A Câmara de Comércio Moçambique-Portugal está preocupada com os raptos e assassinatos de portugueses em Moçambique. Mas uma coisa garante: estes crimes não vão afastar os negócios do país.
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Os raptos e assassinatos de empresários estrangeiros em Moçambique, sobretudo portugueses, não vão minar os investimentos no país. A garantia é do vice-presidente da Câmara de Comércio Moçambique-Portugal, Alexandre Ascensão,.
Os empresários portugueses baseados em Moçambique estão preocupados com o clima de insegurança que se vive no país, mas também querem fazer investimentos, principalmente no setor do gás.
"Eu penso que não podemos colocar as coisas dessa maneira. Temos confiança de que as autoridades policiais estão a trabalhar no sentido de identificar os autores desses atos. Do momento não vejo isso como fator de inibição dos investimentos em Moçambique", afirma Ascensão.
A Câmara de Comércio Moçambique-Portugal refere que os empresários portugueses, e não só, devem ter confiança nas autoridades governamentais de Moçambique: "Neste momento sabemos que o nosso Governo está preocupado e está a interagir com as autoridades [policiais] para apurar a verdade dos fatos o que nos dá alguma confiança".
Preocupação e apelo à denúncia
Na semana passada, o empresário português José Paulo Antunes Caetano foi encontrado sem vida na zona da Moamba, a 70 quilómetros de Maputo, depois de ter sido pago o resgate aos sequestradores.
A Câmara de Comércio Moçambique-Portugal lamenta o caso, afirmando que "é triste quando se raptam e assassinam pessoas", mas reitera o interesse dos portugueses em Moçambique.
Moçambique: Crimes "não inibem investimentos"
"Estamos num país que está numa fase de acolher investimentos estrangeiros, de desenvolvimento de grandes projectos, não só ligados ao gás, mas noutros grandes investimentos que estão na forja para saírem", garante Alexandre Ascensão.
Já a polícia moçambicana mostra-se preocupada com a demora na denúncia deste crime. O porta-voz da polícia ao nível da província de Maputo, Juarce Martins, pede que os cidadãos nacionais e estrangeiros apresentem estes casos às autoridades o mais rápido possível. "Temos uma polícia especializada para os crimes de rapto e temos estado a esclarecer alguns crimes que ocorrem ao nível da província. Portanto, não encontramos razões aparentes para as pessoas não se dirigirem à polícia, ou fazerem-no tardiamente", explica.
Casos por esclarecer
Em 2016, o empresário português Américo Sebastião foi raptado em Sofala, centro de Moçambique, e, até hoje, ainda não há nenhuma notícia do seu paradeiro.
A procuradora-chefe em Sofala, Carolina Azarias, admitiu nos finais de outubro, a possibilidade de reabrir o processo que foi arquivado por "falta de elementos para esclarecimento do caso".
"Quando surgirem elementos supervenientes que justifiquem a reabertura da instrução preparatória, nessa altura será reaberta com vista a prosseguirmos e a responsabilizarmos os verdadeiros autores", afirmou.
Entretanto, os empresários moçambicanos de origem indiana que em 2012 foram os principais alvos de raptos e assassinatos, mostraram a sua preocupação em relação à sua segurança.
"Qualquer país que tem segurança atrai automaticamente os investimentos. Nós estamos a ver os grandes países onde há muitos investimentos e os investidores vão para lá porque, porque estão seguros. Isto, de facto, é mau para a sociedade e para o país e para a economia", diz um empresário sob anonimato.
Desde 2016 foram assinados quatro cidadãos portugueses, na sua maioria, empresários. Os casos continuam por esclarecer.
Moçambique: Autoridades investigam descoberta de sete corpos em Nampula
Sete cadáveres foram encontrados pela população numa mata do povoado de Muarapaz, distrito de Murrupula, a 19 de outubro. Os residentes enterraram as vítimas numa vala comum, com a autorização das autoridades locais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Um povoado pacato no centro das atenções
O povoado de Muarapaz, no posto administrativo de Chinga, em Murrupula, acordou em alvoroço na sexta-feira, 19 de outubro, na sequência da descoberta de sete corpos, cinco homens e duas mulheres, numa mata. Mas este não é o primeiro caso de exumação de corpos no distrito de Murrupula, que no ano passado foi palco dos confrontos que envolveram antigos guerrilheiros da RENAMO e o Governo.
Foto: DW/S. Lutxeque
Vias de acesso precárias
A 23 de outubro, uma equipa constituída pela Procuradoria da República, Serviço Nacional de Investigação Criminal, médicos e jornalistas esteve no local, onde foram exumados os sete corpos. A viagem até ao povoado não foi fácil, devido às más condições das estradas, muitas vezes cobertas de mato. Muarapaz fica a 100 quilómetros de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
SERNIC recolhe primeiras provas
À chegada a Muarapaz, os investigadores perderam-se por duas vezes nas matas, mesmo com a ajuda de guias, em busca da vala comum. Já no local, os agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) barraram o acesso dos restantes elementos da equipa, para recolherem as primeiras evidências.
Foto: DW/S. Lutxeque
Vala comum quase "camuflada"
Dez minutos depois, toda a equipa foi autorizada a aproximar-se da vala comum. Segundo os especialistas, apesar de estar localizada a menos de cinco metros da estrada, a vala poderia passar despercebida, caso chovesse na região. A população local afirma que enterrou os corpos numa vala comum - com autorização das autoridades - para "respeitar a dignidade dos defuntos", desconhecidos na região.
Foto: DW/S. Lutxeque
Exumação dos corpos
A exumação dos corpos durou pouco mais de duas horas, com o apoio de alguns populares do povoado de Muarapaz. A vala, com aproximadamente dois metros de profundidade, tinha sido reforçada com ramos, bambu e folhas, com vista a proteger os cadáveres, segundo os relatos dos residentes que presenciaram e participaram na sepultura dos corpos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Homicídios relacionados com ouro?
Residentes suspeitam que as vítimas terão sido assassinadas e arrastadas para o local. Pedro Mpera, que participou no enterro dos corpos, acredita que a extração artesanal de ouro pode ter sido um dos motivos. Fala em disputas entre cidadãos nacionais e estrangeiros - estes últimos, na maioria, compradores do minério: "Foram os garimpeiros que descobriram as mortes, quando regressavam das minas".
Foto: DW/S. Lutxeque
Sinais de agressão
Depois da exumação dos corpos, numa análise preliminar, constatou-se que as vítimas terão sido espancadas e amarradas, mas não apresentavam sinais de golpes, apesar do estado avançado de decomposição de alguns dos cadáveres. Ainda não são conhecidas as causas definitivas das mortes. Os exames continuam a decorrer.
Foto: DW/S. Lutxeque
Análises em curso
O procurador Cristóvão Mulieca, que liderou a equipa, prefere não avançar detalhes, até que as autópsias estejam concluídas: "De facto, encontrámos sete corpos e continuamos a fazer o trabalho para averiguarmos e sabermos quais são as causas da morte".
Foto: DW/S. Lutxeque
"Factos infundados", diz Polícia de Nampula
A DW contactou o porta-voz da Polícia em Nampula, Zacarias Nacute, que disse não ter conhecimento da situação: "São factos infundados. A instigação à desordem pública constitui um crime. Se a polícia tiver conhecimento de indivíduos que têm proliferado esse tipo de informações, poderão ser responsabilizados", garantiu.