Os tranportadores dizem que é irreversível a subida da tarifa dos transportes semicoletivos na região metropolitana de Maputo. Mas a Associação Rede dos Direitos Humanos considera que não é bem assim.
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A Associação Rede dos Direitos Humanos deu, esta terça-feira (04.01), uma conferência de imprensa vigiada pela polícia. O encontro só começou depois do presidente da associação, Sérgio Matsinhe, dar explicações à polícia.
Primeiro, o evento tinha sido marcado para sexta-feira (31.12), mas a polícia impediu que acontecesse, alegando que a agremiação podia estar a criar agitação. )Nesta terça-feira (04.019, Sérgio Matsinhe teve de ir à esquadra para explicar o objetivo da conferência de imprensa.
"Desculpem-nos pelo atraso. O presidente tinha sido convocado para a sétima esquadra para falar com o comandante acerca deste... [evento]”, justificou-se a associação.
Na conferência de imprensa, a Associação Rede dos Direitos Humanos voltou a repudiar o aumento da tarifa dos transportes semicoletivos, vulgo "chapas", porque o custo de vida já está insuportável para os munícipes.
"E a gestão financeira quotidiana do cidadão pacato torna-se impraticável para custear as suas necessidades mais básicas do que carece. Exemplo disso a alimentação e o próprio transporte para aceder aos vários locais de vital importância mostra a impossibilidade que as populações apresentam neste momento", argumenta.
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Consulta: Houve ou não?
O vice-presidente da Federação dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO), Batista Macuvele, disse que o aumento da tarifa é irreversível. Por causa do aumento do preço do barril do crude, os produtos petrolíferos vão ficar mais caros no país, entre 7% a 22%.
É por isso que Batista Macuvele não concorda com a ideia da Associação Rede dos Direitos Humanos, de revogar os aumentos dos "chapas".
"Nós estamos a exigir a prestação de serviço de qualidade. Não é possível prestar serviço de qualidade na ausência de um ganho que tem este serviço. É preciso realçar que nós estamos a fazer negócio", explica.
A Associação Rede dos Direitos Humanos acusa o município de Maputo de não ter consultado os munícipes sobre os aumentos. Segundo o presidente Sérgio Matsinhe.
Uma alternativa aos transportes públicos em Maputo
04:02
Apelos para denúncia
Porém, o município anunciou em meados de novembro que era sua intenção auscultar os populares. Foi o que referiu na altura Obadias Djedje, responsável pelo pelouro dos Transportes e Mobilidade.
"Para atender a estas preocupações dos operadores e ao mesmo tempo colher a sensibilidade dos munícipes, o Município de Maputo decidiu realizar duas auscultações públicas", assegura Djedje.
Sobre uma queixa antiga dos utentes, o responsável pelo pelouro dos Transportes e Mobilidade explica: "O encurtamento de rotas é resultante da tarifa baixa e nós não concordamos muito com esta abordagem."
O vice-presidente da Federação dos Transportadores de Moçambique afirma que o cumprimento das rotas - que é a grande preocupação dos munícipes - já está acautelado.
No entanto, Batista Macuvele pede também a colaboração dos utentes dos semicoletivos: "Nós encorajamos os utentes que não deixem essa situação prevalecer porque eles é que são os mais lesados, eles é que vivem a situação na pele. Apelamos que continuem a denunciar esses casos [de incumprimento]."
Os reis do transporte em Maputo
"My love", "ten years" e "smart kika" são modalidades de transporte que disputam clientes na capital de Moçambique. Veículos privados procuram satisfazer diariamente a grande demanda da população.
Foto: DW/R. da Silva
Os 'donos' do transporte
"Smart kikas" (autocarros), "my loves" (carrinhas de caixa aberta) e "ten years" (minibus) são as designações de diferentes meios de transporte em Maputo. Na verdade, são considerados os reis do transporte na capital devido à inoperância da Empresa Municipal de Transporte de Maputo. São veículos que, todos os dias, tentam satisfazer a demanda por transporte na capital moçambicana.
Foto: DW/R. da Silva
Disputa acirrada
Os veículos "ten years" são populares por causa da flexibilidade, manobras fáceis nas estradas e poucos atrasos. Entretanto, são os mais desconfortáveis devido à proximidade dos assentos, o que castiga as pessoas mais altas. O minibus faz barreiras aos autocarros pela disputa de clientes e chega a criar embaraços ao tráfego. Para os condutores, vale tudo por mais um passageiro.
Foto: DW/R. da Silva
Transporte de mercadorias
Estas camionetas estão à espera de carregar mercadorias de cidadãos que fazem compras num dos maiores mercados informais de Maputo, o Xikheleni. Quando não aparecem clientes ou se a receita for baixa, esses veículos fazem desvio de aplicação, carregando pessoas para o centro da cidade nas horas de ponta.
Foto: DW/R. da Silva
'Bom samaritano'
Há ocasiões em que os "my loves" servem de "bom samaritano". Quando o bolso não é suficiente para fretar os "smarts" ou minibus, estas camionetas acabam sendo a solução mais barata para transportar convidados, sobretudo para os casamentos. Aos sábados, são comuns cenários assim.
Foto: DW/R. da Silva
Viaturas particulares
Viaturas particulares também transportam as pessoas, como se pode ver nesta imagem. Não é nenhum dos três tipos de transporte já descritos, mas a verdade é que a crise no geral dos transportes obriga as pessoas a fazer este tipo de negócio. É preciso ter músculo para apanhar transporte na capital.
Foto: DW/R. da Silva
Demanda sem fim
Num dos terminais em Maputo, vemos os autocarros designados "smart kikas" numa clara alusão aos telemóveis desta marca que são tão abundantes em Moçambique. Apesar da aquisição de mais "smart kikas" para o transporte no setor privado, o problema do transporte ainda está longe do fim.
Foto: DW/R. da Silva
Luta para entrar
Esta imagem mostra pessoas à espera de transporte. Quando chega um, assiste-se a uma luta. Os passageiros disputam espaços dentro das viaturas. A espera por transporte pode ser longa.
Foto: DW/R. da Silva
Riscos
Os "my loves" são igualmente a solução encontrada para os passageiros que ficam desesperados nas paragens. O que as pessoas realmente querem é chegar aos locais de trabalho sob todos os riscos. O Governo central acabou rendendo-se aos "my loves" pelo papel fundamental que desempenham no transporte.
Foto: DW/R. da Silva
'Magwevas'
Este tipo de transporte não é muito comum na capital. Estas viaturas costumam carregar mercadoria de senhoras chamadas "magwevas" (que compram a grosso) para serem deixadas nos seus exatos destinos. Mas quando há ocasião para fazer chapa, lá estão eles.
Foto: DW/R. da Silva
Mais conforto
O interior do "smart kika" até dá conforto aos passageiros. A questão da segurança dos passageiros está prevista no momento do movimento do veículo, mesmo quando estiver lotado. Muitos citadinos não gostam dos autocarros por alegadamente levarem muito tempo para chegar ao destino.