Deserções na Junta Militar podem fragilizar grupo de Nhongo?
25 de junho de 2020Há dias que se ouve de fontes não oficiais relatos de deserções na Junta Militar da RENAMO. Os dissidentes do maior partido da oposição, a RENAMO, estariam a regressar a velha casa, seduzidos pelos beneficios do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) que estão neste momento a ser atribuidos aos guerrilheiros do partido.
José Manteigas, porta-voz do partido, confirma: "Tenho a informação de que alguns, já há duas semanas, tinham se juntado a este processo [DDR]. Isso na zona da província de Sofala. Efetivamente acredito que é o tomar de consciência dos compatriotas. Então, esperamos que, de facto, o próprio Nhongo volte a si e perceba que é preciso tomar esse rumo."
A atitude dos homens liderados por Mariano Nhongo é um contrasenso, pois o que originou a dissidência da RENAMO foi, entre outras coisas, a contestação ao Acordo de Paz e Cessação das Hostilidades Militares assinado em 2019 entre o Governo e a RENAMO. E o DDR, que hoje é um atrativo para os homens da Junta, é parte do Acordo de Paz. O grupo, desde o seu surgimento, é bastante temido por atacar civis que circulam pela principal estrada do país na região centro.
As deserções podem fragilizar a Junta Militar? "A pretensão desta ação como tem defendido o presidente Ossufo Momade é de fazer uma desmobilização condigna e urbanizada não é tanto de fragilizar o sr. Nhongo. Este é um princípio que foi assumido a mesa das negociações, muito antes de o sr Nhongo enveredar pela violência", esclarece Manteigas.
Restabelecimento da confiança com o DDR?
Para o analista político Silvério Ronguana, o arranque do DDR foi um sinal verde para que se estabelecesse um mínimo de confiança por parte de alguns membros da Junta Militar para com a RENAMO.
"Se calhar o que estamos a assistir é que há uma maior consciência por parte de alguns membros da RENAMO de que o DDR seria uma realidade. Deviam estar a pensar que era um engodo e quando viram que era real alguns colegas estao a ser reintegrados e a voltar ao convivio familiar pode ser que tenham percebido que vale a pena aproveitar esta oportunidade", avalia o politólogo.
E Ronguana faz ainda uma segunda leitura: "Eu acredito que o que impede o fim da guerra é essa desconfiança. E também pode ser o reconhecimento de que, afinal, o presidente deles não lhes está a enganar."
Face às tentativas mal sucedidas de se alcançar um acordo com Mariano Nhongo para acabar com os ataques, o secretário-geral da ONU, António, Guterres enviou um emissário para encontrar uma solução. Mas depois de esforços, Mirko Manzoni disse que "Mariano Nhongo é inflexível e todas as aproximações com vista a um entendimento fracassaram".