Vários cemitérios comunitários estão a ser vandalizados na cidade de Nampula, no norte de Moçambique. Homens desconhecidos extraem cruzes para vender metal a sucatas.
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Na cidade moçambicana de Nampula, alguns mortos já não descansam em paz na sua última morada. Depois das ossadas humanas, agora há uma nova onda de vandalização de túmulos, nos cemitérios comunitários, para extração de cruzes metálicas para venda nas sucatas, segundo denunciam os moradores das imediações dos cemitérios.
Alberto Eugénio reside no bairro de Namutequeliua, onde se situa o cemitério de Cotocuane, o maior da circunscrição. Confirma as vandalizações das campas e denuncia a falta de proteção do cemitério, por parte das autoridades.
"Os malfeitores removem cruzes das campas para aproveitarem o ferro para venderem", afirma. "Eles não têm medo, vêm de noite, de tarde e até de manhã".
A cidade de Nampula, a terceira maior do país, possui três cemitérios oficiais, geridos pela administração municipal e mais de 100 cemitérios familiares e comunitários geridos pelas comunidades.
Desemprego na origem?
Albertina dos Santos, outra moradora, apela à intervenção das autoridades: "Isto não é bom. Estamos a pedir ajuda [das autoridades policiais] para que diminua esta situação".
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O desemprego, aliado ao negócio de compra e venda de ferro velho nas sucatarias, é apontado por muitos como a causa do fenómeno.
Embora reconheça o quão é difícil sobreviver, por conta do desemprego, Alberto Eugénio pede aos jovens que não cedam ao vandalismo: "Não acho boa prática, esses jovens não têm um bom pensamento, isso pode prejudicar pessoas que têm familiares aqui no cemitério, e isso não fica bem".
Abdul Paulo compra e revende ferros velhos há mais de três anos, para garantir a sua sobrevivência. Compra um quilo de ferro velho a 10 meticais, o equivalente a 15 cêntimos de euro. Desconhecia que parte dos ferros que compra podem estar a ser retirados das campas em mais de 100 cemitérios comunitários espalhados na cidade de Nampula e agora está em alerta.
"Agora que ouvi, estarei a vasculhar cada saco para aferir se não existem cruzes metálicas", garante.
Polícia pede denúncias
A polícia moçambicana em Nampula, através do porta-voz Zacarias Nacute, diz que nunca recebeu denúncias sobre a vandalização de túmulos, mas mostra-se pronta a combater o fenómeno.
"Neste momento, não recebemos uma denúncia referente à vandalização de campas nos cemitérios a nível da nossa área de jurisdição", afirma Nacute. "Diante deste caso, aconselhamos os populares a denunciarem às autoridades policiais, para que se tomem medidas de segurança e evitar que outras campas sejam vandalizadas".
O diretor do Gabinete de Comunicação e Imagem do município de Nampula, Nelson Carvalho Miguel, diz que a edilidade está a par do assunto e está "a trabalhar no sentido de dar segurança". Ainda este ano, adianta, prevê-se "a vedação de cinco cemitérios [comunitários]".
Angola: Cemitério de Caxito transformado em bairro
Populares constroem por cima das campas sob olhar “silencioso” das autoridades. Em Caxito, o cemitério do Bucula está a ser transformado numa zona habitacional. As pessoas dizem já estar habituadas a conviver com mortos.
Foto: António Ambrosio/DW
Cemitério do Bucula
Populares invadem cemitérios e constroem por cima das campas sob olhar “silencioso” das autoridades. Em Caxito, por exemplo, o cemitério do Bucula está a ser transformado em zona habitacional. Os populares dizem não ter onde construir e avançam já estar acostumados a conviver com os mortos.
Foto: António Ambrosio/DW
Campas degradadas
No cemitério do Bucula as campas estão em estado avançado de degradação. Alguns familiares visitam periodicamente o local de sepultamento do seu ente querido, cuidando, desta feita, da campa. Outros deslocam-se ao campo santo apenas por ocasião do Dia dos Finados. E outros ainda já não se importam com o estado da campa em que jazem os restos mortais do parente.
Foto: António Ambrosio/DW
Campas desaparecidas
O tempo e a chuva aceleram a degradação da campa, que acaba por quase desaparecer completamente.
Foto: António Ambrosio/DW
Campa no capim
Na época das chuvas, o cemitério é transformado num autêntico matagal. O capim que cresce por força da chuva encobre as campas e força o seu desaparecimento. O que motiva os populares a limpar a zona e a construir as suas casas.
Foto: António Ambrosio/DW
Posto policial entre cemitérios
De um lado está um “considerado” cemitério familiar. Do outro lado está o cemitério do Bucula. Esta é a Estrada Nacional 100, no sentido Caxito – Mbanza Congo. Bem ao lado está um posto policial, o controlo do Bucula onde pelo menos dois agentes garantem a segurança da zona.
Foto: António Ambrosio/DW
O bairro do cemitério
O crescimento da população tem forçado o surgimento de novas zonas habitacionais, quer de forma legal, quer ilegal. Há alguns anos, populares vindo de zonas incertas, “aterraram” e começaram a construir moradias de chapa, quebrando barreiras e ignorando superstições.
Foto: António Ambrosio/DW
De casebre à casa definitiva
O sossego da zona está a levar os populares a instalarem-se permanentemente. Muitos já constroem residências com material sofisticado.
Foto: António Ambrosio/DW
Casebres
Inicialmente, as casas eram assim: feitas somente com chapas, e conhecidas por “casotas”. A dona, Maria Paulo, com os seus quatro filhos, disse à DW África, que nos primeiros dias no novo bairro sonhava com mortos. Mas agora isso já não acontece. Maria Paulo diz que é melhor viver no cemitério do que não ter casa.
Foto: António Ambrosio/DW
As campas visíveis
Na estação seca, as campas ficam claramente visíveis. Quem passa pela EN100 consegue ver os a mistura de casas e seputluras.
Foto: António Ambrosio/DW
Funerais suspensos
Com o surgimento de outros cemitérios oficiais, como Sumba Futa, nas Mabubas, e Sassa Cária, na zona com mesmo nome, tal como Bucula vários cemitérios comunitários viram os enterros suspensos. As autoridades justificam a medida com a falta de condições mínimas para a realização de enterros.
Foto: António Ambrosio/DW
O bairro vai continuar?
Uma fonte ligada à Administração Municipal do Dande avançou à DW África que o órgão estatal analisa a situação e pretende tomar uma decisão que não afete negativamente a população que reside no cemitério. Até à data ainda não há decisão.