Moçambique: Chuvas causam rasto de destruição em Manica
Bernardo Jequete (Manica)
15 de fevereiro de 2020
Pelo menos duas pessoas morrerem em Sussundenga, província de Manica, Moçambique, devido ao desabamento da casa onde viviam. O mau tempo que assola o centro do país provocou várias inundações. INGC já distribuiu ajuda.
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Pelo menos 194 famílias estão desalojadas nos distritos de Gondola, Sussundenga e Chimoio, província de Manica, depois de dezenas de casas terem ficado destruídas durante a intempérie que assola o centro de Moçambique.
O distrito de Mossurize e o posto administrativo de Dombe estão isolados do resto da província na sequência do abatimento de pontes e da submersão de troços de estradas. Segundo Borges Inácio Viagem, chefe do Departamento Técnico do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), as chuvas intensas provocaram a subida do caudal dos rios Lucite e Mussapa, inundando uma extensa área de campos agrícolas.
Como várias estradas estão cortadas, milhares de pessoas estão a abandonar aldeias das zonas baixas da região centro de Moçambique. A população está a deslocar-se em canoas improvisadas, uma alternativa considerada "perigosa” pelas autoridades do INGC.
Apoios distribuídos
De acordo com Borges Inácio Viagem, em Sussudenga as famílias afetadas pelo mau tempo já foram apoiadas com três toneladas de arroz, 100 litros de oléo alimentar, 450 quilos de feijão manteiga e rolos de plástico. Para Mossurize, Borges disse ter enviado 1.500 quilos de arroz, 50 litros de oléo alimentar, 500 quilos de feijão manteiga e lonas de proteção.
O Secretário de Estado na província de Manica, Edson da Graça Macuácua, deslocou-se ao distrito de Sussundenga para consolar as famílias que viram as suas casas ficarem destruídas. Macuácua aconselhou a população a refugiar-se em zonas seguras.
Alissony Dacarai, uma das vítimas em Sussudenga, disse que as chuvas não estão a dar tréguas. "Perdi toda a produção que tinha na machamba para além das minhas duas casas que desabaram. Peço ajuda, porque preciso de tendas para, pelo menos, acomodar a minha família que está ao relento", lamentou.
A atual época das chuvas em Moçambique, de outubro a abril, já matou pelo menos 54 pessoas e afetou cerca de 65 mil, muitas com habitações inundadas, segundo dados do INGC.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre Moçambique.
Moçambique: Muita chuva e pouca água
Ao mesmo tempo que a cidade de Maputo enfrenta as consequências das fortes chuvas que caíram nos últimos dias, na cidade da Matola e na vila de Boane, as populações debatem-se com restrições no fornecimento de água.
Foto: DW/R. da Silva
Residências inundadas
Nos últimos três dias, a cidade de Maputo registou a queda de chuvas intermitentes que causaram inundações e cortes de estradas.
Foto: DW/R. da Silva
Famílias desalojadas
Esta é a situação em alguns bairros periféricos da capital moçambicana. A chuva desalojou 20 famílias, estando as autoridades municipais e o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) à procura de espaços para albergar as famílias afetadas.
Foto: DW/R. da Silva
Falta de água
Entretanto, falta água na cidade da Matola e vila de Boane. A recente queda de uma conduta em Boane provocou restrições no fornecimento de água nesta região. Para fazer frente à situação, carrinhos de tração humana, vulgo "tchovas", ajudam no carregamento de quantidades consideráveis de água tirada das valas de drenagem de algumas zonas da cidade de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Reservatórios
Por causa da queda da conduta, o abastacecimento de água às cidades de Maputo e Matola e à vila de Boane está a ser feito em dias alternados. Pelo menos, um milhão e meio de cidadãos destes municípios estão a ser afetados. Apenas os residentes com reservatórios não sentem as restrições.
Foto: DW/R. da Silva
Risco de doenças
As restrições no fornecimento de água registam-se desde 8 de fevereiro, tendo a empresa Águas da Região de Maputo prometido resolver o problema em dez dias. Na zona de Nwankakana, a oeste da capital, as águas das valas de drenagem estão a minimizar o problema, apesar dos riscos de contrair doenças. Esta águas são usadas, por exemplo, para lavar roupa e loiça.
Foto: DW/R. da Silva
Uso racional
João Machatine, ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, apelou à população para tomar medidas de "austeridade e uso racional da água", de modo a "evitar o pior no que diz respeito à escassez de água".
Foto: DW/R. da Silva
Precaução
Preocupados com as restrições em vigor, alguns cidadãos optam por encher vários recipientes de água e carregá-los para as suas casas, de modo a terem água nos dias em que não estão contemplados pelo fornecimento.
Foto: DW/R. da Silva
Água imprópria
Também nos bairros periféricos, como são Maxaquene, Polana-Caniço, Urbanização e Mafalala, o cenário é este. As valas de drenagem continuam a escoar água de forma permanente e os residentes circundados por este canal continuam a aproveitar a água para vários afazeres, mesmo sabendo que esta água não é própria para consumo. Alguns cidadãos aproveitam para tomar banho ao escurecer.
Foto: DW/R. da Silva
Ruas alagadas
Apesar das campanhas de propaganda do Governo sobre a criação de reservatórios de água, que seriam usados em tempos de crise, o projeto não saiu do papel. As zonas baixas de alguns bairros acumulam água e criam cenários de desespero.
Foto: DW/R. da Silva
Mobilização geral
São sobretudo as mulheres que costumam carregar água logo pela manhã. No entanto, em cenários de crise no fornecimento de água, como acontece por estes dias, a procura de água mobiliza toda a população.
Foto: DW/R. da Silva
Crianças também ajudam
Pessoas de todas as idades são vistas no corre-corre em busca do precioso líquido. Nesta imagem, no bairro da Malanga, vemos um jovem e um menor a dirigirem-se à vala de drenagem em busca de água.