Académicos e religiosos da província moçambicana da Zambézia duvidam que mesmo a eleição de governadores seja suficiente para acabar com a tensão pós-eleitoral no país.
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Afonso Dhlakama, líder do maior partido da oposição em Moçambique (RENAMO), anunciou recentemente um acordo com o Presidente Filipe Nyusi sobre a eleição de governadores provinciais já nos próximos pleitos. Oficialmente, o chefe de Estado moçambicano ainda não se pronunciou sobre esta que é uma antiga reivindicação da RENAMO. Mas na província da Zambézia, centro do país, académicos e religiosos duvidam que mesmo a eleição de governadores seja suficiente para acabar com a tensão pós-eleitoral em Moçambique.
Tal como houve desentendimentos em relação aos últimos pleitos eleitorais, em 2013 e 2014, entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO, o académico Quincardete Paulo não acredita que a possível eleição de governadores ditará o fim da tensão política em Moçambique."Manter estável o país, não posso crer. Isso vai trazer mudanças na governação do país, que nos últimos 40 anos nunca conheceu. Governadores indicados por meio de eleições será difícil que isso seja aceite. Primeiro tem que se pensar como será a prestação de contas? Quem será o responsável pelas contas? E como é que esses vão coordenar para que as contas sejam certas uma vez que serão governadores de partidos diferente? Eu não creio com tanta segurança", afirma Quincardete Paulo.
Zambézia /eleição de governadores - MP3-Mono
Opinião semelhante tem um outro académico. Para Manuel de Morais "tudo isto está dentro das politicas de descentralização, mas tudo depende como isso vai ser feito. Não estou a ver que seja só com a nomeação dos governadores que isso vai acabar, isso vai além da nomeação.”
Ouvir opiniões contrárias
Já o Padre Juvencio Kulibena tem as suas dúvidas:
"Pode acontecer que haja paz ou pode ser que não traga paz. Isso depende de como a administração vai ser efetuada em cada província governada por um partido. Enquanto um governa, o outro vais-se sentir descontente pela política de outro e cria um mal-estar e obstáculo. Isso irá desencadear conflitos também, mas isso também depende da abertura, muitas vezes o que nos estraga é não ouvir opiniões contrarias”
Muitos cidadãos na província da Zambézia, centro de Moçambique, ficaram entusiasmados e surpreendidos quando, recentemente, o Presidente da República Filipe Nyusi alertou para que as Forças de Defesa e Segurança se preparassem para as mudanças que irão acontecer nas fileiras, depois de acordos entre o Governo e a RENAMO. Para Manuel de Morais. "o discurso do Presidente da República foi bastante didático e eloquente e eu gostei. Iso leva-me a crer que temos que nos preparar para mudanças.”Segundo o padre Juvencio Kulibena, o discurso do chefe do Estado revela coragem e inclusão social dos que estavam esquecidos pelo Estado moçambicano. "Pode ser que ele tenha desenhado uma política e maneira de governar para integrar na sua governação aqueles que se sentiam afastados e marginalizados por terem opiniões contrárias à maneira de governar da FRELIMO.”
Acordo poderá levar muitas pessoas às urnas
Cidadãos ouvidos pela DW África acreditam que consumação de um acordo entre a RENAMO e o Governo da FRELIMO poderá levar muita gente às urnas, reduzindo a abstenção na província da Zambézia nas próximas eleições autárquicas marcadas para 2018 e as gerais de 2019.
Segundo o secretariado da Administração Eleitoral da Zambézia, nas eleições gerais de 2014 registou-se uma abstenção superior a 60%, uma situação que preocupa o Diretor do STAE daquela província moçambicana, Luís Cavalo,
"Estamos preocupados. É verdade que há muitas abstenções na Zambézia. Nós vamos intensificar a campanha eleitoral para vermos se conseguimos reduzir esta cifra”, concluiu.
O Hotel Chuabo de Quelimane: uma surpresa
Na cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, o Hotel Chuabo é uma referência histórica. Desenhado por arquitetos portugueses, o edifício de betão preserva um design único dos anos sessenta.
