Moçambique: Casa própria para cidadãos de baixa renda
Leonel Matias (Maputo)
12 de março de 2020
Iniciativa do Governo destina-se a pessoas de baixa renda e prevê a construção de 300 casas na primeira fase. 1.500 famílias poderão ter acesso a casa própria com financiamento sem juro.
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João Muhale é o primeiro beneficiário do "projeto Renascer". Muhale vive na Manhiça, província de Maputo. Tem um terreno para habitação há cinco anos. Comprou material de construção, mas nunca chegou a iniciar a obra por falta de dinheiro.
"Eu sou um jovem, como qualquer um pode ver. Mas fora da juventude, tenho despesas pessoais: pago a minha faculdade, assim como outras despesas obrigatórias", diz.
"Projeto Renascer"
O projeto arranca em abril e tem a duração de cinco anos. A construção de cada casa vai levar dez meses. Podem beneficiar do projeto jovens e funcionários que aufiram entre um a cinco salários mínimos, o equivalente a valores que variam entre os 54 euros (cerca de 4.000 meticais) e 270 euros (cerca de 20 mil meticais).
O Governo vai investir, numa primeira fase, o correspondente a três milhões de euros (230 milhões de meticais) na construção de 300 casas nas províncias de Maputo, Cabo Delgado e Nampula.
Serão construídas casas evolutivas dos tipos zero a três. As casas mais modestas do modelo urbano serão amortizadas através do pagamento de uma prestação mensal equivalente a 35 euros (2.600 meticais) e as do modelo rural cerca de 20 euros (cerca de 1.500 meticais).
O ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine, destacou que estas casas são "ambas pagáveis em vinte anos e com taxas de juro de zero por cento".
Moçambique: Casa própria para cidadãos de baixa renda
O sonho de muitos moçambicanos
Em Moçambique, poucos jovens têm casa própria. A maioria vive na casa dos pais, mesmo depois de atingir a maioridade e de constituir família, ou em casas arrendadas.
Segundo Fátima Cossa, residente em Maputo, "são muitos jovens, e até pessoas adultas, pessoas que chegam a reformar-se, sem nunca ter tido a oportunidade de ter uma casa".
Amândio Matsinhe, também residente em Maputo, não esconde que o salário mínimo não é suficiente para cobrir sequer as necessidades básicas: "Tenho 28 anos, trabalho e vivo com os meus pais. Ter uma casa hoje está mais ligado com uma questão de realização pessoal", avalia.
Para o economista Nelson Maximiano, atingir este grupo social permitirá que os jovens saiam em parte da "própria armadilha da pobreza".
"Vamos ter pessoas com menor capacidade financeira a adquirir casas que lhes permitirão ter um nível de vida bastante superior", considera o economista.
João Machatine, ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, diz que o Governo de Moçambique "assume a habitação como condição fundamental para a coesão e eliminação das assimetrias sociais, factores importantes para a consolidação da paz".
Moçambique: Construções criativas com chapas de zinco
A população da província de Inhambane, sul de Moçambique, tem recorrido às chapas de zinco para construir casas, salas de aulas e muros de vedação. Material ainda não é acessível a todos os moradores.
Foto: DW/L. da Conceição
Muro de vedação
Os efeitos climáticos mudaram a construção dos quintais nos últimos anos em Inhambane. Antes, muitas famílias recorriam ao caniço e ao makute – materiais locais e precários – para erguerem muros de vedação. A única opção que restou são as chapas de zinco. O preço de cada chapa varia de acordo com a qualidade da mesma, por
isso, nem todas famílias conseguem comprá-las para construírem suas casas.
