Fundo Especial criado há uma semana pela CPLP para apoiar comunidades afetadas no centro de Moçambique continua aberto a contribuições. Organização desvaloriza críticas à disparidade dos valores fornecidos pelos membros.
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O fundo aberto a contribuições adicionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) conta com uma verba significativa de Timor-Leste, que disponibilizou um milhão de dólares norte-americanos (cerca de 890 mil euros), contra os 100 mil euros de países como Portugal ou a Guiné-Bissau.
As diferenças no apoio dos países da CPLP a Moçambique têm gerado críticas, nomeadamente a irrisória contribuição igualmente de 100 mil euros prometida pelo Brasil, conforme anunciou o Ministério da Relações Exteriores.
O secretário executivo da organização desvaloriza as diferenças entre as contribuições dos países membros para apoio de emergência às populações vítimas da catástrofe natural que assolou a região centro de Moçambique.
"Não vou entrar no debate quem deu quanto e o quê. O que eu lhe posso dizer é que, uma semana e meia depois da constituição do fundo estarem neste momento já disponibilizados um milhão e meio de euros é bastante significativo", considera o embaixador Francisco Rebelo Telles.
O valor de 100 mil euros disponibilizado pelo Brasil, por exemplo, é semelhante à verba fornecida pela Guiné-Bissau, país de menos recursos financeiros. Rebelo Telles sublinha que não responde por estes países e que "todas as contribuições são bem vindas”: "Não me cabe a mim responder agora sobre os montantes que cada país dá, o que anunciou e o que não anunciou. O que eu posso dizer é que o fundo especial está aberto e continuará aberto nos próximos tempos".
Apoios não podem ser descartados
CPLP apoia vítimas do ciclone Idai com 1,5 milhões de euros
O diplomata português ao serviço da CPLP fez estas declarações após a assinatura, esta segunda-feira (08.04), em Lisboa, de um memorando de entendimento, que assegura a transferência para Moçambique de um milhão e 500 mil euros, destinados a contribuir para os esforços de resposta à situação de emergência provocada pela passagem do ciclone Idai, a 14 de março.
De acordo com o estabelecido, a primeira instituição beneficiária do referido fundo é o Instituto de Gestão das calamidades Naturais de Moçambique (INGC).
O secretário executivo da organização lusófona acredita que o fundo, que já conta com uma adesão significativa, poderá mobilizar no futuro uma maior participação de parceiros para o auxílio a Moçambique.
Ribeiro Telles deu a conhecer o convite formulado aos observadores consultivos da CPLP e outras organizações interessadas em dar também o seu apoio a Moçambique. Vários organismos, abrangendo as áreas da saúde, do ambiente e dos recursos hídricos, também estiveram reunidos na sede da organização, esta segunda-feira, para pensar numa forma estruturada e integrada sobre o tipo de ajuda a prestar ao país irmão. "Foi muito importante, nesta primeira fase, a ajuda humanitária, mas agora há que pensar, a curto e médio prazo, na reconstrução das zonas afetadas", sublinha.
Joaquim Bule, embaixador de Moçambique, considera significativas as ajudas mobilizadas pela CPLP: "Aqui não é possível descartar este e aquele apoio como sendo suficiente ou insuficiente. O que resultou do ciclone justifica que a contribuição da CPLP seja feita e a contribuição de todos os outros que entenderem por bem que podem assistir também que o façam".
O diplomata moçambicano diz que existem mecanismos instituídos pelo próprio Governo da República de Moçambique para garantir o uso dos fundos com transparência. A ajuda, precisa Bule, está sujeita a uma auditoria externa, "um mecanismo de prestação de contas que permita que as pessoas possam saber para que é que o dinheiro foi gasto".
"Os recursos que os Estados membros decidiram disponibilizar serão utilizados com a transparência necessária", garante.
Moçambique: Vítimas de ciclone tentam o regresso à normalidade após Idai
Na província de Tete as famílias vítimas do ciclone Idai, aos poucos, vão acordando do pesadelo para encarar a nova realidade. Lutam pela sobrevivência e tentam ao mesmo tempo recuperar os seus pertences.
Foto: DW/A. Zacarias
Rasto de destruição
Estima-se que mais de cinco dezenas de casas ficaram completamente destruídas pelas inundações dos rios Rovúbwe e Zambeze, na cidade de Tete. Foram mais 9 mil pessoas afetadas pelas cheias em toda província de Tete. Muitas das quais, foram desalojadas das suas casas.
