Cidadãos pedem investigação internacional para encontrar culpados pela morte do antigo edil de Nampula. Comunidade local exige uma "Rua Mahamudo Amurane" para imortalizar o líder assassinado há cinco anos.
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Os cidadãos de Nampula recordam com dor o assassinato bárbaro do "revolucionário de Nampula", como era apelidado o autarca da cidade, Mahamudo Amurane.
"As lágrimas caem-me infinitamente. O foco de Amurane era transformar a cidade de Nampula numa cidade europeia", diz Felisberto Mucussete, um habitante local.
Mahamudo Amurane "foi uma figura que revolucionou Nampula como cidade", considera Tiago Filipe, outro cidadão entrevistado pela DW África. "Ele sempre falava nos seus discursos que queria transformar a cidade de Nampula numa Suíça. Em vida, Amurane não era só um ganho para Nampula, mas também para Moçambique", acrescenta.
Um crime sem culpados
Em finais de junho de 2022, a 6ª Secção do Tribunal Provincial de Nampula iniciou o julgamento relativo ao assassinato do autarca Mahamudo Amurane. No banco dos réus estão dois arguidos, acusados pelo Ministério Público da autoria do homicídio. Mas até ao momento, não houve qualquer desfecho judicial.
O cidadão Tiago Filipe pede uma investigação aturada, feita por peritos internacionais, por considerar a Justiça nacional menos séria e parcial. "As organizações internacionais não se devem deixar intimidar por motivações partidárias. Eu acredito que há uma motivação partidária neste caso", comenta.
Na cidade de Nampula, cresce a vontade de imortalizar o antigo autarca. "Uma das coisas que temos de fazer, como agradecimento, seria uma Rua Mahamudo Amurane", sugere Tiago Filipe.
O Partido Liberal de Desenvolvimento Sustentável (PLDS), formação política que alegadamente estava a ser criada por Mahamudo Amurane, mobilizou os seus membros para a limpeza, esta terça-feira (04.10), do túmulo do ex-edil. Mas a polícia impediu a atividade, denunciou Amisse Constantino, presidente da Comissão Económica do PLDS.
"Os motivos, como políticos, podemos interpretar de várias maneiras. Mas ficámos indignados, e isso precisamos até aprofundar para que não aconteça das próximas vezes", disse.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) não comenta os motivos que terão levado ao impedimento da limpeza e visita ao túmulo de Amurane pelos membros do PLDS. No entanto, segundo a DW apurou junto de fontes policiais, a atividade terá sido impedida para não criar agitação social.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.