Moçambique: Construção de central solar arranca em maio
Lusa
14 de abril de 2018
Central na província da Zambézia deverá estar operacional no início de 2019 para ajudar a colmatar a falta de resposta da rede elétrica na metade norte do país, segundo a Eletricidade de Moçambique.
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A larga esteira de painéis solares vai ser estendida num terreno de 126 hectares em Mocuba, província da Zambézia, centro do país, e resulta de uma parceria entre a empresa Scatec Solar (52,5%), o fundo estatal norueguês Norfund (22,5%) e a Eletricidade de Moçambique (EDM) (25%).
"Vai ser a primeira central solar de grande escala do país e representa um passo importante na ambição de aumentar a percentagem de origens renováveis na produção de eletricidade", anunciou o grupo promotor.
A EDM vai comprar a energia produzida, com capacidade para abastecer 175 mil agregados familiares, e distribuí-la pela rede elétrica nacional.
Apenas 8% da população tem eletricidade
Segundo um relatório da empresa pública moçambicana de eletricidade a que a agência de notícias Lusa teve acesso, a central vai ajudar a colmatar a falta de resposta da rede elétrica na metade norte do país e ao mesmo tempo promover o desenvolvimento da região de Mocuba.
Prevê-se que o empreendimento tenha um tempo útil de vida de 25 anos e que cubra 85% do consumo anual de energia da região onde vivem 216 mil pessoas, mas só 8% dos agregados tem eletricidade. A expetativa é que o projeto ajude a aumentar este valor para, a prazo, um quarto das famílias terem eletricidade.
Durante a fase de construção, a obra deverá dar emprego a 200 pessoas e "impulsionar negócios locais nas áreas do alojamento, restauração, alugueres e venda de bens essenciais", refere-se no relatório.
Na fase de produção, o projeto prevê que 0,75% das receitas anuais, em valor não referido, sejam aplicados em projetos sociais na região.
O documento aponta o empreendimento como a opção mais barata para produzir eletricidade e ao mesmo tempo garantir uma forma de abastecer facilmente o mundo rural e diversificar as origens de energia em Moçambique.
Investir nas renováveis
A operação financeira está fechada: dos 76 milhões de dólares de investimento, 14 milhões foram entregues pelos sócios, sete milhões resultam de donativos e 55 milhões através de dívida - negociada com o Banco Mundial, a iniciativa Fundos de Investimento do Clima e o departamento britânico de desenvolvimento internacional.
O Governo norueguês vai apoiar o Estado moçambicano e cobrir a participação de 25% da EDM.
Para a empresa pública, o investimento é também uma forma de acumular experiência na gestão de centrais fotovoltaicas que têm ainda como vantagem a rapidez de construção, quando comparadas com a produção hídrica (em barragens, por exemplo) ou alimentada por combustíveis.
O Governo de Moçambique apresentou em setembro de 2017 a carteira de projetos de energias renováveis com a qual pretende garantir o acesso universal a eletricidade no país até 2030.
Prevê-se eletrificar cerca de 300 vilas com recurso a energia hídrica a que se deverão juntar outros tantos projetos de energia solar, de acordo com dados do Ministério dos Recursos Minerais e Energia.
África luta contra as alterações climáticas
Nenhum continente sofrerá mais com as alterações climáticas do que África. Mas os países afetados não vão ficar à espera de braços cruzados: criaram as suas próprias iniciativas para combater as consequências.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
África luta contra as alterações climáticas
Os países industrializados são os principais responsáveis pela produção de gases de efeito de estufa, que contribuem para as alterações climáticas. Mas as principais vítimas estão no hemisfério sul. Enquanto África sofre com a seca, as tempestades, a erosão e a desertificação, os africanos estão a lançar iniciativas para combater as alterações climáticas.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
20 milhões em fuga das alterações climáticas em África?
