Autoridades de saúde dizem que pessoas deslocadas devido aos ataques de insurgentes sobrecarregam moradias e infraestruturas, gerando condições favoráveis à doença. Ao menos 12 pessoas morreram.
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Um surto de cólera afeta três distritos costeiros de Cabo Delgado. Ilha do Ibo, Macomia e Mocimboa da Praia registaram 271 casos desde desde 31 de Janeiro. Em conferência de imprensa, nesta quinta-feira (20.02), autoridades de saúde informaram que 12 pessoas morreram.
A diretora provincial de saúde em Cabo Delgado, Anastácia Lidimba, disse que apesar de o número de pessoas com diarreia ter caído em comparação com o ano passado, "o fato é que nestes três distritos os testes do vibrião colérico saíram positivos. Então, nós queremos declarar que a província de Cabo Delgado está perante um surto de cólera.”
Surtos de cólera em Cabo Delgado são recorrentes e uma das causas apontadas tem sido a precariedade das condições de saneamento nas comunidades. Mas as autoridades sanitárias avançaram um outro fator catalisador para o surto deste ano: a aglomeração de famílias de deslocados nestes três distritos devido aos ataques de insurgentes na região.
"Imaginemos uma zona como Ibo, na qual a população é de oito mil, mas entraram mais sete mil, por exemplo. Aquela família que recebeu pessoas não estava preparada para receber mais de 20 pessoas. Partilham a mesma casa de banho, cada um tem a sua maneira de usa-la e a água que consomem ainda é pouca para aquela família que já existia”, diz.
Lidimba informou que nos três distritos costeiros não foram registados casos de cólera nos últimos anos. No entanto, as condições sanitárias estão favoráveis para um surto.
Medidas emergenciais
Para travar a propagação da doença, o setor da saúde na província diz que já abriu Centros de Tratamento de Doenças Diarreicas e que está a desenvolver ações de sensibilização junto das comunidades sobre as medidas de prevenção.
"Estamos a prover medicamentos e a equipa técnica já está no campo. Nós estamos a ter um resultado positivo porque os casos tendem a reduzir. Tínhamos entradas [de doentes] em média de oito pacientes por dia quando iniciou mas neste momento estamos a ter dois a três casos.”
Em finais de 2019, a Direção Provincial da Saúde e os seus parceiros equiparam os distritos com kits compostos por material de uso nos centros de Tratamento de Doenças Diarreicas.
Cabo Delgado tem novo surto de cólera
De lembrar que logo após a passagem do ciclone Kenneth, no ano passado, três distritos de Cabo Delgado - nomeadamente a cidade de Pemba, Metuge e Mecufi - foram igualmente assolados pela cólera. As autoridades sanitárias tiveram de administrar o shancol - a vacina contra o vibrião colérico.
Entretanto, a referida vacina não abrangeu a totalidade dos 17 distritos da província. Um outro ponto que dominou a conferência de imprensa desta quinta-feira foi o estágio de preparação da província face a eclosão do coronavírus no mundo.
Em Cabo Delgado, ainda não há registo de nenhum caso da doença, mas cerca de 20 pessoas oriundas de países já confirmados com COVID-19 encontram-se em quarentena voluntária.
Ações combinadas entre diversos setores, como aeroportos de Moçambique, Serviços de Migração, autoridades sanitárias estão a ser levadas a cabo com o objetivo de controlar todos os movimentos de entradas na província de cidadãos provenientes de países já afetados com o novo coronavírus.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.