Mais um jornalista ameaçado no pós-eleições em Moçambique
Amós Fernando (Tete)
25 de outubro de 2018
Em menos de duas semanas, dois jornalistas foram alvo de ameaças em Moatize, na província moçambicana de Tete. O caso mais recente foi protagonizado pelo edil da cidade. Jornalistas e MISA-Moçambique estão preocupados.
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O primeiro caso está relacionado com a publicação de resultados das eleições autárquicas que decorreram em Moçambique a 10 de outubro. O segundo com ameaças que terão sido feitas pelo cabeça de lista da FRELIMO.
A primeira ameaça a um profissional dos media nesta província moçambicana foi registado a 11 de outubro, um dia depois das eleições autárquicas. O jornalista e editor do semanário Malacha foi alvo de ameaças depois de ter publicado, na página do Facebook do seu jornal, os resultados das 49 mesas de votação que estiveram a funcionar naquela vila.
Esta semana, Funga Caetano, da Agência de Notícias Zitmanews, diz ter sido ameaçado pelo cabeça de lista da FRELIMO e atual edil de Moatize, Carlos Portimão.
Em entrevista à DW África, o jornalista conta que o autarca ameaçou agredi-lo por este ter partilhado na sua conta do Facebook uma notícia do Canal de Moçambique, que dava conta de uma agressão por parte do edil ao diretor distrital do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) em Moatize."Ele ligou para mim, com um número não habitual, identificou-se como Portimão. Para a minha segurança, gravei a chamada e ele disse que estava à minha procura e que me ia agredir. Não quis desafiá-lo, apenas tentei explicar que o artigo não era da minha autoria, que apenas o tinha partilhado", contou à DW Funga Caetano.
Depois da conversa telefónica, o jornalista pôs a circular nas redes sociais o áudio da conversação, no qual se ouve o edil a pronunciar palavras injuriosas contra o repórter.
Classe preocupada
Os jornalistas da província de Tete dizem-se preocupados com os últimos acontecimentos. Para o repórter Mohamed Rafique, trata-se de uma tentativa de silenciar a classe. "É importante que se faça alguma coisa de modo a que esta tentativa não tenha pernas para andar, porque caso contrário iremos ter uma classe a trabalhar condicionada", afirma o repórter, para quem o mais agravante é o facto de ser "protagonizado por um edil".
Outros jornalistas em Tete, que não quiseram gravar entrevistas por temerem represálias, condenam a atitude do edil de Moatize e exigem que seja responsabilizado.
Moçambique: Continuam as ameaças a jornalistas no pós-autárquicas
Também o Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique), entidade que trabalha em defesa dos jornalistas, entende que "uma ameaça a um jornalista deve merecer uma condenação ao mais alto nível", neste caso, "do próprio partido FRELIMO".
Lázaro Mabunda, oficial de programas do MISA - Moçambique, acrescenta ainda que o "partido deve censurar publicamente indivíduo" em causa. "Não se pode continuar a estar num país em que os jornalistas não podem fazer o seu trabalho de forma livre por medo de ameaças de pessoas que têm outros interesses obscuros e os querem silenciar", disse.
Autoridades em silêncio
Para o MISA-Moçambique, o facto de as autoridades não comentarem os vários casos de agressões e indimidações a jornalistas, que têm acontecido um pouco por todo país, é preocupante. "Nunca ouvimos um pronunciamento público da polícia a condenar estas ações, nunca ouvimos o Governo a condenar estas ações. Isso deixa transparecer que a própria polícia sabe quem são as pessoas que andam a fazer isso", diz Lázaro Mabunda.
Já este ano, o jornalista Funga Caetano teve o seu equipamento de trabalho roubado, quando ainda era repórter da TV Miramar, dias depois do edil de Moatize, Carlos Portimão, ter dito publicamente que o repórter estava a escrever assuntos pouco abonatórios para o município de Moatize.
A DW África tentou ouvir Carlos Portimão sobre as acusações, mas o autarca mostrou-se indisponível. Em conversa telefónica, prometeu "retornar a chamada", mas até ao momento não o fez.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.