Moçambique: Contestatários da RENAMO recusam entregar armas
Lusa
4 de agosto de 2019
Líder do braço armado que contesta liderança do partido recusou este domingo (04.08) entregar as armas no quadro do acordo de paz assinado com o Governo sem que seja eleito um novo presidente da formação política.
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"Nós vamos eleger o nosso presidente e só depois é que vamos entregar as armas", disse Mariano Nhongo, general da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que deixou um aviso ao Governo e ao atual líder do partido, Ossufo Momade: "Não [nos] enganem, os militares estão do meu lado".
Falando em teleconferência a partir de Gorongosa para jornalistas na cidade da Beira, centro do país, o líder do grupo autoproclamado Junta Militar da RENAMO disse que o acordo assinado na quinta-feira pelo chefe de Estado, Filipe Nyusi, e por Ossufo Momade serve para "enganar o povo", na medida em que o braço armado da Renamo não vai entregar as armas sob liderança do atual presidente do partido.
"A assinatura [de um acordo] é coordenação. Não é só pegar numa caneta e assinar. Está assinar o quê?" -- questionou Mariano Nhongo, acrescentando há militares da RENAMO a abandonar as bases naquela região, onde estavam acantonados.
Militares vão eleger líder, diz Nhongo
Questionado sobre um ataque na quarta-feira contra um autocarro de passageiros e um camião em Nhamapadza, a 200 quilómetros do distrito de Gorongosa, Mariano Nhongo disse que não foi obra do grupo que dirige.
"Eu não sou bandido, não me confundam. Estou a reivindicar coisas reais e quando quiser começar com a guerra vou avisar", acrescentou.
Na ocasião, Mariano Nhongo convocou, uma vez mais, uma conferência de militares do partido para o dia 17 de agosto, um encontro que servirá, no seu entender, para eleger um novo presidente.
"Estão a assinar um acordo com Ossufo, mas Ossufo não tem militares. Nós vamos escolher o nosso líder e, se não nos deixarem, aí sim vamos pegar em armas", concluiu.
O grupo exige a renúncia de Ossufo Momade, acusando-o de estar a "raptar e isolar" oficiais da RENAMO que estiveram sempre ao lado do falecido presidente do partido, Afonso Dhlakama, que morreu a 03 de maio do ano passado.
"Quando fomos ao congresso, abrimos espaço para que todos se candidatassem. O congresso elegeu Ossufo Momade. Não é através de um grupo de desertores indisciplinados que vamos definir a nossa linha", disse o líder, falando à imprensa momentos após aterrar no Aeroporto Internacional de Maputo.
Acordo de Paz histórico em Moçambique
Em Moçambique, o Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, formalizaram na quinta-feira (01.08) o fim das hostilidades militares no país. O acordo, já considerado histórico, é o terceiro em 25 anos.
Foto: DW/A. Sebastião
Acordo histórico
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, erguem o acordo de paz e fim das hostilidades, que foi assinado na Serra da Gorongosa, província de Sofala, centro do país. O local é conhecido como bastião da RENAMO. O acordo tem como objetivo acabar com os confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/A. Sebastião
Anos de hostilidade
"Estamos aqui em Gorongosa para dizer a todos moçambicanos e ao mundo inteiro que acabámos de dar mais um passo, que mostra que a marcha rumo à paz efetiva é mesmo irreversível", declarou Filipe Nyusi, referindo-se ao acordo assinado com a RENAMO. É o terceiro documento após anos de hostilidades. O primeiro foi assinado em 1992, em Itália - o chamado Acordo Geral de Paz de Roma.
Foto: DW/A. Sebastião
Virar a página
"Com esta assinatura do acordo de cessação das hostilidades militares, queremos garantir ao nosso povo e ao mundo que enterramos a lógica da violência como forma de resolução das nossas diferenças", afirmou o líder da RENAMO, Ossufo Momade, ressaltando que "a convivência multipartidária será o apanágio de todos partidos políticos".
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Silenciar das armas
O pacto cala oficialmente as armas e prolonga de forma definitiva uma trégua que durava desde dezembro de 2016, depois de vários anos de confrontos armados entre as forças governamentais e o braço armado da RENAMO.
Foto: DW/A. Sebastião
Abraço da paz
Na cerimónia de assinatura do acordo, o Presidente de Moçambique Filipe Nyusi mostrou-se otimista em relação aos próximos anos, dizendo que "a incerteza deu ligar à esperança e o futuro de Moçambique é promissor".
Foto: DW/A. Sebastião
"Paz vai ser testada nas eleições"
Este novo acordo é um passo muito importante para Moçambique e também para todos os partidos. Daviz Simango, líder do MDM, esteve na cerimónia e alertou: "Temos que trabalhar muito neste processo eleitoral que se avizinha. Portanto, se o STAE nos proporcionar o teatro, que tem vindo a fazer de ciclo em ciclo eleitoral, pode proporcionar o retorno a essas situações de conflitos militares".
Foto: DW/A. Sebastião
Unidos pelo acordo
Horas depois da assinatura do acordo, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na Beira que o Governo e a RENAMO vão unir-se para debelar qualquer tentativa de prejudicar o acordo de cessação definitiva de hostilidades militares.