Denúncias de uso de crianças na campanha eleitoral
Sitoi Lutxeque (Nampula)
5 de setembro de 2019
A Sala da Paz, uma plataforma de observação eleitoral, denuncia que há crianças que têm sido usadas pelos partidos com o intuito de fazer propaganda política. Mas os dois principais partidos negam.
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Os principais partidos moçambicanos têm usado crianças na campanha eleitoral, denuncia a Sala da Paz, uma coligação de organizações da sociedade civil. A situação viola a lei moçambicana e tem inquietado as autoridades policiais. Já os partidos reconhecem a presença de crianças nas suas caravanas, mas negam que as estejam a usar para fins propagandísticos.
Dércio Alfazema, representante da Sala da Paz, conta que uma criança, que seguia uma campanha, morreu atropelada no distrito de Moma, província de Nampula.
Denúncias de uso de crianças na campanha eleitoral
Outras crianças têm usado "vestimentas dos partidos políticos, ostentando panfletos, dísticos e outros materiais de campanha. É difícil controlar, uma vez que elas seguem as caravanas, mas também temos visto crianças nos carros, nas viaturas, fazendo parte das caravanas dos partidos", relata Alfazema.
A Rede de Comunicadores Amigos da Criança (RECAC), citada pelo jornal moçambicano Txopela, refere que têm sido partilhadas nas redes sociais fotografias de crianças a desfilar com símbolos de partidos políticos. A organização alerta que o uso de crianças na campanha eleitoral coloca em causa a sua segurança e bem-estar.
Polícia adverte partidos
Zacarias Nacute, porta-voz da polícia em Nampula, garante que foi feito um trabalho de sensibilização junto dos partidos políticos: "Foram proibidos de fazer constar menores nas suas caravanas", diz.
Ainda assim, as forças de segurança dizem ter encontrado "menores a fazerem parte das caravanas". Por isso, voltam a "insistir com os partidos políticos para serem bastantes rigorosos na observância dos parâmetros legais, para não obrigar a polícia a ter que tomar atitudes que depois possam criar alguma mancha neste processo", adverte Nacute.
Partidos negam uso de crianças
Os partidos reconhecem que tem havido menores nas suas caravanas, mas para participarem na festa eleitoral, não para serem usados na propaganda.
Segundo Caifadine Manasse, porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), "as crianças vão de livre vontade".
"Não há nenhum partido político que precisa de ter crianças, pelo menos a FRELIMO, porque a campanha eleitoral é para pedir votos àqueles que votam e as crianças não votam", acrescenta. "Podem acompanhar [as caravanas] por ser um momento de festa e música. Nós não fazemos campanha com as crianças, elas aparecem no sítio onde nós estamos", esclarece.
Maria Carlota, membro da maior força da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), também assegura que o seu partido não usa crianças na campanha: "Nós não aceitamos crianças, sobretudo as menores de 18 anos que não tenham direito de voto, porque as crianças não sabem o que estão a fazer."
"Nós temos pessoas que acolhem as crianças e mandam voltar, para evitar que elas se percam", garante.
A polícia pede, entretanto, aos pais e encarregados de educação para impedirem as suas crianças de integrarem as caravanas dos partidos políticos.
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.