos de emergência e os planos que podem contribuir para a melhoria dos aspetos de segurança. Temos uma parceria com o projeto BLP que consiste na capacitação institucional, na formulação de diretrizes, de instruções de regras básicas para o funcionamento da Inspeção, assim como para o funcionamento das empresas no que diz respeito ao estabelecimento de regras para garantir a segurança nas operações e também concernente a formação das pessoas. Portanto, trata-se de uma assistência técnica virada internamente para a inspeção, cujos resultados vão ter impacto na atividade mineira. Trata-se também da formação das pessoas, capacitá-las para que possam desempenhar o seu papel. E temos, por outro lado, um projeto com o GIZ (cooperação técnica alemã) que visa a avaliação do papel dos inspetores, temos os fóruns anuais dos inspetores financiados por este projeto (com o GIZ). Convidamos especialistas de diferentes instituições, inclusive do Centro de Geocompetências de Freiberg (Alemanha) para realizarem palestras relacionadas com questões de segurança da atividade mineira, como um modo de capacitar os inspetores.
DW África: É possível medir os ganhos desta cooperação neste momento?
Moçambique: Ganhos da cooperação entre o MIREME e a Alemanha
OM: Sim, podemos medir de três maneiras, primeiro são instrumentos produzidos que estabelecem as normas de segurança e as instruções que devem ser cumpridas. Segundo, são os inspetores que receberam uma determinada formação e que têm maior capacidade de atuação e conhecimento. E terceiro, são resultados no campo, as melhorias das atividades devido à intervenção destes inspetores, portanto, melhorias nas atividades, melhorando a proteção ambiental, a proteção do trabalhador e a capacidade das pessoas de fazerem a avaliação dos recursos próprios, no caso de apreensão de produtos e de obrigarem as pessoas a cumprirem as normas.
DW África: O que espera daqui para frente na cooperação com a Alemanha?
OM: Até agora acertamos na assistência e na formação e pensamos que podemos passar para uma outra fase e que as formações sejam feitas em Moçambique para envolver maior número de pessoas, inclusive para os operadores mineiros, mas isso necessita de instalações próprias e equipamentos próprios para o treinamento. Estamos a ver com o projeto da Saxónia (Alemanha) a possibilidade de instalação de um centro de treinamento para os corpos de salvamento, mas isso significa a existência de salvamento e assistência técnica no processo de formação. Achamos que é chegado o momento de não passar só para questões de formação e assistência, mas para o fornecimento de equipamento.
Faces de Tete e do carvão de Moçambique
A vida mudou na província de Tete desde a chegada de empresas multinacionais para explorarem o carvão. Os ventos da mudança trouxeram, para alguns, oportunidades para melhorar de vida; para outros, novas preocupações.
Foto: DW/Marta Barroso
Coque, o trabalhador
Coque tem 28 anos. Trabalha há quatro anos na empresa mineira britânica Beacon Hill. Lá, amarra lonas nos camiões que transportam o carvão até ao vizinho Malawi. Tal como muitos jovens na região, dantes Coque fabricava tijolos que vendia no mercado local. Mas hoje, diz, vive melhor. Por camião recebe 800 meticais, cerca de 20 euros, que divide com o colega que estiver com ele no turno.
Foto: Marta Barroso
Paulo, o diretor de operações da Vale
Apesar dos enormes incentivos fiscais de que gozam as empresas dos megaprojetos em Moçambique, como a brasileira Vale, Paulo Horta diz que um projeto de mineração como o de Moatize gera uma cadeia produtiva tão grande que a população local beneficia em grande medida com a sua vinda para Tete: através da criação de outras empresas, serviços, tributos gerados por terceiros e criação de empregos.
Foto: DW/Marta Barroso
Gomes António, vítima de maus tratos
Gomes António Sopa foi espancado e detido pela polícia na sequência da manifestação de 10 de janeiro de 2012, quando os habitantes de Cateme bloquearam a passagem do comboio que transportava carvão das minas até ao porto da cidade da Beira. Muitas das promessas feitas pela Vale, responsável pelo reassentamento de centenas de famílias, continuam por cumprir. Ainda hoje, Gomes António sente dores.
Foto: Marta Barroso
Duzéria, a curandeira
Os habitantes do Centro de Reassentamento de 25 de Setembro, no distrito de Moatize, queixam-se de que muitos aspetos culturais não foram respeitados durante o processo de reassentamento pelas empresas mineiras. A curandeira do bairro, por exemplo, diz que no planeamento do complexo não se teve em conta a construção de uma casa para o seu espírito.
Foto: Marta Barroso
Lória, a rainha
Provavelmente Lória Macanjo e a sua comunidade deverão ser reassentadas brevemente: a multinacional Rio Tinto está já a operar um mina de carvão em Benga, perto da sua aldeia, Capanga. Também aqui, debaixo da terra que herdou do pai, a empresa mineira descobriu carvão. Mas a rainha sabe do destino dos que já se mudaram e recusa-se a deixar a sua casa.
Foto: DW/Marta Barroso
Olivia, a cabeleireira
Olivia (esq.) tem 29 anos e veio em 2008 do seu país, o Zimbabué, fugindo à crise financeira que lá se vive. Tete é agora a terra das grandes oportunidades, tinham-lhe dito. Hoje, é cabeleireira no Mercado Primeiro de Maio e, tal como a amiga Faith (dir.) faz trabalhos de manicure. Diz que, por dia, consegue 500 a 1000 meticais, entre 15 e 25 euros. Com esse dinheiro consegue sustentar-se.
Foto: DW/Marta Barroso
Guta, o empresário
Ao todo, Guta emprega 130 homens nas áreas de carpintaria e construção civil na cidade de Tete. Diz que desde a chegada das grandes empresas à região não sentiu grandes alterações no seu negócio. Os projetos de mineração requerem quantidades às quais não consegue responder. Uma vez, conta, a Vale pediu que fornecesse, juntamente com outra carpintaria da cidade, 5000 portas em 60 dias.
Foto: DW/Marta Barroso
Canelo, o vendedor de amendoins
Canelo diz que tem 11 anos. E diz também que frequenta a segunda classe. Todas as tardes vende amendoins no centro de Tete. "Para ajudar a mãe que não tem trabalho." O pai também está desempregado. Canelo é uma de muitas crianças que vendem amendoins na cidade. Um saco pequeno fica por dois meticais, cerca de cinco cêntimos de euro, o maior custa cinco meticais, treze cêntimos de euro.
Foto: DW/Marta Barroso
Catequeta, o ativista
Manuel Catequeta mudou-se para Tete em 2001. O ativista dos direitos humanos sabe o que custa viver com a subida constante do custo de vida. O seu salário não lhe permite luxos. A sala de sua casa "de dia é sala, de noite vira quarto". Mas mudar de casa, para já, está fora de questão. Hoje em dia, uma boa casa na capital provincial passa dos 5.000 dólares, cerca de 4.000 euros, por mês.
Foto: DW/Marta Barroso
Júlio, o otimista
O músico Júlio Calengo vê oportunidades de negócio, agora que em Tete há tantas empresas novas. O seu objetivo é, em breve, montar uma empresa de limpeza: tanto nos escritórios das empresas mineiras como nos das firmas que entretanto apareceram na cidade. Interessados não vão faltar, diz Júlio. O que é preciso é ter criatividade e, claro, dinheiro.