Deserções na Junta Militar podem fragilizar grupo de Nhongo?
25 de junho de 2020![](https://static.dw.com/image/50082153_800.webp)
Há dias que se ouve de fontes não oficiais relatos de deserções na Junta Militar da RENAMO. Os dissidentes do maior partido da oposição, a RENAMO, estariam a regressar a velha casa, seduzidos pelos beneficios do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) que estão neste momento a ser atribuidos aos guerrilheiros do partido.
José Manteigas, porta-voz do partido, confirma: "Tenho a informação de que alguns, já há duas semanas, tinham se juntado a este processo [DDR]. Isso na zona da província de Sofala. Efetivamente acredito que é o tomar de consciência dos compatriotas. Então, esperamos que, de facto, o próprio Nhongo volte a si e perceba que é preciso tomar esse rumo."
A atitude dos homens liderados por Mariano Nhongo é um contrasenso, pois o que originou a dissidência da RENAMO foi, entre outras coisas, a contestação ao Acordo de Paz e Cessação das Hostilidades Militares assinado em 2019 entre o Governo e a RENAMO. E o DDR, que hoje é um atrativo para os homens da Junta, é parte do Acordo de Paz. O grupo, desde o seu surgimento, é bastante temido por atacar civis que circulam pela principal estrada do país na região centro.
As deserções podem fragilizar a Junta Militar? "A pretensão desta ação como tem defendido o presidente Ossufo Momade é de fazer uma desmobilização condigna e urbanizada não é tanto de fragilizar o sr. Nhongo. Este é um princípio que foi assumido a mesa das negociações, muito antes de o sr Nhongo enveredar pela violência", esclarece Manteigas.
Restabelecimento da confiança com o DDR?
Para o analista político Silvério Ronguana, o arranque do DDR foi um sinal verde para que se estabelecesse um mínimo de confiança por parte de alguns membros da Junta Militar para com a RENAMO.
"Se calhar o que estamos a assistir é que há uma maior consciência por parte de alguns membros da RENAMO de que o DDR seria uma realidade. Deviam estar a pensar que era um engodo e quando viram que era real alguns colegas estao a ser reintegrados e a voltar ao convivio familiar pode ser que tenham percebido que vale a pena aproveitar esta oportunidade", avalia o politólogo.
E Ronguana faz ainda uma segunda leitura: "Eu acredito que o que impede o fim da guerra é essa desconfiança. E também pode ser o reconhecimento de que, afinal, o presidente deles não lhes está a enganar."
Face às tentativas mal sucedidas de se alcançar um acordo com Mariano Nhongo para acabar com os ataques, o secretário-geral da ONU, António, Guterres enviou um emissário para encontrar uma solução. Mas depois de esforços, Mirko Manzoni disse que "Mariano Nhongo é inflexível e todas as aproximações com vista a um entendimento fracassaram".