Moçambique: Deslocados rejeitam estabelecer-se no Niassa
Conceição Matende
3 de janeiro de 2023
Governantes da província do Niassa, no norte de Moçambique, estão preocupados com a situação de 4.234 deslocados. Cidadãos rejeitam estabelecer-se na província e querem voltar a Cabo Delgado, apesar da insegurança.
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Pelo menos 911 famílias refugiadas devido ao alastramento do terrorismo na vizinha província de Cabo Delgado rejeitam a ajuda governamental e social na província do Niassa, na esperança de ainda regressarem às suas zonas de origem.
Os deslocados receberam talhões para habitação e terrenos para a prática da agricultura que não estão a ser aproveitados.
Fryday Taibo, delegado do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), no Niassa, revela que essa situação se arrasta há dois anos. Segundo esta fonte, os deslocados são levados em viagens para a troca de experiências onde podem ver as condições em que outros deslocados se encontram. A ideia seria inspirá-los para que também eles se estabelecerem na região.
"Já levámos deslocados para Mecula para terem experiências do retorno das populações de Mecula que foram reconstruir as suas casas e voltámos para Malica e também não acontece nada. Levámos a Corane alguns deslocados para ver o tipo de construção", relata.
"Nós dissemos-lhes para cortar estacas, mas eles não querem cortar, porque querem que a gente traga as estacas", afirma.
Condições criadas
Dinis Vilanculo, secretário de Estado da província do Niassa, conta que há muito tempo que foram criadas as condições para que os deslocados tenham os seus espaços para a construção das suas habitações.
"Fizemos aqui um plano em 2020, mas eles negaram", começa por contar.
"Mesmo aqueles que estão em Marrupa, quando foi a vez de lhes indicar os campos, eles disseram 'não, daqui a nada nós regressaremos a Cabo Delgado", recorda o governante.
A governadora da província, Judite Massengele, diz-se preocupada com a situação dos deslocados e afirma que é necessário que os populares sejam sensibilizados porque, se a situação permanecer, o Governo não terá como prestar ajuda.
"Vai chegar a um ponto em que não vamos conseguir nem dar um quilo de arroz, nem dar uma tenda. A minha preocupação é essa. Eles dizem que vão sair, mas vão sair quando?", questiona.
"Se calhar, temos que fazer um trabalho de sensibilização porque não estou a ver até onde e quando vamos continuar a dar tendas", frisa a governante.
"Dormir nas tendas é dormir no chão", conclui.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.