A justiça da África do Sul não terá dificuldades em cumprir o mandado de extradição emitido pelos EUA contra o ex-ministro das Finanças de Moçambique, acredita especialista em direito penal Elísio de Sousa.
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É já na terça-feira (08.01.) que o ex-ministro das Finanças de Moçambique será ouvido pela segunda vez por um tribunal sul-africano. A audição servirá apenas para comprovar se estão cumpridos os requisitos para a sua extradição para os Estados Unidos da América, conforme solicitação deste país à África do Sul.
Mas o advogado de Manuel Chang já fez saber que se vai opôr ao pedido. Rudi Krause disse à Bloomberg que fará um pedido de fiança para que aguarde o julgamento em liberdade.
Mas as hipóteses de Chang vencer esta primeira batalha são diminutas, como explica Elísio de Sousa, especialista em direito penal: "Em termos procedimentais há poucas hipóteses da extradição ser revogada ou negada, porque o país que recebe o pedido de extradição muitas vezes não tem competência para inquirir a fundo sobre a matéria do processo."
Elísio de Sousa entende que "[a justiça sul-africana] deve é tentar analisar os pressupostos elementares básicos em relação aos requisitos que são a identidade das pessoas, a questão do crime e da punição e também saber se está de acordo com os crimes previstos para a extradição."
Extradição de Manuel Chang para os EUA é quase uma certeza
"E porque o acordo de extradição entre a África do Sul e os Estado Unidos da América é abrangente para a criminalidade internacional, penso que a África do Sul não terá grandes dificuldades jurídicas em fazer cumprir o mandado de extradição e principalmente porque não se trata de um cidadão sul-africano", assegura o especialista em direito penal.
Delação premiada é uma possibilidade?
Importa lembrar que o sistema de justiça sul-africano é bastante diferente do moçambicano, o que limita muito os especialistas moçambicanos em matéria de lei nas suas avaliações ou antevisões pormenorizadas.
Mas sabe-se que a justiça sul-africana é consideravelmente independente do poder político, o que pode minar qualquer tentativa do partido no poder em Moçambique, a FRELIMO, de tentar influenciar neste caso através do ANC, partido que governa a África do Sul.
E caso seja extraditado, a delação premiada a Chang seria uma possibilidade a ser considerada? Elísio de Sousa sublinha que "isso tem a ver com o fundo da causa e isso terá de ser negociado necessariamente com o país que requisita, os Estados Unidos."
E o especialista esclarece que "no país vigora um sistema processual que funciona na base do princípio de oportunidade, o que significa que toda e qualquer punição pode ser sempre negociada com o Ministério Público ou com as autoridades policiais, no caso o FBI, para se ter mais informação e beneficiar aquele que acaba por cooperar com a delação premiada."
Será que o ex-ministro das Finanças entregaria os seus comparsas, caso se prove o seu envolvimento nos crimes de que é acusado? A resposta ainda demora a chegar. Nos Estados Unidos, Manuel Chang deverá responder por crimes financeiros, é acusado de conspiração para fraude eletrónica, para fraude com valores mobiliários e lavagem de dinheiro. Estima-se em 2000 milhões de dólares os valores envolvidos no caso.
Com os EUA não se brinca...
E o politólogo Silvério Ronguane recorda que há um preço alto a pagar quando os ilícitos afetam os Estados Unidos.
"O Governo norte-americano já nos acostumou que qualquer pessoa que esteja em conflito com a justiça em qualquer parte do mundo vai ser responsabilizado. Não é o primeiro caso, há o caso do Bubo Nha Tchuto na Guiné-Bissau. É algo que todos sabíamos, que quem entra em conflito com as leis internacionais, e sobretudo que envolve os EUA vai ter consequências", diz o analista.
E Ronguane alerta: "Se Moçambique não quer fazer justiça existem outras nações preocupadas com essa situação. É uma chamada de atenção que está a ser feita não diretamente a Moçambique, mas ao sistema político internacional."
Os negócios de Manuel Chang
Várias correntes em Moçambique tem revelado, em círculos informais, a participação do ex-ministro em negócios imobiliários. Maputo e Inhambane são os locais de investimento e teria como o seu testa de ferro o genro de nome Ingilo Dalsuco.
Em Inhambane supõe-se que seja o proprietário de um conjunto de 15 casas de um luxo, uma delas destinada ao delegado da Autoridade Tributária e numa segunda funciona a delegação da Ematum. Esta última empresa foi criada com o dinheiro das dívidas ocultas, caso este que está a ser associado à detenção de Chang.
