Moçambique: Camponeses relatam confrontos intensos nas matas
Lusa
2 de agosto de 2024
Os camponeses que trabalham nas matas de Macomia, província moçambicana de Cabo Delgado, relataram esta sexta-feira confrontos intensos entre as forças estatais e ruandesas contra os terroristas na zona de Mucojo.
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Segundo as fontes, os confrontos entre a missão militar conjunta e os insurgentes acontecem há três dias, nas matas do posto administrativo de Mucojo, a 40 quilómetros da sede distrital, envolvendo helicópteros, blindados e homens armados, com relatos de tiroteios em locais considerados como esconderijos destes grupos.
"Começámos a ouvir de forma intensiva há três dias (...), até nos assustamos porque só se ouve fogo", relatou uma fonte a partir de Macomia.
A fonte acrescentou que estes confrontos precipitaram a saída de alguns camponeses por medo, devido à intensidade dos bombardeamentos, sobretudo por acontecerem próximo às zonas agrícolas de Namigure e Nambine, onde alguns realizam atividades como desbravamento de matas, preparando a próxima época agrícola.
"Como ficar onde o fogo não cessa, só na estrada de Mucojo. Só se vê blindados, carros de militares a passarem, ruandeses e os nossos", disse ainda.
Não há relatos de vítimas entre as partes, mas a população camponesa admite a progressão no terreno das forças militares de Moçambique e do Ruanda.
"Faz tempo que não víamos algo assim, os carros estão a passar toda hora para lá, em Mucojo, os blindados também. Se temos medo é porque é guerra, se não, por engano, alguém morre", disse a fonte, que trabalha um campo agrícola em Nambine.
Ataques desde 2017
Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
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O último grande ataque deu-se em 10 e 11 de maio à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.
A população de outros distritos da província tem relatado a movimentação destes grupos de insurgentes, que provocam o pânico à sua passagem, nas matas, mas sem registo de confrontos, o que acontece numa altura em que os camponeses tentam realizar trabalhos de colheita nos campos de cultivo.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, afirmou em 16 de junho que a ação das várias forças de defesa permitiu acabar com "praticamente todas" as bases dos grupos terroristas que operam em Cabo Delgado.
"O resultado dessa conjugação de forças é surpreendente. Conseguiram desativar os terroristas de todas as vilas e aldeias que haviam sido ocupadas, destruíram praticamente todas as bases fixas do inimigo, tornando-os nómadas, e colocaram fora de combate muitos extremistas violentos, incluindo alguns dos seus principais dirigentes", disse Nyusi, em Mueda, província de Cabo Delgado.
O chefe de Estado reconheceu o esforço das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, em conjunto com os militares do Ruanda, da missão dos países da África austral - que concluiu a retirada total em 04 de julho - e da Força Local, constituída por antigos combatentes da luta de libertação nacional, no combate a estes grupos nos últimos seis anos.
"Andam aí no mato, mas já não ficam num sítio porque têm medo de ser encontrados", disse ainda, renovando o apelo à população "para continuar a reforçar a vigilância".
O rasto do terrorismo em Macomia teima em não desaparecer
O rasto do terrorismo em Macomia teima em não desaparecer
Foto: DW
Quarta invasão
No dia 10 de maio de 2024, um grupo de terroristas invadiu Macomia, naquela que foi a quarta vez consecutiva que aquela vila de Cabo Delgado se viu entregue aos terroristas. Permaneceram na sede distrital por cerca de dois dias. Após confrontos com as tropas moçambicanas e aliados, o grupo armado abandonou a vila. Mas a destruição permanece.
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Rasto de destruição
Ao abandonarem o local, os terroristas deixaram edifícios públicos como registo civil, a direção de infraestruturas e a secretaria distrital completamente vandalizados. Alguns desses locais continuam de porta fechadas. O comércio vai reabrindo a conta-gotas e a medo.
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Agências humanitárias não escaparam
Também os escritórios e infraestruturas que albergam organizações humanitárias como a Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha, entre outras, foram arrasados pelos terroristas. Desses locais, foram subtraídos medicamentos, viaturas e outros bens.
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Reconstrução é urgente
Autoridades governamentais de Cabo Delgado visitaram Macomia no início de junho para avaliar os danos causados pela presença terrorista. Apesar de admitirem que é uma "prioridade repor aquelas infraestruturas para gradualmente os funcionários prestarem os serviços necessários à população", os serviços continuam a funcionar a meio-gás.
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Paz e medo entre os habitantes
A vila tenta regressar à normalidade, mas o clima ainda é de medo. Os residentes reativaram as atividades de autossuficiência, mas não escondem o receio de um novo ataque, preocupação que paira a todo o instante.
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Chitunda, em Muidumbe, sem serviços públicos
Os cerca de 11 mil habitantes que tinham saído do posto administrativo de Chitunda, em Muidumbe, devido à insegurança, voltaram a casa. Mas nenhuma escola ou hospital está neste momento a funcionar, deixando milhares de crianças fora das salas de aula e os residentes sem acesso a cuidados de saúde.
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Governo promete reabrir escolas e hospitais
Para aceder a cuidados de saúde, a população da aldeia de Miangaleua, no posto administrativo de Chitunda, em Muidumbe, recorre ao distrito de Macomia. Mas o governo local garante que em breve os centros de saúde e as escolas na região voltarão a funcionar.
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Chuvas intensas agravaram a fome
A população de Miangaleua, em Muidumbe, que regressa paulatinamente a casa está a dedicar-se à produção agrícola. Porém, as chuvas intensas que caíram entre finais de 2023 e princípios deste ano arrastaram vários hectares de campos agrícolas junto ao rio Messalo. A produção de arroz e de outras culturas perdeu-se, aumentando a fome na região.
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Autoridades exortam população a produzir comida
O governo local ofereceu sementes de milho e feijões, enxadas, catanas e outros materiais de produção para que os camponeses voltem a semear.
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Corrente elétrica em falta
Os habitantes expressam também o desejo de ver restabelecida a corrente elétrica em Macomia, uma vez que as instalações elétricas também foram afetadas pelos ataques terroristas dos últimos anos. Pequenos painéis solares garantem serviços mínimos, mas não permitem a conservação do peixe que é retirado do rio, por exemplo.
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Mais segurança
Os residentes da aldeia de Miangaleua, em Muidumbe, pedem o reforço da presença das Forças de Defesa e Segurança, para que nunca mais tenham de fugir das próprias terras devido ao terrorismo. Mas a ajuda tarda em chegar.