Foto: Gerald Henzinger
Fachada do Hotel Chuabo
No centro da cidade de Quelimane, em Moçambique, há poucos edifícios com mais de dois andares. Um deles é o Hotel Chuabo. A construção do edifício, um projeto da empresa portuguesa Monteiro&Giro, iniciou-se em 1954 e a inauguração teve lugar em 1966. Se a fachada de betão é pouco apelativa, no interior o visitante é surpreendido com o design único dos anos sessenta.
Foto: Gerald Henzinger
Um restaurante para todos
O interior de madeira escura é o original, o usado na época da construção. No piso superior do Hotel Chuabo situa-se o restaurante "Grill". Hoje, independentemente da cor da pele ou da origem, todos são ali servidos. Mas nem sempre foi assim. Durante a época colonial apenas o brancos ou os "assimilados" (negros considerados "equivalentes" aos europeus) podiam frequentar o "Grill".
Foto: Gerald Henzinger
Olímpio, o empregado leal
Manteve-se fiel ao Hotel Chuabo desde a inauguração. Olímpio já serviu políticos e personalidades africanas e internacionais com elevados cargos. Kenneth Kaunda da Zâmbia, Robert Mugabe do Zimbabué ou a rainha de Inglaterra foram alguns dos ilustres que serviu. "Não deves ter medo!", diz Olímpio.
Foto: Gerald Henzinger
Discoteca Malagangatana
Ao lado do restaurante "Grill" fica a discoteca Malangatana. Há muito que aqui não passa música, mas as paredes continuam a ostentar obras de pintores moçambicanos. O Hotel Chuabo foi desenhado pelos arquitectos portugueses Arménio Losa (1908-1988) e Cassiano Barbosa (1911-1998). E tem a curiosidade de ser o único edifício em Moçambique, da época, a ter persianas.
Foto: Gerald Henzinger
Escada em caracol
Do restaurante "Grill" parte uma escada em caracol que desce ao longo de vários andares. Também ela espelha o espírito dos anos 60. Quem não conseguir descer escadas pode apanhar o elevador, supostamente o único que funciona em toda a província da Zambézia.
Foto: Gerald Henzinger
Um quarto com charme
Depois da independência, em 1975, os 160 quartos do Hotel foram ocupados por militares e funcionários políticos da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Até 2005, o Hotel Chuabo foi gerido pela portuguesa Dona Amália. A sua gestão era feita com "mão de ferro".
Foto: Gerald Henzinger
Dormir aqui sai caro
Atualmente, o Hotel Chuabo é gerido pelo Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU) e serve para a formação de estudantes de turismo. O hotel não é barato. Quem quiser passar a noite nele terá de desembolsar 2500 Meticais (85 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
Ar condicionado é só decoração
Nem tudo o que parece é e nem todos os interruptores funcionam no Hotel Chuabo. Quem rode o botão "Temperature Control" esperará em vão que o ar condicionado se ligue. O velho ar condicionado foi há algum tempo substituído por um novo.
Foto: Gerald Henzinger
Lavandaria do Hotel
A lavandaria do Hotel Chuabo situa-se no segundo andar. Dez empregados encarregam-se da limpeza da roupa de cama, toalhas e uniformes. A maioria das máquinas de lavar ainda é dos anos sessenta e precisam de ser travadas manualmente. Mas já existem também duas máquinas novas e a compra de outras está planeada.
Foto: Gerald Henzinger
Cozinhar é preciso
Na cozinha do restaurante "Grill" trabalham quatro cozinheiros. Recebem mensalmente 3500 meticais (120 euros). Valor que é cerca de um terço acima do ordenado mínimo moçambicano. O prato mais famoso do restaurante é o "Frango à Zambéziana" (frango assado no churrrasco coberto com leite de coco).
Foto: Gerald Henzinger
Os anos parecem não passar pelo candeeiro
Quando perguntam ao senhor Olímpio porque é que o Hotel Chuabo está em tão bom estado de conservação, a resposta sai pronta: "aprendemos com os portugueses a ter cuidado com as coisas".
Foto: Gerald Henzinger
Coco Bar
No piso térreo situa-se o "Coco Bar" com capacidade para mais de duzentas pessoas. O ambiente é semelhante ao do restante Hotel.