Na província da Zambézia, um locutor de rádio e um observador eleitoral relatam ter sido vítimas de agressões e ameaças de morte por parte de desconhecidos ou da polícia. Comando policial nega casos de violência.
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Depois das eleições gerais de terça-feira (15.10) em Moçambique, há denúncias de ameaças e espancamentos.
Na província da Zambézia, centro do país, o locutor Tomé João, da Rádio Chuabo, conta em entrevista à DW África que desconhecidos o ameaçaram de morte e invadiram a sua residência.
"No dia 15 de outubro, conduzi uma emissão especial sobre o processo de votação. Depois de terminar o turno, recebi algumas ligações anónimas de pessoas estranhas, a ameaçar-me. Na madrugada de quinta-feira [17.10], indivíduos desconhecidos com armas, enxadas e catanas introduziram-se na minha casa, levaram alguns bens, torturaram-me e ameaçaram-me de morte", afirma.
Tomé João não sabe se as ameaças de morte que sofreu têm motivações políticas. Mas diz estar bastante abatido com a situação.
Outra denúncia
O observador nacional Dalton Mussa denuncia que agentes da polícia o agrediram no dia seguinte às eleições. Mussa estava no bairro de Icidua, em Quelimane, a reportar um cenário de tiroteio e violência.
"No dia 16, lá para as quatro da manhã, a polícia chegou lá, porque o povo de Icidua estava a fazer barulho", conta Mussa em entrevista à DW África. "Um dos polícias percebeu que eu estava a tirar fotos e veio ter comigo à sala de votação. Levou o meu telefone e bateram-me com chamboco no braço e na perna. Até agora me está a doar. Puseram-me no carro até à terceira esquadra e, depois de algumas perguntas, soltaram-me. Passei no hospital, levei alguns medicamentos e já estou a tomar".
Cidadãos denunciam violência e ameaças após eleições
Mussa considera cruel a atitude da polícia: "Eles bateram-me. Eu estava credenciado. Para mim, aquilo foi uma humilhação. Outras coisas que eles me fizeram não tenho vontade de contar", diz o observador nacional.
Polícia nega violência
O porta-voz do Comando da Polícia na Zambézia, Sidner Lonzo, refere em entrevista à DW África que os agentes atuaram de acordo com a lei durante o processo de votação, e não houve anomalias constatadas.
"Nós não torturámos ninguém. Os nossos colegas, quando foram lá ao terreno para proceder à segurança deste processo, sabiam que era uma enorme responsabilidade. Todas as nossas ações foram lícitas. Não tivemos nenhum registo em nenhuma subunidade de casos em que um jornalista ou um observador tenham sidos inibidos de fazer este processo", sublinhou.
Sidner Lonzo sublinha ainda que o processo de votação na Zambézia foi pacífico: "A radiografia da província da Zambézia, depois da votação, é positiva, tendo em conta que garantimos com sucesso a escolta do material de votacão para os locais de votação, como também o regresso até às sedes distritais do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral [STAE]".
"Em alguns pontos, [algumas pessoas] foram resistentes ao cumprimento da lei. A polícia viu inevitavelmente a necessidade de agir usando hierarquicamente todas as formas lícitas estabelecidas na lei para rechaçar qualquer ato de violência e credibilizar este processo, o que foi o nosso maior objetivo. Assim, conseguimos garantir que este processo fosse credível", acrescenta Lonzo.
O porta-voz do STAE na Zambézia, Emílio Rapolho, garante que os resultados oficiais da votação ao nível da província serão divulgados no domingo (20.10), em Quelimane.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.