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Moçambique: "Corrupção" trava acesso dos jovens ao emprego

Jovenaldo Ngovene (Tete)
4 de outubro de 2022

Jovens são quem mais sofre com a falta de emprego na província de Tete, centro de Moçambique. À DW, apontam a corrupção, o nepotismo e a exigência de anos de experiência como fortes entraves à entrada no mercado laboral.

Foto: Luciano da Conceicao/DW

Sílvio Campanje, formado na área de mineração há quatro anos, nunca teve um trabalho seguro. "Hoje em dia, para conseguires um bom emprego, tens de ter uma influência. Sem isso, as oportunidades escasseiam", lamenta.

Outro jovem, Faduco Semente, tem um experiência semelhante. Formado em serralharia mecânica e gestão ambiental há uma década, Faduco só conseguiu trabalhar durante dois anos. Atualmente, está desempregado como milhares de outros jovens em Moçambique. Porquê? "Por causa da corrupção", indica.

"Tu vais para lá, concorres com alguém de igual para igual, voltas para casa, tens qualidade e experiência, mas acabam por não te recrutar, porque não te conhecem."

Mais 89 mil empregos até 2025

Segundo dados do Instituto Nacional de Emprego (INEP) em Tete, a província pretende criar cerca de 89 mil empregos até ao final de 2025, sendo que até ao momento já foram apresentadas 43 mil ofertas.

Apesar do aumento do número de jovens formados em Tete, escasseiam oportunidades de emprego à altura das suas qualificaçõesFoto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe

Este plano, porém, não consegue acompanhar o número crescente de jovens formados e de estabelecimentos de ensino, que tem aumentado em diversas áreas de estudo, com destaque para a formação técnico-profissional. O problema também afeta outras províncias.

Em setembro, na primeira feira de emprego de Tete, onde estiveram presentes 30 instituições públicas e privadas, foram expostas apenas 80 vagas de trabalho para os mais de 1.000 jovens que procuravam uma oportunidade no mercado laboral, o que deixa poucas alternativas para centenas de pessoas qualificadas.

A jovem Carlota Sopia ainda está em formação, mas já teme os problemas do mercado de trabalho. "Eles querem pessoas com experiência profissional e nós, sem experiência profissional, acabamos prejudicados", comenta.

Segundo o ativista social Júlio Calengo, é preciso capacitar os jovens para que saibam transformar o seu conhecimento científico em negócios de sucesso.

"Os meus irmãos precisam de ser capacitados. Tudo isso passa necessariamente por uma capacitação em negócios e gestão, e por capacitação na identificação dos problemas e oportunidades", sugere.

Falta de emprego entre os jovens é um problema transversal a várias províncias de MoçambiqueFoto: Luciano da Conceição/DW

Programas em curso

Dados fornecidos pelo INEP, referentes ao primeiro semestre deste ano, indicam que os setores do comércio e mecânica são os que mais empregaram na província de Tete.

Paulo Matapa, representante da instituição nesta província, diz ser uma "preocupação" do Estado ocupar todos os jovens profissionalmente. O responsável reconhece as dificuldades, mas refere que há vários programas em curso para tentar mitigar o problema.

"A feira de emprego é uma das medidas... Temos alguns programas como o 'Meu kit, meu emprego', estágios pré-profissionais e alguns programas da secretaria de Estado da Juventude e Emprego como o 'Mais emprega'. Temos ainda o Fundo de Apoio a Iniciativas Juvenis (FAIJ) e outros programas com a finalidade de dar oportunidades aos jovens", conclui.

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