Deslocados em fuga do distrito de Eráti "multiplicam-se"
Lusa
6 de setembro de 2022
Administrador do distrito de Eráti, na província moçambicana de Nampula, palco de ataque recente, diz que continuam a "multiplicar-se" as pessoas em fuga de Kútua, na margem sul do rio Lúrio, fronteira com Cabo Delgado.
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"O movimento de deslocados mantém-se. Está a multiplicar-se, estamos numa situação de crise", disse Manuel Manusso.
O administrador avançou que as pessoas procuram refúgio na vila sede do distrito, Namapa, onde são acolhidas por familiares, líderes locais e população em geral.
Aquele dirigente não especificou o número de pessoas que abandonaram Kútua, a aldeia visada, observando que as comunidades estão "perturbadas".
O administrador de Eráti observou que o distrito já acolhia deslocados de guerra obrigados a fugir da província de Cabo Delgado desde o início dos ataques armados em outubro de 2017.
"Nós temos vindo a receber esta onda de deslocados, porque alguns estão aqui há dois ou três anos", enfatizou Manuel Manusso.
Manusso adiantou que as Forças de Defesa e Segurança estão no terreno para tentar repor a segurança e permitir o regresso das populações.
A vida dos deslocados no centro de reassentamento de Nampula
02:26
Alastramento dos ataques
O porta-voz da polícia em Nampula, Zacarias Nacute, disse na segunda-feira à Lusa que o ataque a Eráti pode ter sido protagonizado pelos mesmos grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado.
"Há a possibilidade de ser um ataque terrorista protagonizado por esse grupo de indivíduos que estão na província de Cabo Delgado", afirmou Nacute.
Esta é a segunda vez que províncias vizinhas de Cabo Delgado são alvo de ataques semelhantes aos que ali têm acontecido - e onde também está por esclarecer quem protagoniza a violência.
Em dezembro de 2021, houve a mesma suspeita em relação a ataques em zonas da província do Niassa que fazem fronteira com Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado é aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas a sul, mais perto de Pemba, capital provincial.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED. Estima-se que metade da população afetada sejam crianças e jovens até aos 20 anos, reflexo da pirâmide etária do país.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
Foto: DW
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.