Obras sobrefaturadas transformam Vilanculos em cidade-fantasma
Falta de transparência, obras inacabadas e a preços exorbitantes. Corrupção generalizada no Conselho Municipal de Vilanculos, em Inhambane, gera construções inacabadas, que não podem aproveitadas pela população.
Foto: DW/L. da Conceicao
O triplo do preço real
No Conselho Municipal de Vilanculos, na província moçambicana de Inhambane, os preços das obras estão a ser adulterados para beneficiar funcionários que recebem comissões ilegais de empreiteiros depois da adjudicação. Três balneários públicos ainda em construção custaram meio milhão de meticais aos cofres públicos, três vezes acima do preço normal.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Construções desnecessárias
O Conselho Municipal de Vilanculos construiu um alpendre com mais de 50
bancas. O investimento foi de 1,5 milhões de meticais, mas, há dois anos, quase ninguém ocupa esta infraestrutura. Os vendedores negam-se a ocupar as
bancas alegando que "não querem servir de fatura de alguém". A obra
não corresponde ao preço real segundo empreiteiros ouvidos pela DW África.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Obras continuam
As construções continuam em Vilanculos sem que ninguém ocupe as bancas. No mercado central, está a ser construído um novo mercado de peixes financiado pelo programa PROPESCA. O valor é de 9,6 milhões de meticais, quatro vezes acima do preço normal. A obra tem um prazo de 240 dias para ser executada e está a cargo da empresa Vilcon, cujo dono é investigado por fuga ao fisco.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Areia vermelha nas ruas principais
Muitas ruas na vila turística de Vilanculos não têm pavimento, mas o Conselho Municipal gasta mais com a colocação de área vermelha do que com paves. Os munícipes reclamam da degradação dos seus automóveis e questionam: "Por que gastar dinheiro com areia enquanto pode-se colocar paves ou saibro com o mesmo valor?". A colocação da areia vermelha facilita o esquema de corrupção no município.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Ruas em péssimo estado
Todos os anos, a Assembleia Municipal aprova o orçamento para a reabilitação desta rua do Mercado Novo. A via, no entanto, continua esburacada. O dinheiro sempre é dividido em comissões e resta pouco para a execução. A empreiteira selecionada é, há dois anos, a única empresa contratada para o efeito e não é sediada em Vilanculos, gerando o descontentamento de empresários locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Arrendamento caro
O sistema de corrupção no Conselho Municipal de Vilanculos tem foco na construção de novas bancas para facilitar a divisão do dinheiro entre os empreiteiros e os funcionários do órgão. É o caso concreto destas 12 bancas que foram construídas há dois anos no bairro 19 de Outubro, mas ninguém quer arrendar. Segundo os vendedores, o arrendamento está muito caro e não há rede elétrica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Uma residência que custa milhões
As obras superfaturadas em Vilanculos também envolvem o governo da província de Inhambane. Este projeto prevê um investimento de quase 83 milhões de meticais para a construção de uma residência protocolar. Entretanto, falta transparência. A obra tem duração prevista de cinco anos, mas não se sabe quando começou.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cadê o dinheiro?
O conselho empresarial de Vilanculos reclamou recentemente a reabilitação da Rua da Marginal para servir como cartão de visita aos turistas. Entretanto, anualmente tem se colocado areia vermelha para diminuir buracos de modo a permitir a circulação de viaturas, mas a rua continua em estado crítico. Os munícipes sempre questionam: Para onde vai o dinheiro da reabilitação desta via importante?
Foto: DW/L. da Conceicao
Corrupção de barba branca
A corrupção em Vilanculos vem desde há muito tempo. Em 2012, uma obra da reabilitação de uma avenida com quase três quilómetros custou quase 44 milhões de meticais aos cofres do município. A obra esteve a cargo da empresa chinesa Sinohydro e o financiamento veio do fundo de estrada. Até hoje, ninguém sabe
como tanto dinheiro foi gasto nesta obra.
Foto: DW/L. da Conceicao
Funcionários detidos por corrupção
Cerca de dez funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos foram indiciados pelos crimes de corrupção e adjudicação de obras acima do preço normal. Dois foram detidos no ano passado por vender terrenos na zona da costa. Mangais foram destruídos para dar lugar à construção de um hotel residencial. Um flagrante desrespeito à lei ambiental.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mangal vendido para dar lugar a hotéis
Boa parte da terra na costa foi adquirida por um empresário sul-africano que destruiu o mangal para construir condomínios. Alguns funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos ainda estão sendo ouvidos no gabinete de combate à corrupção. A lei ambiental moçambicana proíbe a destruição de mangais e prevê punições.