Moçambique: "Damos aquilo que as vítimas precisam"
2 de setembro de 2025
O primeiro gesto desta iniciativa, que está a ser levada a cabo pela Plataforma Decide, com o apoio de alguns parceiros, teve lugar nos bairros suburbanos da cidade da Beira. Um curso profissional na área da culinária e produtos alimentares foi o que solicitou a primeira família beneficiária, que perdeu o elemento que a sustentava durante as manifestações.
A ajuda chegou na semana finda a outras famílias que, entre outros, solicitaram material de construção para reabilitação das suas moradias.
A DW falou com uma anciã, por sinal mãe de um jovem de 24 anos que foi baleado mortalmente alegadamente pela polícia a 24 de dezembro quando se deslocava a pé para o trabalho, num dia em que, por conta dos protestos, não havia transporte de passageiros.
O jovem, como conta a mãe, era o único provedor desta família com seis membros, entre os quais crianças menores e idosos.
"Ele estava a ajudar a comprar arroz e farinha para comer com as crianças. Aquele meu filho esforçava-se muito, ajudava aos irmãos com o material escolar, ia aos biscates e à noite à escola para ajudar a família," conta.
Hernissa Raimundo, outra beneficiária desta iniciativa, conta à DW que perdeu tudo nas manifestações. O seu marido, que também foi alegadamente baleado pela polícia, ficou com mazelas que o impedem de trabalhar. Há dez anos, o casal dedicava-se a sua vida ao negócio. Agora, está há nove meses a viver numa casa de renda.
Sem dinheiro para a pagar, e com três filhos menores, esta família tem vivido do apoio oferecido pela igreja, familiares e vizinhos. Agora, à iniciativa da Plataforma Decide pede ajuda para pagar as passagens para Nacala-Porto, a sua terra natal.
"Cheguei a este ponto por causa das manifestações. O meu marido foi baleado, teve trauma abdominal, foi no dia 24 de dezembro quando ia ao serviço pelas oito horas. Desde aquele dia vivi muita coisa, tive muitas dificuldades," relata.
"Ele vivia de negócios, não tinha emprego. Eu também fazia negócios lá no mercado de Maquinino. Então, tudo ficou parado desde aquele momento até hoje. Passamos por dificuldades, não tivemos alimentação. Não tínhamos como nos alimentarmos nem apoio. Não tínhamos como pagar a casa, não tínhamos como alimentar as crianças," descreve a viúva.
Ajudar com o necessário
Wilker Dias, diretor executivo da Plataforma Decide, diz que a organização pretende chegar a mais pessoas vulneráveis, mas que esta vontade está dependente da capacidade financeira.
"O apoio é diverso como podem ver: é material de construção, outros são telemóveis para poderem regressar às aulas, outros em ajuda alimentar. Até temos máquinas de ralar coco como exemplo. Então, nós damos aquilo que as vítimas precisam neste preciso momento," afirma.
Quase todas famílias que perderam os seus entes queridos ou tiveram os seus familiares feridos estão em condições de vulnerabilidade preocupante, disse ainda Wilker Dias, acrescentando que pelo menos duas mil pessoas estão a precisar de apoio psicossocial e ou medicamentos.