Moçambique: Candidato do AMUSI denuncia ameaças de morte
Sitoi Lutxeque (Nampula)
4 de setembro de 2019
Mário Albino, candidato à Presidência de Moçambique do partido AMUSI, diz que tem sido ameaçado desde o início da campanha, alegadamente por pessoas ligadas à FRELIMO. Mas o partido nega e fala em "malabarismo" político.
Publicidade
Em Moçambique, a campanha eleitoral rumo às eleições presidenciais de 15 de outubro iniciou de forma ordeira e pacífica. É como dizem as autoridades e observadores, mas o mesmo não pode dizer Mário Albino, candidato presidencial do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI), que diz estar a ser vítima de ameaças de morte desde o início do processo, por parte de pessoas de supostamente ligada à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder).
Mário Albino diz que, primeiro, foi alertado por um dos militantes do seu partido de que "a FRELIMO estava a planificar assassinar o candidato a Presidente da República do AMUSI". O intuito seria evitar canalizar para o AMUSI as verbas do Estado destinadas ao financiamento dos partidos políticos concorrentes às eleições, para não "fazer crescer o partido no norte do país".
A seguir, ainda segundo o candidato presidencial, foram vistas pessoas estranhas junto à sede do AMUSI em Nampula. Questionadas por membros do partido, os estranhos identificaram-se como sendo do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), embora não apresentassem qualquer credenciação, afirma Albino.
"Como se não bastasse, constatámos aqui [na segunda-feira] uma viatura preta, por volta das 18 horas. Tentámos cercá-la, mas pôs-se em fuga", acrescenta. "E, mesmo na entrada da minha casa, encontrei uma viatura que bloqueava a minha entrada, mas os meus homens escorraçaram aquele homem", acrescenta o candidato presidencial.
Manuel Silvestre, outro membro do AMUSI, diz à DW África que testemunhou parte das ameaças ao seu líder.
"De facto, nós estamos a ver ameaças, porque é estranho o que aconteceu na semana corrente", afirma Silvestre. "Estão a aparecer pessoas estranhas com carros de vidros fumados, e constatamos que tudo isso é uma ameaça para o nosso líder. Eu vivi esta situação. Um carro preto bloqueou a viatura do nosso presidente, e foi sorte, porque senão teria sido fatal, uma vez que não tinha segurança naquela hora."
Mário Albino garante que não se deixa intimidar
Mário Albino, um dos quatro candidatos à Presidência da República de Moçambique, diz que já informou as autoridades policiais, mas sublinha que não se deixa intimidar.
"Queremos apelar à FRELIMO para parar com essas provocações, e o mundo deve estar atento", afirma Mário Albino. "Nós estamos preocupados. Tem a comunidade internacional que faz doações a este país e devia inscrever-se como supervisora neste processo de campanha eleitoral. A chamada sociedade civil não está a aparecer. Estão onde? Aparecerão só depois de muito barrulho?"
Moçambique: Candidato do AMUSI denuncia ameaças de morte
Entretanto, a FRELIMO afasta qualquer possibilidade de envolvimento dos seus membros nas alegadas ameaças. Ao mesmo tempo, acusa o AMUSI de falta de agenda e de manifesto político, pelo que optaria por fazer "malabarismo".
"A FRELIMO é um partido de paz e tranquilidade. Temos um manifesto eleitoral e temos uma agenda para a campanha eleitoral e nós achamos que todos os partidos políticos têm de fazer a mesma coisa e não procurar malabarismo, para tentar confundir a opinião pública", afirma o porta-voz Caifadine Manasse.
A DW África tentou obter uma reação da Polícia da República de Moçambique (PRM) sobre as denúncias do partido AMUSI, sem sucesso.
Recorde-se que, desde que iniciou a campanha eleitoral, no sábado (31.08), o candidato presidencial do AMUSI trabalha apenas na província de Nampula e sem material de campanha, devido à falta de canalização de verbas por parte dos órgãos eleitorais.
O porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Paulo Cuinica, afirmou, entretanto, que a sua instituição transferiu verbas para todos os partidos, exceto dois que ainda não tinham entregado os dados bancários, sem no entanto referir se um deles era o AMUSI.
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.