Foto: DW/A. Zacarias
Ainda há casas inundadas
Há também muita água estagnada no interior de algumas casas. Muitos bens perdidos. Contabilizam-se também muitos prejuízos materiais.
Foto: DW/A. Zacarias
Limpeza das famílias
Várias famílias estão a regressar aos poucos às zonas de origem, mesmo que sejam consideradas de risco. No Bairro Chingodzi, unidade 03 de Fevereiro as poucas casas que resistiram à fúria das águas do rio Rovúbwe, ainda continuam cheias de lama. Os proprietários esforçam-se em limpezas. Em algumas casas a lama chegou a atingir um 1 metro de altura. Acabando por soterrar muitos bens.
Foto: DW/A. Zacarias
Regressar a casa mesmo que seja em zona de risco
Tatos Fernando, 29 anos de idade. Teve uma casa completamente alagada. Não desmoronou mas tem muitas fissuras. Agora está a construir uma nova casa. Reconhece que está numa zona de risco. Está disponível a abandonar a zona caso o município de Tete e o governo lhe dê um espaço numa zona segura.
Foto: DW/A. Zacarias
Muitas aulas perdidas
Nino Alferes – é um rapaz de 12 anos de idade. Hoje a sua grande preocupação é recuperar as aulas perdidas. Até porque sabe que não será nada fácil. “Perdi todos os meus livros e muita matéria está perdida”, diz Nino. A semelhança de Nino há muitas crianças que perderam tudo e estão a começar do zero.
Foto: DW/A. Zacarias
Medo de Crocodilos e Erosão
Francisco Martinho é um dos sobreviventes. Teve a sua casa alagada, mas resistiu. Tenta recuperar muitos documentos e livros que se molharam devido a invasão das águas. A sua casa corre sérios riscos de desabar devido a erosão sobre o rio Rovúbwe, mas também tem medo de crocodilos, “basta dar 18 horas toda família fica dentro da casa, porque de repente podem aparecer aqui crocodilos”, relatou.
Foto: DW/A. Zacarias
Centro de Reassentamento de Chimbonde
Neste momento, está a ser montado um centro de reassentamento, na região de Chimbonde, cerca de 15 Km do centro da cidade e Tete. No local já estão alojadas mais de 80 famílias. Foram igualmente demarcados mais de 140 talhões. Mas há ainda talhões por demarcar, segundo Richard Baulene. O outro centro será montado no bairro Mpádue.
Foto: DW/A. Zacarias
Garantidos serviços básicos em Chimbonde
No centro de reassentamento de Chimbonde, cada família recebe uma tenda, feita com lonas, fixadas em estacas, num talhão de 15/20 metros. No local estão garantidos alguns serviços básicos, como água, saneamento de meio, serviços sanitários e está para breve a eletrificação da zona.
Foto: DW/A. Zacarias
Chegam mais famílias no Chimbonde
Não obstante os desafios que lhes esperam pela frente de reiniciar a vida numa nova zona os reassentados de Chimbonde mostram-se felizes por considerar o local seguro. No centro, a DW ÁFRICA encontrou mais de 30 voluntários da Cruz Vermelha que estão ajudando na construção das tendas improvisadas para os reassentados.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias continuam abrigadas
Na cidade de Tete, mais de 600 famílias estiveram abrigadas no Centro de Acomodação da Escola Comercial e Industrial de Matundo. Em Tete foram montados 5 centros dos quais 3 nos distritos de Mutarara e Doa. Continuam abrigadas no centro da Escola Industrial de Matundo mais de 200 famílias, cerca de 1000 pessoas. Algumas famílias estão em tendas, mas outras dormem num salão multi-uso da escola.
Foto: DW/A. Zacarias
Erosão Pós-cheias
Jorge Mafalauzi, tem 30 anos de idade. É pai de 4 crianças. Sabe que tinha uma casa de 3 quartos. A água levou tudo. Pior ainda, agora não consegue chegar onde era sua casa, porque devido à erosão o lugar foi invadido pelo leito do rio Rovúbwe. Mafalauzi vive numa tenda oferecida pelo INGC, próximo da sua antiga casa, nas bermas do rio Rovúbwe e fala de falta de mais apoios do Instituto.