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Moçambique: Demora na promulgação da lei levanta questões

João Carlos
8 de junho de 2024

Um mês após a Assembleia da República aprovar a revisão da lei eleitoral, a mesma ainda aguarda promulgação. Demora pode impedir que novas regras se apliquem nas eleições de outubro, alerta analista Guilherme Mbilana.

Guilherme Mbilana, analista político moçambicano (Foto de arquivo)
Guilherme Mbilana, analista político moçambicano (Foto de arquivo)Foto: DW/N. Issufo

Em Moçambique, a Assembleia da República aprovou, em finais de abril, a revisão da legislação eleitoral necessária para viabilizar as eleições gerais de 9 de outubro. Contudo, um mês após a aprovação unânime pelo Parlamento, a lei ainda aguarda a promulgação pelo Presidente da República, gerando preocupações sobre os constrangimentos que esta demora pode causar na aplicação das novas regras.

Em entrevista à DW, o analista político Guilherme Mbilana sugere que a demora na promulgação pode ter motivações políticas. Mbilana argumenta que o Presidente, no final do seu segundo mandato e sem um sucessor claramente definido, pode estar a enfrentar uma realidade política inesperada, especialmente após não conseguir que o seu apoiado, o ex-secretário-geral Roque Silva, fosse indicado como candidato da FRELIMO à Presidência da República.

Este cenário de incerteza e frustração pode estar a contribuir para o atraso na promulgação da lei eleitoral, comenta Mbilana.

DW África: Como essa demora pode ser interpretada politicamente? Quais são os possíveis motivos por trás desse atraso?

Guilherme Mbilana (GM): A leitura que se faz, de um modo especulativo, é que o Presidente da República está diante de uma realidade que ele não esperava que fosse desenhada desta maneira. Isso em relação à situação dele, não só porque está no fim do segundo mandato e, de acordo com a Constituição da República, já não tem mais espaço. No encontro do comitê central para a escolha de um potencial candidato para a eleição presidencial, que foi problemático, ele não conseguiu fazer passar o seu apoiado, Roque Silva, como candidato. Seria um delfium dele. Isso frustou-o e isso pode ter contribuído para a demora na promulgação da lei eleitoral.

Filipe Nyusi, Presidente moçambicano (Foto de arquivo)Foto: João Carlos/DW

DW África: Ou seja, esta demora é por questões meramente políticas?

GM: O mais agravante disso é a característica do Partido FRELIMO de lambe-botas, que se comporta como um lacaio que pode servir a um e no dia seguinte servir a outro. Aqueles que sempre falaram bem do Presidente Nyusi já o abandonaram e agora apoiam o indicado como candidato a Presidente da República. Esta mudança de alianças políticas pode ter levado o Presidente a demorar no processo. Além disso, há a questão dos candidatos a deputados da Assembleia da República e das assembleias provinciais, cujas nomeações ainda não estão concluídas. Esse processo não está terminado. Esses candidatos a governadores de província são, em grande parte, escolhidos pelo Presidente, o que pode estar a contribuir para a demora.

DW África: E se a promulgação continuar a ser adiada, quais podem ser as consequências legais e políticas para as eleições de outubro?

GM: Nos últimos dois ou três anos com o Presidente Nyusi, nunca se respeitou nenhuma lei, sobretudo a Constituição da República. Os prazos e procedimentos passavam ao lado dele. E ele escuda-se na escalada do conflito em Cabo Delgado, porque ele escuda-se nas tropas ruandesas concretamento.

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