Foto: DW/L. da Conceição
Casa para os filhos
Em Inhambane, é comum isolar os filhos da residência dos seus pais para que se sintam à vontade. Essas residências são construídas ao lado da casa grande onde dormem os pais. Assim, os jovens sentem mais liberdade para trazerem visitas. É tradição na região que uma jovem quando se casa deve primeiro viver com os sogros. Uma residência deste tamanho chega a custar mais do que mil euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Oportunidade de negócio
Devido à insuficiência de oportunidades de emprego, os jovens recorrem às chapas de zinco para construir bancas de chapas e começarem a fazer negócios. Nas principais vilas e cidades, são notórias muitas infraestruturas desta natureza, que acomodam vários tipos de negócios. Mas, devido ao preço e à mão-de-obra para se montar, acabam sendo um pouco caras. Esta banca custa mais de 500 euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Alpendre ou sombra?
Nos vários mercados de Inhambane, as autoridades governamentais não conseguem erguer uma infraestrutura condigna para acomodar os vendedores. Ninguém reclama das chapas, porque protegem do sol e da chuva. As chapas de zinco também são usadas na produção de utensílios domésticos, como baldes, copos e jarros. Mas a pergunta que sempre vem é: será alpendre ou sombra?
Foto: DW/L. da Conceição
Mulheres não ficam para trás
Enquanto os homens aproveitam as chapas de zinco para fazer as suas bancas, as mulheres também têm aproveitado o mesmo material para montar os seus negócios nas esquinas das avenidas e ruas de quase todos os distritos. Boutiques, salões de beleza, mini-restaurantes e outros negócios são visíveis. As bancas de chapa têm gerado emprego para centenas de jovens do sexo feminino.
Foto: DW/L. da Conceição
Todo tipo de chapa de zinco
O mercado de venda de chapas de zinco está a crescer a cada dia que passa em Inhambane. Os preços variam de 300 a 950 meticais (de 4 euros a 10 euros). Devido ao custo de vida e à inflação, nem todas as famílias conseguem comprar chapas de zinco. Por isso, a maioria ainda vive em casas construídas de makute e caniço. Na região, diz-se que quem faz casa de chapa tem rendimento positivo.
Foto: DW/L. da Conceição
Mukuku ou barraca
As casas de chapa são comumente chamadas de mukuku ou barraca. Muitas famílias levam meses e até anos para conseguir acima de 60 chapas de modo a erguerem o seu mukuku, porque o preço não é barato. Com alguma ajuda, acabam por conseguir. Quando alguém consegue construir um mukuku, significa que já está bem na vida.
Foto: DW/L. da Conceição
Construções não param
Mesmo com a subida sistemática da venda das chapas de zinco no mercado nacional, as construções de mukuku não param e estão cada vez a trazer mais criatividade. Muitas vezes, as pessoas que constroem essas casas são jovens que terminaram o ensino médio, mas por falta de oportunidade de emprego acabam se adaptando para fazer casas, quintais e bancas para terceiros.
Foto: DW/L. da Conceição
Coberturas nas casas de caniço
Em Inhambane, pode-se dizer que as paredes da maioria das construções é feita de caniço, mas a cobertura é sempre de chapa de zinco. As casas de caniço são de baixo custo, por isso muitas famílias recorrem a estas construções. Neste caso, vale utilizar os dois materiais e viver condignamente.
Foto: DW/L. da Conceição
A igreja
Os crentes das várias igrejas têm contribuído com algum dinheiro para a compra das chapas de zinco de modo a erguerem os templos. Antes de construírem um templo local, rezavam nas infraestruturas construídas de caniço, laka-laka e makute - materiais considerados precários e que não resistem ao frio e à chuva. Por isso, optaram pelas contribuições mensais para erguerem igrejas de chapas de zinco.
Foto: DW/L. da Conceição
O portão
Montar um portão de chapas de zinco nos quintais, que pode ser de qualquer modelo, é um bom começo. Uma porta de chapa de primeira qualidade chega a custar mais de 30 mil meticais (cerca de 500 euros). Por isso, cada família tem recorrido às chapas de baixo custo para montar os portões nos seus quintais.