Já começou a conferência internacional de doadores na cidade da Beira, no centro de Moçambique. A tarefa de reconstruir as zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth é gigante. Doadores definem prioridades.
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Em Moçambique, começou esta sexta-feira (31.05) na cidade da Beira a conferência internacional de doadores para reconstruir as zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, no centro e norte do país. Governo, autarcas das áreas afetadas, parceiros de cooperação e doadores debatem, em conjunto, áreas prioritárias.
Segundo o Governo moçambicano, são necessários cerca de 3,2 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros) para os trabalhos de reconstrução.
"Após os levantamentos dos danos e perdas, os peritos das Nações Unidas, do Banco Mundial e União Europeia validaram os resultados que apontam para a necessidade de 3,2 mil milhões de dólares norte-americanos para a reconstrução de infraestruturas económicas e sociais, bem como a recuperação do setor produtivo privado e social", afirmou o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine, no arranque da conferência.
Desafios
A tarefa de reconstrução é gigante, pois dezenas de milhares de casas ficaram destruídas e muitas infraestruturas foram severamente danificadas com a passagem dos dois ciclones. E 3,2 mil milhões de dólares é o montante que o Governo pede para a reconstrução, mas ainda não se sabe o valor que conseguirá angariar no final.
Segundo Francisco Pereira, diretor executivo do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones Idai e Kenneth, quase 22 milhões de pessoas continuam a precisar de ajuda urgente. "Há cerca de dois milhões de órfãs e crianças vulneráveis e mais de 75% dos idosos afetados necessitam de assistência urgente. E há também pessoas com deficiência, que também foram diretamente afetadas pelo desastre", acrescenta.
As necessidades são muitas. Pereira diz que é preciso investir rapidamente num vasto leque de áreas, como a alimentação, habitação, educação, saúde e também nos setores produtivos.
Conferência de doadores arranca na Beira
Resiliência
Um tema recorrente nesta conferência é a necessidade de construir casas mais resistentes às intempéries: "Sinto que há um consenso sobre a questão de reconstruir melhor - e não como antes", afirma Mathias Spaliviero, da ONU-Habitat.
"Os intervenientes mencionaram a ONU-Habitat, e queremos dar assistência técnica. Queremos trabalhar em conjunto com o gabinete de reconstrução, mas também com os municípios e o Governo central de Maputo, com vários intervenientes, para que o impacto seja maior", diz Spaliviero.
Os participantes da conferência na Beira passaram grande parte deste primeiro dia a debater prioridades e, para Francisco Pereira, do gabinete de reconstrução, "o grande exercício agora é como priorizar as prioridades dentro das prioridades".
É um desafio que os 700 participantes terão de resolver até este sábado (01.06), o último dia da conferência internacional de doadores na Beira. As reuniões desta sexta-feira foram à porta fechada. O relatório final da conferência só deverá ser conhecido ao ifinal do dia de sábado.
Moçambique pede ajuda para reconstrução e resiliência
O Governo moçambicano precisa de 2,8 mil milhões de euros para reconstruir zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth. Conferência de doadores arranca a 31 maio na Beira. Setor social e infraestruturas são prioridades.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
2,8 mil milhões de euros para reconstruir o país
Para reconstruir as áreas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, o Governo moçambicano precisa de 3,2 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros). É esse montante que o Executivo vai pedir aos doadores internacionais, na conferência que terá lugar entre 31 de maio e 1 de junho, na cidade da Beira, a mais atingida pelo Idai.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Infraestruturas e setor social são prioridades
Segundo o Executivo, o dinheiro angariado servirá para responder às necessidades dos setores social, produtivo e infraestruturas. A maioria fatia será canalizada para a reconstrução no centro de Moçambique, devastada em março pelo ciclone Idai. A verba restante será usada para colmatar os prejuízos causados pelo ciclone Kenneth, em abril, na região norte.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Onyodi
Conferência de doadores na Beira
É esperada a presença de mais de 700 participantes no encontro da Beira. A autarquia vai apresentar aos doadores um orçamento de 890 milhões de dólares (795 milhões de euros) para financiar o Plano de Reconstrução e Resiliência. Quando apresentou o plano, o edil Daviz Simango alertou para a necessidade de melhorar as redes de comunicação, energia e estradas, severamente afetados durante o ciclone.
Foto: DW/A. Sebastião
Plano de Reconstrução e Resiliência
"O município, por si só, não tem capacidade para custear a reconstrução" da Beira, disse o autarca Daviz Simango durante a apresentação do Plano de Reconstrução e Resiliência. A maior fatia das verbas será destinada à habitação (246 milhões de euros), seguindo-se o setor económico e negócios (181 milhões de euros) e drenagem (173,6 milhões de euros).
Foto: DW/A. Kriesch
Proteção costeira também é prioridade
Para a reconstrução de infraestruturas de proteção costeira, o município da Beira vai precisar de 81 milhões de euros. Os planos passam pela construção de esporões e de um muro com mais de 10 quilómetros. Para o saneamento estão previstos 43,8 milhões de euros, para as infraestruturas rodoviárias outros 33 milhões de euros e para os edifícios públicos 10,7 milhões de euros.
Foto: DW/A. Kriesch
"Infraestruturas resilientes" para evitar inundações
Para Daviz Simango, o grande desafio na cidade da Beira é criar "infraestruturas resilientes" que estejam preparadas para ventos fortes ou inundações. "Temos de nos adaptar às várias mudanças climáticas", diz o edil. O banco alemão para o desenvolvimento KfW financia, desde 2016, um projeto para evitar inundações durante o período de chuvas fortes e marés altas.
Foto: DW/A. Kriesch
Ajuda para 1,85 milhões de pessoas
Segundo os números mais recentes da ONU, ainda há 1,85 milhões de pessoas a precisar de ajuda em Moçambique. Até 30 de abril, ainda só tinham sido angariados 22% dos 3,1 milhões de dólares que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) necessita para financiar a sua operação em Moçambique. Faltam recursos para assegurar apoio básico e instalações para os deslocados internos.
Foto: DW/M. Mueia
Preocupações e riscos
O ACNUR está preocupado com a integridade física dos deslocados instalados em centros de acolhimento temporários. Além de problemas de sobrelotação, a agência da ONU para os refugiados também tem alertado para problemas na organização e distribuição de ajuda humanitária, que representam "riscos de discriminação e abusos", sobretudo em casos de crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
Foto: DW/M. Mueia
Idai e Kenneth em números
O ciclone Idai que atingiu o centro de Moçambique em março provocou 603 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, além de ter originado 146 mil deslocados internos. O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas e afetou 250.000 pessoas.