Briga em rádio comunitária "não afeta" cobertura eleitoral
Bernardo Jequete (Chimoio) | gcs
7 de fevereiro de 2019
É a promessa da Rádio Comunitária de Catandica, em ano de eleições em Moçambique. Briga na emissora pela sucessão na direção arrasta-se desde janeiro. Mas responsáveis prometem continuar a dar voz a quem não a tem.
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O Fórum das Rádios Comunitárias (FORCOM) fez uma sugestão para tentar resolver o conflito, que se arrasta desde 19 de janeiro. Mas a solução parece não agradar a todos.
A Associação Cultural Factos de Báruè, responsável pela Rádio Comunitária de Catandica, na província de Manica, continua a pedir o afastamento de Joaquim Meque da coordenação da emissora, depois de eleger, em janeiro, um novo coordenador: Geraldo Sextafeira, funcionário do Conselho Municipal.
No entanto, Meque recusa-se a sair do cargo, justificando que a votação o apanhou de surpresa e que precisa de mais tempo para passar a pasta.
Briga em rádio comunitária "não afeta" cobertura eleitoral
O FORCOM sugeriu que a associação cultural esperasse até ao final do ano, quando está prevista uma nova assembleia geral, para eleger um novo corpo diretivo: "As duas partes acordaram, na presença do FORCOM, que haveriam de esperar pela realização da assembleia", contou Meque à DW África.
Mas a associação cultural fez, entretanto, uma contraproposta: que Meque continue, não como coordenador mas apenas como gestor de projetos. Ele rejeita, porém, esta sugestão.
Ainda assim, Sebastião Cangera, presidente do comité de gestão da rádio e membro-fundador da Associação Cultural Factos de Báruè, deixa a porta aberta ao diálogo.
"Tudo irá depender da organização e de algumas orientações que temos vindo a receber dos nossos parceiros, nomeadamente o FORCOM, que está a tentar mediar este conflito. Queremos uma rádio organizada, uma rádio que preste contas à Associação Cultural Factos de Báruè, uma rádio que cumpra os estatutos da associação", afirma Cangera.
Apesar deste conflito se arrastar, Cangera não vê quaisquer motivos para fechar a emissora, nem para abandonar a sua missão principal: informar com isenção e "dar voz aos que não têm voz".
Missão continua intacta
A briga interna na Rádio Comunitária de Catandica ocorre num ano de muito trabalho. Esta quinta-feira (07.02) tomam posse os edis eleitos em outubro passado, e há muito para reportar. Há ainda eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
Sabendo que as rádios comunitárias têm um grande papel na difusão de informações independentes e isentas, ao nível local, a Associação Cultural Factos de Báruè espera solucionar o problema o mais depressa possível, para que rádio possa realizar o seu trabalho com toda a tranquilidade.
Mesmo assim, Cangera sublinha que, até agora, as atividades da emissora "não foram interrompidas. Nem há espaço para tal, porque achamos que o que está a ser acordado tem sido de forma pacífica… e as coisas estão a andar."
Joaquim Meque concorda: as portas da Rádio Comunitária de Catandica devem continuar abertas. E os funcionários e colaboradores da rádio estão a postos para as eleições gerais que aí vêm: "Os meus homens estão preparados para fazer as coberturas", assegura Meque.
Enquanto isso, contactado pela DW, o FORCOM promete continuar a "monitorar" a briga interna na rádio, "pois as partes manifestaram a sua vontade de entrar em acordo".
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.