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"Deceção é ausência de Ossufo Momade" na caça ao voto

29 de agosto de 2024

Analista diz que ausência do país do presidente do maior partido da oposição moçambicana, na primeira semana de campanha eleitoral, "traz muitos questionamentos".

Ossufo Momade, presidente da RENAMO
Ossufo Momade ainda não foi visto em público durante a campanha eleitoralFoto: Bernardo Jequete/DW

A campanha eleitoral para as eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique cumpre, esta quinta-feira (29.08), o quinto dia e o líder da Resistência Nacional Moçambique (RENAMO), Ossufo Momade, candidato presidencial, ainda não foi visto em público nas ações do partido.

A sua ausência é justificada pelo porta-voz da RENAMO, Marciano Macome, com uma "missão de trabalho do partido fora do país". Macome disse à DW que Momade "chega amanhã a Moçambique e vai arrancar este fim de semana com a campanha elitoral. Vai avançar neste domingo para Nampula e depois vai avançar para Cuamba e vai dar início  ao trabalho em Cuamba". No entanto, e em entrevista à DW, o analista político Calton Cadeado diz que esta ausência "é a grande deceção" da primeira semana de campanha e "levanta muitos questionamentos e incógnitas".

DW África: Como avalia a primeira semana de campanha eleitoral em Moçambique?

Calton Cadeado (CD): Até agora está tudo calmo. Há um interesse muito grande de todos os candidatos à Presidência da República e dos partidos de se fazerem presente em todos os cantos. A grande deceção é a ausência do senhor Ossufo Momade, o que traz muitos questionamentos, muitas incógnitas, inclusive, já estão no espaço público, nas redes sociais. [Outra das incógnitas] é saber o que há de novo nos discursos.

Calton Cadeado, analista moçambicanoFoto: Privat

DW África: O que é que pode estar por detrás desta ausência do presidente do maior partido da oposição em Moçambique?

CD: O porta-voz do partido veio a público dizer que ele está fora do país numa missão partidária. Mais do que isso, ele diz que é especulação.

DW África: Não é estranho que essa saída a trabalho não tenha sido publicitada justamente em época de campanha?

CD: É estranho que não tenha sido publicitada. E é estranho também que tenham feito coincidir a visita na altura em que mais se precisa do candidato, o que revela, ou um erro de planificação, ou outro problema que nós desconhecemos, mas que não é normal que aconteça.

DW África: Esse silêncio ruidoso de Ossufo Momade vem corroborar com as especulações de que a RENAMO ou o seu líder se terá unido à FRELIMO naquilo a que o povo chama comumente de FRENAMO?

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CD: Eu acho que isso é um exagero, pelo menos não temos evidências claras que mostrem essa união. Há interesses partilhados, comuns, que levam à aprovação de alguma legislação, mas não acredito que eles venham a fazer algum acordo em termos de partilha de poder. Todos eles estão a lutar pelo poder. Mas não quero ser ingénuo para assumir que não existe alguma coisa, só não tenho é evidências que possam comprovar isso.

DW África: Faz sentido sob o ponto de vista da transparência de prestação de contas que os líderes partidários venham a prestar contas do dinheiro gasto durante a caça ao voto?

Sim, é o normal, é o que se exige em qualquer democracia. No entanto, aqui em Moçambique é quase que anormal. Ninguém presta contas. A FRELIMO presta, pelo menos dentro dos seus órgãos.

DW África: E acha que era a altura da sociedade civil moçambicana começar a levar a sério este tipo de exigência?

CD: Sim, já se faz um e outro, mas é tudo uma elite restrita, circunscrita à cidade de Maputo, a duas ou três pessoas que eu posso mencionar: por exemplo, o professor Adriano Nuvunga, que já escreveu inclusive textos sobre isso; a outra pessoa é o professor João Pereira, que também já escreveu sobre isso. Mas mais do que isso, não se vê quase nada em matéria de exigência de prestação de contas públicas. Aliás, para não ser injusto, também o IMD (Instituto para Democracia Multipartidária) [escreveu sobre isso].

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