Líder do MDM denuncia clima de intolerância política em Moçambique. Daviz Simango acusa a FRELIMO de impedir reuniões daquela força da oposição em Inhambane e alerta para o risco de desvio de apoios do Estado.
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O opositor moçambicano Daviz Simango, em entrevista à DW África, acusa a Frente de Liertação de Moçambique (FRELIMO) de interditar reuniões do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política do país, em Inhambane.
Segundo o líder partidário, o MDM sondou vários responsáveis de salões de eventos em Inhambane para realizar uma reunião do partido no sábado (20.09), mas ninguém aceitou receber aquela força da oposição. Numa das salas, o MDM chegou mesmo a pagar o aluguer, mas os donos terão cancelado o evento e devolvido o dinheiro, alegando que estavam a ser ameaçados pela elite política no poder.
"Fiquei chocado com a vergonha em Inhambane. Não entendi porque um partido político que se diz ser governante possa coagir um empresário a não aceitar o MDM a reunir-se, mesmo que tenha recebido dinheiro, com alegações de que está a ser ameaçado", relata Daviz Simango.
Segundo o líder do MDM, só uma sala de eventos esteve disponível para acolher o MDM, mas o preço acabou por ser inflacionado. O partido terá pago sete vezes mais do que o preço normal.
Intolerância política não será situação nova, diz MDM
Daviz Simango mostra-se apreensivo com a conjuntura política atual em Moçambique, mas lembra que há um ano, em plena campanha eleitoral, a caravana do líder do MDM foi barrada várias vezes por supostos membros da FRELIMO. Para o opositor, a situação mostra que há “intolerância política” em Moçambique, algo que condena "veementemente".
O líder do MDM está também preocupado com os ataques armados no centro e norte do país. Daviz Simango pede ao Governo que inicie negociações com a autoproclamada Junta Militar da RENAMO, para acomodar todos os guerrilheiros que combateram ao lado do antigo líder daquele partido da oposição, o já falecido Afonso Dhlakama.
"Estamos preocupados com os conflitos na zona centro. Houve má negociação por não envolver os generais e soldados da RENAMO. Apelo ao diálogo e ao governo e à própria Junta Militar para se sentarem na mesma mesa, de forma justa, para que [os combatentes] se possam sentir integrados, porque sabemos que o malogrado vivia com estes guerrilheiros. Há que encontrar uma saída para que não haja mais ataques na zona centro", defende Daviz Simango.
Em relação aos ataques de insurgentes na província nortenha de Cabo Delgado, o presidente do MDM opina que se tem de condições "para que o terrorismo não se alastre a outras províncias". "É preciso que as Forças de Defesa e Segurança não violem os direitos humanos por raiva e má disposição. Isto mancha e [coloca] o país na lama", adverte.
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Desvio de fundos de apoio para agricultores
Outra das preocupações de Daviz Simango tem a ver com o projeto "Sustenta". O programa de apoio social visa ajudar os agricultores para que possam aumentar a sua capacidade de produção, mas o presidente do MDM afirma que a iniciativa não passa de mais um "bolo" para os membros do partido no poder.
"Em Gaza, por exemplo, 99% dos beneficiários do anterior projeto não pagaram nada. Distribuíram-se tratores a vários empresários que não estavam ligados à produção agrária. Portanto, pode-se estar a apoderar camaradas para interesses privados e isso é muito mau", alerta.
A DW África contactou várias vezes a FRELIMO para obter uma reação às declarações de Daviz Simango, mas não obteve resposta.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.