Na Beira, em Moçambique, os efeitos já se fazem sentir. O nível das águas do mar está a subir e as inundações destroem bairros inteiros. Segundo a Greenpeace, todos os anos fogem das consequências das alterações climáticas mais do dobro das pessoas que fogem da guerra e da violência. Especialistas estimam que haverá cerca de 20 milhões de "refugiados do clima" africanos dentro de uma década.
Foto: DW/A. Sebastiao
Desafiar a força do mar
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100. Mas a Beira quer proteger-se das inundações e, para isso, construíram-se novos canais e cancelas: quando a maré sobe, a cancela fecha-se para proteger a parte baixa da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água.
Foto: DW/J. Beck
A "Grande Muralha Verde"
As areias do deserto do Saara continuam a avançar para sul, destruindo os terrenos agrícolas da África Subsaariana. Onze países estão a tentar travar a desertificação com um "muro" de floresta com 7,750 km de comprimento e 15 km de largura. As raízes das árvores estabilizam e ventilam o solo, permitindo a absorção de água. O projeto também significa novos meios de subsistência para os habitantes.
Foto: Getty Images/AFP/F. Senna
Prevenir a erosão
Cada vez mais agricultores deixam de poder trabalhar os seus campos por causa da erosão e da desertificação. Com um sistema de irrigação especial, Souna Moussa, do Níger, torna o seu solo fértil novamente. A técnica tem vários séculos, mas foi totalmente esquecida. Os especialistas também recomendam o cultivo de culturas mais tradicionais, que se adaptam melhor às terras.
Foto: DW/K. Tiassou
Energia hidroelétrica em vez de carvão
Muitos governos africanos apostam na água para garantir o fornecimento de energia nos seus países e estão a ser construídas novas infraestruturas. A energia hidroelétrica é amiga do ambiente, mas alguns projetos são controversos: por vezes, destroem-se vastas áreas de floresta e deslocam-se comunidades inteiras para abrir espaço para a construção de barragens.
Foto: Getty Images/AFP
Energia limpa para África
Até 2030, a eletricidade chegará a todo o continente africano. Este ambicioso objetivo foi estabelecido por 55 chefes de Estado e de Governo africanos na Conferência do Clima de Paris, em 2015. A Iniciativa para as Energias Renováveis em África pretende alimentar a rede elétrica africana com 300 gigawatts de eletricidade limpa por ano. Parques eólicos como este, na Etiópia, são apenas o começo.
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Autossuficiência
Cada vez mais pessoas em África geram a sua própria energia - e não dependem mais da rede elétrica pública ou de geradores. A queda do preço da energia solar torna a eletricidade renovável mais acessível, seja no fornecimento de energia a hospitais e escolas com painéis solares ou na iluminação de casas com pequenas lâmpadas alimentadas por energia solar.
Foto: Solar4Charity
Garrafas de plástico em vez de tijolos
Em África, a reciclagem não conquistou apenas o mundo da moda: já chegou ao setor da construção. Na Nigéria, constroem-se casas com garrafas de plástico usadas que, de outro modo, seriam deitadas fora, contribuindo para o aumento da poluição. Estima-se que, a cada minuto, seja comprado um milhão de garrafas de plástico em todo o mundo.
Foto: DARE
A jovem heroína do ambiente da Tanzânia
Gertrude Clement, de 16 anos, está empenhada na proteção do ambiente. Uma vez por semana, a adolescente da Tanzânia apresenta um programa ambiental na sua estação de rádio local. "Espero que os meus ouvintes estejam a fazer alguma coisa para mudar a situação - para proteger o ambiente e manter a nossa água limpa", disse à DW. Na foto, Gertrude fala na Assembleia Geral da ONU, em abril de 2016.
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Procuram-se especialistas do clima
Para que África consiga enfrentar as alterações climáticas, é preciso entender melhor os seus efeitos a nível local e regional. O Centro Científico para as Alterações Climáticas da África Austral, criado por Angola, Namíbia, Botsuana, África do Sul, Zâmbia e Alemanha está a trabalhar para isso. A organização quer reduzir o impacto das alterações climáticas na agricultura e nos recursos hídricos.