Anunciado um histórico investimento de 22 mil milhões de euros para o projeto de desenvolvimento de gás na província moçambicana de Cabo Delgado.
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O consórcio liderado pela petrolífera norte-americana Anadarko acaba de anunciar o maior investimento de sempre em Moçambique para a exploração de gás Natural Liquefeito. Justiça social, prosperidade da economia nacional e muita paciência é o que os moçambicanos devem esperar do anúncio histórico do investimento no gás na Bacia do Rovuma.
Personalidades moçambicanas e ligadas a economia e desenvolvimento acreditam que Moçambique vai "engordar" os seus cofres. Mas o Presidente da República, Filipe Nyusi, alerta para que a partir de agora o país saiba gerir as muitas expetativas que se criam em volta da exploração de Gas Natural Liquefeito. Mais ainda, segundo o Presidente Nyusi, Moçambique encontra-se nesta terça-feira com o presente e o futuro para projetar um dos caminhos que deverá alavancar Moçambique na região Austral e no mundo."Ao mesmo tempo que erguerá o nosso legado perante as gerações presentes e futuras. O impacto transformador deste projeto é tangível e cria enormes expetativas para o futuro. Este projeto logrou gerar 4 500 postos de trabalho para moçambicanos e metade destes postos empregam membros adjacentes ao empreendimento", destacou Filipe Nyusi.
Não olhar só para o setor do gás
Também o primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário, chamou a atenção para não só se olhar para o setor do gás como a alavanca da economia do país.
"Queremos uma economia mais diversificada e por isso pensamos que esse sinal dos investidores no gás vai atrair outros investimentos diversificados. E o nosso país vai ter um futuro muito grande. Pensamos que nos próximos anos o nível de crescimento da economia será substancial e a área de agricultura deverá também crescer".
Com este investimento de 22 mil milhões de euros, Moçambique poderá ter muitos dos seus problemas económicos resolvidos, como afirmou o representante do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ari Aisen.
"Hoje é um dia em que a empresa [Anadarko] e os seus associados dão voto de confiança na atratividade de Moçambique explorar os seus recursos e é o primeiro passo para que os recursos eventualmente cheguem ao país para aumentar os cofres públicos e fazer mudanças que o país necessita e bem geridos para alcançar os seus objetivos de desenvolvimento que o país tem e que temos que apoiar"
Investimento com grande impacto
Por seu turno, o economista e antigo secretário executivo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Tomás Salomão, não tem dúvida de que o investimento terá grande impacto na economia do país mas os moçambicanos terão de ter paciência.
Consórcio de gás natural anuncia um dos maiores investimentos de sempre em Moçambique
"O impato surgirá a médio e longo prazo mas mesmo essas coisas que sem impacto de longo prazo tem o momento para começar. Parece que este momento é importante. É preciso que daqui para o futuro os atores saibam levar para o terreno aquilo que deve ser feito para contribuir para um país de maior equidade e maior justiça social e menos desigualdade".
A CTA, Confederação das Associações Económicas, vê este financiamento com bom olhos mas o presidente da agremiação, Agostinho Vuma apresentou uma queixa.
"Enquanto não houver uma lei sobre o conteúdo local destas plataformas, o próprio evento de anúncio da Decisão Final de Investimento serve para troca de impressões e interação entre empresas do setor".
O projeto Gas Natural Liquefeito também conhecido por Golfinho Atum cujo investimento é de 25 mil milhões de dólares (cerca de 22 mil milhões de euros) não pressupõe nenhuma garantia por parte do Estado Moçambicano.
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.