Nyusi: "O sacrifício dos nossos heróis não foi em vão"
Leonel Matias (Maputo)
25 de junho de 2020
O Presidente Filipe Nyusi diz que o país registou "muitos progressos" nos 45 anos da Independência Nacional e sublinha que os moçambicanos não se devem deixar levar por quem tenta branquear a história.
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O Presidente Filipe Nyusi dirigiu as cerimónias centrais dos 45 anos da Independência Nacional na Praça dos Heróis Moçambicanos, em Maputo.
"Volvidos 45 anos, mesmo diante de vicissitudes de vária ordem, podemos afirmar que o sacrifício dos nossos heróis, para que hoje cada moçambicano tenha identidade e usufrua da liberdade, não foi em vão."
Segundo Nyusi, a ação das autoridades, "mais do que substituir a bandeira nacional procurou dar corpo à libertação da terra e dos homens". O chefe de Estado chamou a atenção para os progressos alcançados nos setores político, económico e social.
"Não deve haver pressa em esquecer os malefícios do colonialismo para que não sejamos presas fáceis dos manipuladores de consciência que a todo o custo tentam branquear a história do presente", afirmou o Presidente da República.
"A paz está novamente ameaçada"
O chefe de Estado apontou, no entanto, que alguns desafios condicionaram o projeto de edificação da nação, nomeadamente a guerra fria, a guerra movida pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e as calamidades naturais.
Vítimas de ataques em Cabo Delgado em fuga pela vida
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O compromisso com o diálogo, a paz, reconciliação e o aprofundamento da democracia foi mencionado por Filipe Nyusi como uma das prioridades durante os 45 anos. Aludiu, por exemplo, ao acordo de paz assinado com a RENAMO, que permitiu o desarmamento, até ao momento, de mais de 300 homens das forças residuais daquele partido, de um total de cinco mil que deverão ser abrangidos pelo processo até junho do próximo ano.
No entanto, "a paz está novamente ameaçada", observou Filipe Nyusi numa alusão aos ataques dos insurgentes em Cabo Delgado e da auto-intitulada "Junta Militar" no centro do país, mas elogiou a atuação das forças de defesa e segurança.
"Tal como no passado, os moçambicanos jamais permitirão que o seu país, produto de sacrifícios e sangue derramado, seja usado como tábua para satisfação de interesses obscuros e alheios."
Celebração em tempo de Covid-19
As cerimónias do aniversário da independência nacional observaram as medidas de prevenção contra a Covid-19, com um reduzido número de convidados, a lavagem das mãos, o distanciamento social e o uso de máscaras.
A Covid-19 causou já 788 casos cumulativos no país com o registo de 26 novas infeções nas últimas 24 horas, segundo dados divulgados esta quinta-feira (25.06) pelas autoridades de saúde.
O Presidente Filipe Nyusi apelou à prudência e responsabilidade face à pandemia. Falou também das perspetivas para o país: "O nosso foco continuará orientado para o aumento da produção e produtividade em todos os setores, através do trabalho."
Durante as cerimónias realizadas em Maputo e noutros pontos do país foram condecoradas 175 individualidades, em reconhecimento pelo seu contributo para a libertação nacional, o aumento da produção e por se terem distinguido nas áreas das artes, desenvolvimento e funcionamento do Estado moçambicano.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.