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Moçambique: Centenas de idosos protestam em Chimoio

Bernardo Jequete (Chimoio)
18 de outubro de 2020

Centenas de idosos saíram às ruas de Chimoio, este fim de semana, para reivindicar subsídios não recebidos de ajuda pós-Idai, do Instituto Nacional de Ação Social (INAS). Líder comunitário foi espancado.

Mosambik Rentner*innen Protest
Foto: Bernardo Jequete/DW

Centenas de idosos da cidade de Chimoio, província de Manica, reivindicaram no sábado (17.10) subsídios disponibilizados pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS), integrados no pós-emergência para vítimas do ciclone tropical Idai, que afetou severamente aquela camada social.

Os idosos vivem em situação económica vulnerável e recebem o apoio do INAS após o ciclone ter afetado muitas famílias, cujas casas foram destruídas pela intempérie que arrasou a região centro do país, em março de 2019.

Segundo os manifestantes, havia na lista dos seus nomes assinaturas de pessoas estranhas. Outros nomes não constavam da lista. Isso motivou o protesto dos idosos, muitos dos quais iam acompanhados dos seus familiares.

Os grevistas acusam a liderança do bairro de ser o possível mentor de fraude no pagamento dos subsídios, trocando e retirando nomes dos afetados das listas, colocando nomes de pessoas que não precisam de apoio, tais como amigos, conhecidos ou familiares.

Líder comunitário espancado 

Um dos líderes do bairro Mudzingadzi foi espancado pelos manifestantes. Porém, foi socorrido por alguns populares e levado até o hospital provincial de Chimoio.

O bairro Mudzingadzi esteve agitado neste sábado, com os manifestantes a pedir justiça.

Entretanto, as autoridades comunitárias do bairro Mudzingadzi colocaram-se em fuga, logo pela manhã do sábado, não se conhecendo o seu paradeiro.

A manifestante Tina Joaquim disse que o líder do bairro passou, de casa em casa, para fazer um "levantamento dos necessitados" após a passagem do ciclone Idai. Mas diz que ficou surpresa ao ouvir que o dinheiro de apoio "já fora disponibilizado pelo Governo".

"Nem todos os que sofreram com Idai receberam o valor. Nós vimos nomes de pessoas que não precisam de ajuda, mas que mesmo assim o receberam. Nós queremos que o líder nos dê o nosso valor. Ele deve chamar as pessoas pagas ilicitamente para devolverem o nosso dinheiro", disse Tina Joaquim.

A manifestante Maria TitosseFoto: Bernardo Jequete/DW

Maria Titosse, outra manifestante, afirmou que, antes do valor ser canalizado pelo Governo, o líder mantinha-os informados sobre os processos burocráticos sobre o desembolso dos valores. Porém, chegado o dia do pagamento, "não os informou".

"Ouvimos que o valor já fora direcionado aos legítimos beneficiários. Nós queremos saber quem são as pessoas que receberam os valores, uma vez que fomos nós que sofremos a intempérie. O líder terá de nos explicar o motivo pelo qual retirou algumas pessoas da lista e colocou outras pessoas, de sua confiança", explicou.

INAS desvaloriza

Entretanto, o delegado do INAS, Armando Tangai, desvaloriza o protesto da população contra a liderança do bairro Mudzingadzi. Segundo ele, as listas foram feitas no ano passado, e este ano o instituto fez o levantamento de outros necessitados, também afetados pela pandemia da Covid-19.

Delegado do Instituto Nacional de Ação Social, Armando TangaiFoto: Bernardo Jequete/DW

Segundo o delegado, "esta agitação no bairro Mudzingadzi não tem cabimento". 

"O programa que estamos a implementar está no âmbito do apoio à pessoa idosa. Para aqueles que são beneficiários do subsídio social básico, houve um processo, no ano passado, e alistamento, em janeiro deste ano. Houve registo biométrico", explicou. 

Tangai argumentou ainda que foram tiradas fotografias das pessoas e, a partir disso, listados os nomes e o respetivo valor a ser recebido. Além disso, informa que essa informação foi divulgada "em todos os distritos, sem nenhum problema".

"O processo de pagamento foi lançado no dia 07 de outubro pelo secretário do Estado, Edson Macuácua, e o assunto foi bem esclarecido. Terminámos o pagamento deste subsídio na cidade de Chimoio no dia 10 de outubro. Dois dias depois começámos com os pagamentos nos distritos de Gondola, Macate e Sussundenga. E está a decorrer normalmente, sem sobressaltos".

Para o delegado, o protesto protagonizado pela população do bairro Mudzingadzi é "inconcebível". 

"As pessoas estão mal informadas. Nós fizemos as listas de cerca de 50 mil pessoas na cidade de Chimoio [também] no âmbito da pandemia da Covid-19, mas o processo de pagamento deste grupo ainda não se iniciou". 

Segundo o delegado do INAS em Chimoio, a província de Manica possui 22.622 idosos que recebem o apoio de subsídio social básico, direto e ação social produtiva e, deste número, apenas 16.989 tiveram o apoio social direto no âmbito do Idai, na província de Manica. 

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